Por Lucas Novaes
Um fato que ocorreu nos últimos dias e que surpreendeu muitos incautos foi
uma capa da revista semanal VEJA publicada apenas no Rio de Janeiro que retrata
uma suposta prisão do político Marcelo Bezerra Crivella (que atualmente disputa
o cargo de prefeito do Rio de Janeiro no segundo turno, contra o PSOLista
Marcelo Freixo). A famigerada revista relata um antigo incidente (ocorrido em
1990), onde, de acordo com a versão da revista, Marcelo, acompanhado de homens
armados, teria expulso uma família de um terreno que pertencia a Igreja
Universal. Após o ato, ele teria sido levado a delegacia e passado o dia preso.
Logo após a repercussão da capa, o político carioca publicou um vídeo em página
no Facebook para dar a sua versão dos fatos. Crivella nega ter sido preso. O
objetivo deste texto não é o de discutir se o incidente ocorreu ou não, mas sim
o de discutir o que, para muitos de nós, já se mostrou óbvio: por que a VEJA está empenhada em eleger Marcelo Freixo
contrariando o “senso comum” que nos diz que a famosa revista representa o
reacionarismo político (constantemente rotulada como sendo conservadora) e o
político do PSOL representa a luta pelo progressismo e pelo socialismo?
Primeiramente, deve-se lembrar que essa não é a primeira vez em que a
revista de maior alcance no país (que é também parte de um conglomerado
midiático chamado Grupo Abril) tenta interferir nos resultados de alguma
eleição. Em 2014, na véspera do segundo turno da eleição presidencial ela, em
um esforço monumental para tirar o Partido dos Trabalhadores do poder, publicou
uma capa bombástica incriminando Lula e Dilma Rousseff (então candidata e que
viria a ser eleita para seu segundo mandato na presidência do Brasil) pelos
crimes de corrupção na Petrobrás conhecidos como “Petrolão”. A preferência da
revista por Aécio Neves (que viria a ser derrotado) é bastante fácil de
entender: o PT sempre possuiu características as quais o tornou odiado pela
VEJA: interesse na democratização da mídia, apoio por parte das camadas mais
populares da sociedade e a defesa de uma política externa menos submissa aos
interesses norte-americanos (interesses esses promovidos abertamente pelos
colunistas do site da publicação semanal da Abril).
Figura - Na foto, uma das capas mais vergonhosas já
produzidas pela nossa grande mídia.
Mas, você poderia indagar, o mesmo
ódio direcionado aos petistas não se aplicaria com a mesma intensidade ao
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)? A resposta é não. São dois partidos
muito diferentes. Primeiro, o PSOL é um partido minúsculo, com poucos políticos
eleitos e não representa ameaça alguma a grande imprensa. Além disso, o apoio
dado ao PSOL não é concentrado demograficamente nas camadas populares (classes
menos abastadas) e sim no público de classe média alta, progressista e
universitária, como já foi confirmado pelas últimas pesquisas do DATAFOLHA
antes do primeiro turno (não que seja necessário a pesquisa de um instituto
famoso para comprovar o óbvio). É valido lembrar também que o PSOL, de maneira
geral, junto com a grande imprensa, apoiou o Golpe (impeachment de Dilma
Rousseff) pois o mesmo ficou em “em cima do muro” até o último minuto e, quando
a realização do impeachment no congresso já se demonstrava um acontecimento
inevitável, resolveu dar os seus insignificantes 6 votos na contramão da
derrubada de Dilma Rousseff do poder. O recente apoio de Luciana Genro dado a
operação “Lava Jato”, logo após a prisão de Eduardo Cunha (prisão essa feita
para criar uma suposta visão de imparcialidade por parte da operação),
demonstra que estamos falando de um partido que não vê problema algum no fato
de que seus principais quadros sejam crentes na arbitrária justiça do estado
brasileiro. E isso para não falar de posturas similares no tocante à política
externa (haja vista, entre outras coisas, eles se posicionaram a favor da
derrubada de Kadaffi em 2011 e do golpe na Ucrânia no ano retrasado sob a
alegação de que se tratava de levantes populares contra regimes autoritários e
repressores).
Caso os fatos citados acima não sejam
suficientes para lhe convencer, vamos falar um pouco sobre o que a VEJA e Marcelo
Freixo tem em comum e que os diferencia de Crivella. Sabe-se que Crivella,
sendo bispo evangélico e cantor gospel, é um homem religioso de matriz
neopentecostal. É membro da Igreja Universal do Reino de Deus. A VEJA, por sua
vez, é dirigida por André Petry, um crítico da intromissão da Igreja no Estado.
Não só isso, a VEJA dá total apoio a pautas progressistas como os direitos
homossexuais e o direito ao aborto, mesmo que o faça de maneira mais discreta
do que a sua correlacionada “Brasil Post” (versão brasileira da famosa
Huffington Post). Ambas são patrocinadas pelo mesmo grupo (Grupo Abril).
Sendo assim, a VEJA pode apoiar o
candidato Marcelo Freixo sem medo. Ele dificilmente irá vencer, mas caso vença
não irá ameaçar o monopólio da imprensa e ainda poderá avançar algumas pautas
importantes defendidas pela mesma.
REFERÊNCIAS:
https://psolriodasostras.wordpress.com/2011/02/27/a-revolucao-chega-a-libia-fora-kadaffi/
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/eleicoes/2016/noticia/2016/10/revista-publica-fotos-que-seriam-da-prisao-de-crivella-ha-26-anos-ele-nega.html
http://eleicoes.uol.com.br/2016/noticias/2016/10/07/crivella-tem-votos-dos-pobres-crivela-os-dos-ricos-aponta-datafolha.htm
https://luizmuller.com/2014/03/01/psol-chama-golpe-neonazista-na-ucrania-de-revolucao-popular-alguem-se-surpreende/
http://www.revistaforum.com.br/2016/10/19/luciana-genro-comemora-prisao-de-cunha-e-da-vivas-a-lava-jato/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Andr%C3%A9_Petry
http://causaoperaria.org.br/sou-golpista-e-fecho-com-freixo/
E assim, concluímos que a Veja só é conservadora em termos políticos e não comunga com toda a agenda político-ideológica do gente como o Jair Bolsonaro e o Marco Feliciano.
ResponderExcluirSó lembremos, como bem tem pontuado o autor deste blog aqui (http://xr.pro.br/Ensaios/Feminismo_Neopentecostal.html) a IURD também é parte do "progressismo" moral e cultural, inclusive com o Bispo Macedo apoia o aborto.
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