segunda-feira, 27 de março de 2017

Brasil, a eterna máquina de moer gente.


Foto – O pato da FIESP esmagando o trabalhador brasileiro.
No dia 22 de março de 2017 o Projeto de Lei 4330, que facilita a terceirização e a subcontratação do trabalho, foi aprovado na calada da noite em plena Câmara dos Deputados com 231 fotos favoráveis, 188 contra e oito abstenções. Com a aprovação desse projeto, patrões poderão contratar seus funcionários sem garantias tais como férias, décimo-terceiro, licença-maternidade, abono salarial e outros direitos trabalhistas. É mais uma vez o Brasil mostrando sua eterna vocação de máquina de moer gente que remonta aos primórdios de sua história (e da qual até hoje nunca se livrou), como se fosse um grande engenho colonial movido por mão-de-obra escrava negra. Para a alegria dos representantes da Casa Grande e para o pesadelo da Senzala (onde a maioria esmagadora da população brasileira se encontra, incluindo a classe média que acha que é rica só porque tem dois carros e um apartamento ou casa em bairro nobre), a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), fruto de longos anos de lutas populares, foi rasgada na cara dura diante de todos nós. É a Casa Grande, sob o pretexto de “dinamizar as relações entre empregador e empregador”, exigindo todo o dinheiro investido em políticas sociais nesses anos todos de volta para seus bolsos e jogando sobre a Senzala o ônus da crise econômica que eles mesmos criaram e que vem flagelando o país há tempos. Ou seja, nós é que estamos pagando o pato deles, não eles. Getúlio Vargas, por seu turno, certamente está se virando de seu túmulo no presente momento, com Fernando Henrique Cardoso (que tanto falava que o Brasil deveria enterrar a Era Vargas) e Michel Temer o torturando.
Periodicamente, vemos representantes da classe dominante do nosso país soltar algumas pérolas que revela bem quem eles realmente: senhores de escravos modernos. O presidente da Confederação Brasileira da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, afirmou em entrevista realizada em julho do ano passado que as relações de trabalho deveriam ser flexibilizadas, que a jornada semanal de trabalho deveria ser aumentada de 44 para 80 horas e que o governo deveria tomar “medidas muito duras” na Previdência Social e nas leis trabalhistas para equilibrar as contas públicas (assunto sobre o qual abordamos no artigo “Recordar é viver, parte 2 – Revolução Industrial ontem e hoje”). Em 2014, o ex-presidente da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Benjamin Steinbruch, em entrevista ao Portal UOL se queixou do fato de que no Brasil o trabalhador desfruta de uma hora de almoço (algo por ele visto como desnecessário), citando o exemplo dos Estados Unidos onde supostamente o indivíduo com uma mão opera uma máquina e com outra come um sanduíche (sendo que, para começo de conversa, uma pessoa não consegue operar uma máquina normalmente e comer ao mesmo tempo).
É uma gente que, como Rui Pimenta Costa diz em um de seus vídeos, fala grosso com trabalhador, mas perante banqueiros e multinacionais são umas ovelhinhas bem mansas. Que não tem pudor algum em falar em veículos de mídia barbaridades como as citadas acima, mas que nunca ousam pedir para que se baixe a taxa de juros ou tomar qualquer outra medida para defender a atividade da indústria nacional (e que, portanto não merecem nosso respeito). E que certamente sonha poder submeter seus empregados a condições similares a que os operários ingleses do século XVIII e começo do século XIX eram submetidos. Ante esses exemplos, eu entendo o que o sociólogo e ex-presidente do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Jessé de Souza quer dizer quando afirma que o Brasil não é filho da colonização portuguesa, e sim da escravidão, pois segundo o sociólogo potiguar essa era a instituição que no período colonial englobava todas as outras e que moldou nossa forma de organização social desde então. Assim sendo, a escravidão deixou suas marcas na mentalidade da população brasileira, e declarações como as elencadas acima mostram que a escravidão, a despeito de ter sido formalmente abolida há 13 décadas, ainda continua viva nos corações e nas mentes dos representantes da classe dominante nacional, que como Darcy Ribeiro disse em entrevista concedida ao Programa Roda Viva em 1988 encara até hoje o povo mais humilde como carvão a ser queimado em uma fundição da forma mais descartável possível.

Foto – Jessé de Souza (foto ilustrativa).
Hoje a turma capitaneada pelos políticos venais do Congresso e do Senado e apoiada por organizações como a FIESP rasgam a CLT, que desde que foi promulgada durante a Era Vargas (1930 – 1945) tem sido a principal proteção dos trabalhadores brasileiros contra a superexploração da força de trabalho que rege o capitalismo dependente brasileiro (na medida em que define de forma pouco flexível os direitos e deveres trabalhistas e exige obediência tanto do lado dos empregados quanto dos empregadores, os quais ficam submetidos a um mecanismo que restringe os abusos em um país de passado colonial escravista até hoje não devidamente superado e que se manteve a despeito de alguns problemas como principal referência de defesa jurídica contra a exploração do trabalho). E depois, quem será a próxima bola da vez? Com certeza essa camarilha de políticos e empresários vai querer rasgar a Lei Áurea. E depois da lei sancionada pela princesa Isabel em 1888, a Lei Saraiva-Cotegipe (também conhecida como a Lei dos Sexagenários) e a Lei Eusébio de Queiroz, sancionadas em 1885 e 1850, respectivamente. Pelo visto, foi para fazer o Brasil voltar ao século XVIII que os coxinhas verde-amarelo inflaram pixulecos com Lula e Dilma vestidos de roupas de presidiário, fizeram tantas manifestações nas ruas pedindo a queda de Dilma, panelaços nos horários de programas eleitorais do Partido dos Trabalhadores e prestaram apoio ao capitão do mato de Maringá. No fim, não passaram de massa de manobra dessa malta de políticos e empresários. Malta essa que, ao contrário daqueles que agitaram bandeiras e panelas pela queda de Dilma e pelo impeachment não terá prejuízo algum com a terceirização, muito menos a casta de juízes e procuradores que do alto de seus salários nababescos e mordomias comandam o crescente processo de judicialização da política tupiniquim.

Foto – Escravidão ontem e hoje.
Os anos, séculos e ciclos econômicos da história brasileira vão e vem, mas há algo que até hoje permanece: o Brasil ainda é uma grande máquina de moer gente dos tempos coloniais. Máquina essa que historicamente se caracterizou ao longo da história por ter uma economia muito mais voltada para atender interesses econômicos internacionais que aos interesses de sua própria gente, e assim transformando seu povo em proletariado externo (parafraseando Darcy Ribeiro) dos países capitalistas centrais. Tudo em nome do processo de acumulação de capital nas mãos dos senhores de escravos (que muito lucram com tal situação) e da super-exploração da força de trabalho que rege o capitalismo dependente brasileiro. O fato é que o engenho açucareiro dos séculos XVI e XVII e sua organização até hoje ainda está vivo entre nós, mas com um verniz moderno (e que mantém sua essência reacionária e escravagista de sempre), e os últimos acontecimentos estão escancarando ao Brasil que classe dominante nós temos (cujos integrantes certamente quando estavam na faculdade em cursos como Administração de Empresas estudavam e aprendiam coisas tais como esfolar e vampirizar o povo mais humilde) e que até hoje seu passado colonial escravista não foi superado completamente. Segundo Jessé de Souza, isso decorre do fato de que até hoje não houve a devida crítica para com a herança escravagista, que teria sido ocultada por intelectuais como Sérgio Buarque de Holanda.

Foto – Aprovação da terceirização: quem paga o pato é você, plebeu.
Fontes:
A burguesia quer descarregar sua crise nas costas do trabalhador. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QjcRh2G7m6I
Celebração de obra mostra miséria de nosso debate, diz Jessé Souza. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2016/08/1799284-celebracao-de-obra-mostra-miseria-de-nosso-debate-diz-jesse-souza.shtml
Darcy Ribeiro, sobre a elite brasileira. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SX5O-IAyO38
FIESP rasgando a CLT – 15 minutos de almoço. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=l9WL6gT9vuA
Jessé de Souza: “a origem dos brasileiros é escravocrata, não de corruptos”. Disponível em: http://g1.globo.com/natureza/blog/nova-etica-social/post/jesse-souza-origem-dos-brasileiros-e-escravocrata-nao-de-corruptos.html
Nove motivos para você se preocupar com a nova lei da terceirização. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/nove-motivos-para-voce-se-preocupar-com-a-nova-lei-da-terceirizacao-2769.html
Pela jornada de 80 horas para quem vestiu camisa verde e amarela. Disponível em: http://www.blogdacidadania.com.br/2016/07/pela-jornada-de-80-horas-para-quem-vestiu-camiseta-amarela/
Porque a FIESP quer o impeachment? Será pelo bem dos trabalhadores? InfoDigit-PC TIMOL. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=nIuEAOI7_Sw
Terceirização revela a alma plutocrática e escravista da direita, quem paga o trabalhador. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UVeIf10QvNU


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