quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Escola sem Partido - do que se trata? Parte 6


Foto – Logo do Escola sem Partido.
Na primeira parte da série de artigos a respeito do Escola sem Partido, falamos a respeito da ligação entre o crescimento do movimento proposto pelo advogado Miguel Nagib (que existe desde 2004) e a falência político-ideológica do petismo e a onda conservadora que o país vive  no presente momento (a ponto de ter hoje aquilo que muitos chamam de “O Congresso mais conservador desde 1964”). Na segunda parte, falamos sobre a questão econômica envolvida e a repercussão que os comentários de Leandro Karnal sobre o Escola sem Partido teve. Na terceira parte, falamos a respeito da questão do partidarismo da mídia de massa e do Projeto de Lei 5921/2001, de autoria de Luís Carlos Hauly (PSDB-PR), que gerou grande polêmica em 2014, quando a questão da publicidade infantil foi tema do ENEM daquele ano. Na quarta parte, falamos a respeito da questão do partidarismo dos tribunais e da Operação Lava Jato. Na quinta parte, falamos a respeito da questão daquilo que Nildo Ouriques e Waldir Rampinelli Júnior chamam de o sistema de produção mundial de conhecimento. E agora na sexta parte falaremos a respeito da questão do Estado moderno e da democracia.
Em um trecho do Manifesto do Partido Comunista (1848), Karl Marx (o mesmo Marx de que a direita raivosa brasileira em suas periódicas manifestações de rua vive dizendo que deveria ser menos ensinado nas escolas e universidades em detrimento de figuras como Ludwig von Mises – que por sua vez não tem a mesma importância nas ciências sociais que Marx tem) classificou o estado moderno como um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa, que por sua vez o mantem em uma espécie de relação parasitária com o intuito de manter seu controle sobre a sociedade.

Foto – O governo Temer e a atualidade do que Marx disse a respeito do caráter de classe do Estado moderno em o Manifesto do Partido Comunista.
Depois de Marx, outros também perceberam o mesmo caráter não apenas do Estado moderno como também da democracia burguesia moderna. Um deles foi o romeno Corneliu Zelea Codreanu, um dos líderes do movimento de Extrema Direita Guarda de Ferro (Garda de Fier em romeno) no período de 1927 a 1938, que em texto escrito em 1937 afirmou que a democracia, entre outras coisas, “destrói a unidade da nação romena”, “é incapaz de perseverança”, “evita a total responsabilização dos políticos com suas obrigações com a nação”, “não pode governar com autoridade” e, o mais importante de tudo para o tema do presente artigo, “a democracia serve aos grandes negócios”. Codreanu ainda aponta no mesmo texto que a democracia, por requerer amplos fundos para o sistema multipartidário, acaba se tornando uma “serviçal dos grandes financistas internacionais judaicos, que escravizam a democracia tornando-se seus pagadores. Desse modo, o destino de uma nação é colocado nas mãos de um grupo de banqueiros”.

Foto – Corneliu Zelea Codreanu (1899 – 1938) sobre a democracia dos dias de hoje. Crédito: Avante.
Mais recentemente, o escritor português José Saramago e o pensador francês Alain Soral também tocaram nesse assunto. Em discurso proferido em 2008, Saramago disse que a democracia é a única coisa que não se discute nos dias de hoje, que ela é como se fosse uma santa do altar, classificou a democracia atualmente vigente no Ocidente como “sequestrada”, “amputada” e “condicionada” e ainda disse que o poder do cidadão nesse sistema se limita a tirar um governo de que não gosta e em seu lugar colocar outro que talvez venha a gostar. Assim como o fato de quem decide as grandes decisões nesse sistema são organismos como o FMI, a OMC e bancos mundiais, os quais o escritor lusitano classificou como antidemocráticos. “E, portanto, como falar em democracia se aqueles que efetivamente governam o mundo não são eleitos democraticamente pelo povo? Quem é que escolhe os representantes dos países nessas organizações? Os respectivos povos? Não! Onde está então a democracia?”, assim o escritor lusitano e prêmio Nobel de literatura em 1998 concluiu sua fala no discurso em questão.
No vídeo “Porque a política não é a solução”, Alain Soral afirmou que “eu penso que aquilo que chamamos de democracia e que se chama no meu livro de ‘democracia de mercado e opinião’ e quando pensamos bem como é colocada, é o poder dos mais ricos”, um sistema onde o político não consegue fazer política de fato devido aos curtos prazos de que dispõe, já que no prazo de meia década terá que disputar uma eleição e dependendo de seu resultado deixar o cargo que ocupa. Em tal sistema, ainda segundo o pensador francês (o qual em algumas passagens do vídeo se diz antidemocrático), o que se vê é uma compra da opinião pelo mercado, com esta decidindo a eleição em favor do segundo.

Foto – José Saramago sobre a democracia dos dias de hoje.
Marx no século XIX, Codreanu no século XX, Saramago e Soral no século XXI. O que todos eles, cada um seu respectivo tempo, quiseram dizer com tais afirmações? Que o Estado moderno e o sistema democrático que o personifica nos ditos “países livres e democráticos”, tal qual a mídia de massa, os tribunais e o sistema de produção mundial de conhecimento que foram mencionados nos artigos anteriores dessa série, é uma instituição partidária em favor dos grandes capitalistas e seus interesses de classe. Em outras palavras, não é uma entidade abstrata que se encontra acima das classes sociais como muitos ingênuos pensam, e sim uma entidade que tem seu caráter classista.
Primeiro de tudo, uma consideração há de ser feita sobre que democracia se está falando e seu caráter. A democracia de que Codreanu, Saramago e Soral falam é a democracia do tipo representativa, onde a participação do cidadão no processo político se resume a votar em um candidato a determinado cargo em uma eleição a cada quatro ou cinco anos. E ai quando o dito cujo chega ao poder ele acaba realizando um governo muito mais voltado aos reais donos do poder que para as demandas de seus eleitores. Em outras palavras, uma democracia sem povo e sem substância. Ou segundo as palavras de Alain Soral, “A democracia representativa é antidemocrática”. E esse é o tipo de democracia que aqui no Brasil é defendida por figuras ideologicamente tão díspares como Jair Bolsonaro e seus filhos e José Serra. Não é uma democracia do tipo participativa, como a que havia na Líbia durante a era Kadaffi ou o que se tem na Venezuela bolivariana, onde a participação do povo nas decisões do processo político é muito maior.
Segundo Jessé de Souza em entrevista concedida ao site ocafezinho em 12 de abril de 2016, os grandes capitalistas são a verdadeira elite no mundo em que vivemos devido ao fato de que ela compra todas as demais (política, intelectual, mídia) com seu dinheiro para dizer o que quiserem. Em outras palavras, um aparelhamento do Estado não através de uma ocupação direta de cargos estratégicos, e sim o amarrando e o controlando através de seus tentáculos, como se fosse um polvo (onde será que ouvimos essa história de aparelhamento do Estado?). E ainda segundo o sociólogo potiguar na mesma entrevista, eles é que são os grandes interessados na demonização do mesmo Estado na medida em que o tendo sob seu controle podem se beneficiar de um modelo de caráter monopolista, oligopolista e muito caro em que eles são os grandes beneficiários. Tal demonização, que tem entre seus principais reprodutores liberais do tipo Kim Kataguiri e afins, acaba justificando perante a população o já citado papel do Estado enquanto balcão de negócios da burguesia e assim todo aquele estadista que resolver colocar rédeas curtas em suas atividades acaba sendo satanizado ante a população por toda essa estrutura que os grandes capitalistas possuem do seu lado. Tudo isso segundo a já mencionada lógica oriunda do pensamento de John Locke, que em seu livro “Dois Tratados sobre o Governo” definiu como despótico todo governo que atenta contra a propriedade privada, e dessa forma, a liberdade dos homens de negócio, os quais na condição de senhores proprietários e escolhidos por Deus tinham todo o direito de castigar da forma mais brutal possível seus opositores. Tal lógica, segundo o professor Ramez Maalouf, esteve presente nas duas invasões anglo-americanas ao Iraque (1991 e 2003), que derrubou o regime de Saddam Hussein e abriu o caminho para o surgimento de grupos como o Estado Islâmico através do vácuo de poder produzido pela deposição e posterior morte de Saddam Hussein.

Foto – “Democracia é o governo dos mais ricos” – Alain Soral. Crédito: Avante.
Com esse poder em mãos, os grandes capitalistas fazem do Estado uma espécie de balcão para administrar e levar adiante seus negócios particulares, de forma a fazer com que as políticas desse mesmo Estado lhes favoreçam (haja vista que no Brasil sob os governos Lula e Dilma ao mesmo tempo em que programas sociais como o Bolsa Família ajudaram a tirar milhões da linha da pobreza os banqueiros e outros rentistas ligados ao sistema da dívida tiveram ganhos bilionários). E isso mesmo o Brasil tendo passado 13 anos sob o governo do Partido dos Trabalhadores, um partido de corte popular e de massas. Portanto, independente de quem esteja ocupando a chefia de uma nação, quem detêm o poder de fato são os grandes capitalistas e não o fulano que foi eleito pelo voto das pessoas e ocupa a cadeira presidencial (o qual em realidade não passa de um gerente que administra o estado em favor de seus patrões e que por sua vez quando explode uma crise em que seu mandato é ameaçado é comumente feito de bode expiatório perante a população). Assim, governos de diferentes partidos entram e saem na chefia de uma nação, mas aqueles que mandam por trás das cortinas continuam os mesmos.
No caso específico brasileiro, existe aquilo que alguns (entre eles Nildo Ouriques) chamam de a República Rentista e que Jessé de Souza chama de a elite da rapina. Tal elite é composta entre suas fileiras pela fina flor do rentismo brasileiro (incluindo banqueiros, corretoras, latifundiários, multinacionais, grandes comerciantes, fundos de pensão e outros), os quais fazem fortuna assaltando continuamente o Estado brasileiro através do sistema de multiplicação de dívida e das altíssimas taxas de juros com que se pagam os serviços e as amortizações dessa mesma dívida (além de fazer lobby na política e na mídia para que tais taxas continuem em seus altíssimos patamares, assim como todo o possível para que não se avance um único milímetro na direção de uma auditoria dessa mesma dívida, que é uma exigência da Constituição de 1988). Todos eles organizados de acordo com o pacto de classes firmado em 1994 que deu origem ao Plano Real. Tal elite que, além de ser a verdadeira quadrilha-mor do país (a ponto de pagar quase nada de impostos e ter uma estrutura tributária que lhe favorece), historicamente sempre tratou o Estado brasileiro como seu balcão de negócios particular e sempre foi mancomunada com negócios internacionais. Darcy Ribeiro, em entrevista ao programa Roda Viva em 1988, classificou tal estamento social com adjetivos tais como azeda, ranzinza, medíocre, cobiçosa e como a responsável pela situação de subdesenvolvimento do Brasil em relação às Grandes Potências. E, para salvaguardar seu status quo privilegiado ante as reformas de base do presidente João Goulart, essa mesma elite não teve o menor pudor em recorrer aos militares em 1964.
Resumindo a ópera, percebe-se que no mundo em que vivemos o Estado não é um instrumento para levar o bem comum a toda a população, e sim o balcão de negócios da burguesia de que Marx falou ainda em 1848. E essa é a democracia (que em realidade não passa de uma plutocracia travestida) onde os grandes capitalistas são o poder por trás do trono que Letícia Sabatella disse que “é a nossa única chance de convivência saudável” em carta publicada no dia 12 de agosto de 2016 onde a atriz global repudiou o golpe de estado policial-judicial-midiático desse ano. E em defesa dessa mesma democracia e suas instituições que a presidente afastada Dilma Rousseff, em carta enviada ao Senado e ao povo brasileiro no dia 16 de agosto de 2016, disse que é o único caminho para combater a presente crise econômica e política, para a construção de um Pacto pela Unidade Nacional, Desenvolvimento e Justiça Social, que precisa ser fortalecida, que a defesa da democracia é o lado certo da história, que vai lutar com todos os instrumentos legais de que dispões para assegurá-la e que há de vencer.
Percebe-se que Dilma em momento algum questiona em suas falas na carta em questão o modelo de democracia vigente nos dias de hoje. E segundo que nessa defesa da democracia sem questionamento algum sobre sua estrutura vemos a ex-pedetista se igualar a figuras como Jair Bolsonaro (o mesmo Bolsonaro que dizia que nos idos de 2009 e 2010 que ela não podia ser eleita presidente por causa de seu passado como guerrilheira e que homenageou o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra na Câmara dos Deputados em seu voto favorável ao impeachment na Câmara dos Deputados). Ou seja, defendendo-se da ação de golpistas e daqueles que pedem intervenção militar se agarrando na defesa de um regime que em realidade é também uma ditadura, a ditadura do poder econômico, que diante de nós não se assume enquanto tal. Paradoxal, no mínimo. E o pior é vê-la entregar a carta a um órgão, o Senado, que é composto em grande parte gente como Ronaldo Caiado, Antônio Anastasia e Magno Malta, que querem sua cabeça a todo custo e que para atingir seus objetivos não tem o menor pudor em se valer dos mais baixos expedientes, tais como golpes de Estado, rasgar constituições, mentir, inventar histórias fantasiosas (como foi o caso das pedaladas fiscais, algo que Antônio Anastasia, que foi o relator da comissão de impeachment no Senado, fez a rodo quando foi governador de Minas Gerais) e instituir um estado de exceção tal qual foi feito em 1964.

Foto – A real estrutura de poder no mundo em que vivemos.
Fontes:
Alain Soral – por que a política não é a solução? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=euAhXduFbMs
Bolsonaro – Leitura do verdadeiro curriculum vitae de Dilma Rousseff. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=qxLWWjW3T_8
Corneliu Zelea Codreanu – Observações sobre a democracia. Disponível em: http://acaoavante.blogspot.com.br/2016/07/corneliu-zelea-codreanu-observacoes.html
Crise fiscal ou financeira? Disponível em: http://www.iela.ufsc.br/noticia/crise-fiscal-ou-financeira
Darcy Ribeiro, sobre a elite brasileira. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SX5O-IAyO38
Em três anos, Anastasia cometeu quase mil pedaladas no governo de Minas. Disponível em: http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2016/04/em-tres-anos-anastasia-cometeu-quase-mil-pedaladas-no-governo-de-minas-5882.html
Jessé de Souza: impeachment é mentira das elites para enganar pobres e classe média. Disponível em: http://www.ocafezinho.com/2016/04/13/jesse-de-souza-impeachment-e-mentira-das-elites-para-enganar-pobres-e-classe-media/
José Saramago – “onde está, então, a democracia?” Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=LbsV_rP6zY0
José Saramago sobre a democracia. Disponível em: http://almaacreana.blogspot.com.br/2013/07/jose-saramago-sobre-democracia.html
Nildo Ouriques – A República Rentista. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=mGw7IZLowQw
Nildo Ouriques – o assalto ao Estado. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=h28k0Rkurik
Nildo Ouriques – o pacto de classes feito no governo FHC. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=9KmUe3hp-II
Os sete mitos criados pela mídia ocidental que ajudaram a destruir o Iraque (2). Disponível em: http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=10102:submanchete021014&catid=80:ramez-philippe-maalouf&Itemid=203
Sabatella – democracia é nossa única chance de convivência saudável. Disponível em: http://www.brasil247.com/pt/247/cultura/249297/Sabatella-democracia-%C3%A9-nossa-%C3%BAnica-chance-de-conviv%C3%AAncia-saud%C3%A1vel.htm


domingo, 21 de agosto de 2016

Os titereiros do capital e as marionetes da esquerda.

Em 18 de Abril,1 logo após a aprovação do Impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, escrevi que o fato de quase nenhum deputado ter citado os supostos motivos técnicos do pedido de Impeachment mas terem vastamente feito referências aos ataques promovidos pelo PT contra os valores tradicionais familiares, religiosos, morais e éticos, deveria servir de lição para o que ainda resta da Esquerda original aprender que as pautas da Nova Esquerda devem ser abandonadas pelo bem de qualquer projeto de governo popular, trabalhista e nacional.
Semanas atrás a mesma coisa se repetiu no Senado. Discursos inflamados em defesa da família praticamente emudeceram os discursos técnicos, e fraquíssimos, sobre pedaladas fiscais, agora ainda mais debilitados após a temerosa "pedalada prévia"2 do governo interino ter superado colossalmente as pedaladas de Dilma, e Temer, que já superavam em muito as dos governos anteriores. Ainda mais vexaminoso foi ver os discursos em defesa do governo terem sido bastante bem fundamentados na crítica aos pressupostos do Impeachment, não tendo sido sequer confrontados pelos discursos da oposição, mas ao mesmo tempo não se ter visto uma única frase que tentasse ao menos apaziguar as verdadeiras motivações culturais e morais que de fato moveram a maior parte do "golpe" ao menos do ponto de vista popular.
O PT e seus aliados se tornaram totalmente insensíveis para a sensibilidade do povo, e o governo ainda coroou o abandono da Luta de Classes e dos ideias originários da Esquerda com a proposição do famigerado PL 257/2015, que serve como um golpe final no resto de Trabalhismo que o partido ainda tinha enquanto governo.
De certo isso irá se repetir quando os senadores se pronunciarem nova e definitivamente. As ingerências administrativas e econômicas do governo são apenas o pretexto, as motivações reais são outras, e é evidente que mesmo que a inocência de Dilma fosse cristalinamente provada com as mais retubantes e incontestáveis evidências, não faria qualquer diferença. Até por se tratar de ambiente político com seus francos interesses lobistas independente dos fatos, e não jurídico onde a imparcialidade e racionalidade tem que ser ao menos simuladas.
O partido que nasceu como uma defesa dos trabalhadores, assim que assumiu a presidência, acelerou o processo de abandono de seus ideais de Esquerda originais rumo ao ideais da Nova Esquerda, ativando um verdadeiro Hiper Drive no Governo Dilma. Saíram as lutas trabalhistas e ficaram as feministas, homossexualistas, racialistas, abortistas e até "droguistas"! Tudo isso, muitíssimo bem financiado por milhões de dólares de Fundações Internacionais controladas pelas oligarquias máximas norte americanas, esbanjando "progressismo" e seu aberto apoio a tudo menos o que verdadeiramente interesse à totalidade dos trabalhadores.
Não parece que a Lição será aprendida, como questionei em 6 de Maio de 2015 3 ao comentar o Caderno de Teses do PT. Legiões de esquerdistas nos mais diversos partidos, grupos de estudo e até mesmo sindicatos parecem continuar completamente ávidos a abraçar causas de gênero, sexualidade e outras na pauta trabalhista. E o simples apontamento de que tais pautas são claramente financiadas pelas suas nêmesis ultra capitalistas em pessoa parece ter pouco ou nenhum efeito na crença de são perfeitamente bem intencionadas e funcionais, em geral por pensarem que se trata de um mero "oportunismo" das elites financeiras em bancá-las, mas que, no âmago, elas permanecem perfeitamente sãs e compatíveis com a pauta dos trabalhadores apesar de todas as evidências ao contrário.
Cabe então explicar melhor o porquê dessa incompatibilidade extrema.
TRANVERSALIDADE
As pautas da Neoesquerda são essencialmente diferentes da pauta Trabalhista da Esquerda original, mesmo a dos socialistas e comunistas revolucionários que já eram um tanto mais abrangentes, visto que buscavam não apenas o interesse mais direto dos trabalhadores, mas a transformação radical de toda a sociedade. No entanto, essa transformação, por mais exagerada e ingênua que fosse, ainda tinha como objetivo primordial o pleno interesse e bem estar do trabalhador.
Mas as pautas da Nova Esquerda são transversais, atendendo o interesse de um segmento da sociedade que pode ou não ser trabalhador. A pauta feminista defende o interesse mesmo das mulheres de alta classe, rentistas e que jamais trabalharam na vida, e aliás foram justo as mulheres burguesas que movimentaram o Feminismo como o conhecemos hoje. Não tem a ver com ser trabalhadora, mas com ser mulher independente de ser trabalhadora ou não. Ela pode se voltar contra trabalhadores em favor de grandes empresárias, investidoras da bolsa, proprietárias de grande capital. Coisa que jamais, sob hipótese alguma, poderia ocorrer numa pauta trabalhista.
O mesmo ocorre com pautas de raça, sexualidade, pautas ambientais, que invariavelmente prendem trabalhadores que vivem da caça ou agricultura de subsistência. E ainda que tais casos possam ser mais raros e o mais comum seja a defesa da mulher trabalhadora, inclusive a trabalhadora do lar, ou do negro trabalhador, ou do homossexual que trabalha etc, isso ocorre por contingência. A maior parte das ações policiais contra crimes também vão em defesa de trabalhadores vítimas, nem que sejam de criminosos também trabalhadores. Mas ninguém diz que o combate aos assaltos, aos homicídios, ao tráfico de drogas etc, sejam pautas da Esquerda! Pelo contrário! São antes vistas mais como meios de repressão do que de justiça.
Então porque o racismo, os ginocídios, ou os crimes ambientais o seriam? Estes são crimes a serem combatidos pelo aparato estatal, judicial e policial, não por sindicatos e estudantes de esquerda!
O que nos leva ao segundo ponto.
INVERSÃO DE MENTALIDADE
Um dos conceitos mais cruciais das pautas trabalhistas é o da solidariedade de classe, que visa proteger o trabalhador dos abusos das classes dominantes e é em especial refratária a intervenção estatal, judicial e policial. Há uma mentalidade de severa desconfiança em relação a essas instituições que são consideradas como instrumentos de opressão a serviço do Capital, e com bons motivos, uma vez que é fato que os poderes financeiros tem imenso controle sobre o aparato estatal.
No entanto, essa mesma mentalidade, tão cara à Esquerda originária, é completamente invertida no momento em que entra uma pauta neoesquerdista, que imediatamente demanda a ação das mesmíssimas instituições consideradas como instrumentos da opressão capitalista. Delegacias da Mulher, do Meio Ambiente, Ministérios da Igualdade Racial, Secretaria de Políticas para Mulheres, Legislações e mais Legislações, órgãos do governo, ONGs bancadas com dinheiro do grande capital estrangeiro, e todo o aparato de repressão judicial e policial que quase sempre levará à punição e encarceramento de trabalhadores.
Ou seja, num único estalar de dedos toda a mentalidade estrutural esquerdista de coesão trabalhista é virada do avesso! E o hábito de fazer essa inversão regularamente não demora a enfraquecer a própria consciência de classe.
DIVISÃO DE CLASSE
Potencializada pela Inversão, as pautas neoesquerdistas promovem a divisão da classe trabalhadora, que de meros trabalhadores passam a se subdividir por raça, gênero, credo, preferência sexual e uma séria de outras posturas e mentalidades. A luta dos trabalhadores dá lugar à lutas das mulheres, e contra quem as mulheres poderiam lutar senão contra os homens? Da mesma forma que os trabalhadores lutam contra os proprietários do capital, que são seus diferentes, contra quem mais negros iriam lutar senão contra os brancos, quer sejam trabalhadores ou não?
O simples fato de todas essas pautas serem amplamente financiadas por grupos econômicos elitistas deveria ser evidência cristalina de que não são aliadas na luta dos trabalhadores, pelo fato de que geram divisão, e o simples fato de serem abraçadas inevitavelmente fará com que consumam tempo e recursos que deveriam estar indo para a Luta de Classes, e não para uma luta dentro da classe. E isso se torna ainda mais grave dado o fato seguinte.
PROGRESSO INVERTIDO
Uma das mais marcantes características das pautas neoesquerdistas, principalmente a Feminista, é que na exata e inversa medida da pauta esquerdista original, quanto mais "avanços" se consegue, mais elas se revestem de urgência e mais o discurso se torna radical e agressivo. Se num determinado contextos as condições de trabalho estão melhoradas, com bons salários e benefícios, a tendência é os trabalhadores arrefecerem e se acalmarem. Até mesmo se acomodarem. Mas nas pautas da neoesquerda ocorre o exato contrário.
O Feminismo é praticamente inexistente nos países de real opressão a mulheres, em geral os de predominância islâmica, mas nos países mais igualitários e liberais do mundo, o Feminismo é vastíssimo, ostensivo, extremamente atuante e muitíssimo mais agressivo. Suécia, Islândia, Austrália, Inglaterra etc, são justos os países onde feministas declaram em alto e bom som um intenso ódio contra o gênero masculino, a família, a sociedade, e onde mais proclamam que mulheres são oprimidas e vítimas de uma Patriarcado opressor.
A "Dívida Histórica"4, ao pior exemplo das taxas de juros abusivas do sistema bancário, cresce infinitamente se tornando cada vez mais impossível de "pagar" quanto mais é paga! Assim, a tendência é a pauta neoesquerdista, da qual a Feminista é inquestionavelmente a mais ampla, crescer mais e mais tomando cada vez mais tempo e recursos da Esquerda, ao passo que as pautas trabalhistas legítimas ficam periodicamente adormecidas e não demoram a ser paulatinamente abandonadas.
Não é por outro motivo que em todos os países onde governos de esquerda chegaram ao poder, à medida que foram implementando pautas neoesquerdistas de demanda crescente, foram abandonando a causa trabalhista ao ponto da reversão, e após aprovar toda a sorte de "progressismos", terminam passando a atacar e reverter os direitos trabalhistas mais básicos.
Aprendendo a Lição
Quem quer que ainda acredite na luta dos trabalhadores ou mesmo almeje uma revolução socialista tem obrigação de, no mínimo, ter conhecimento do onde provém as causas neoesquerdistas, e em especial o dinheiro que as financias. Organizações sustentadas pela nata do Capitalismo Global como Open Society Foundations, W.K.Kellog Foundation, Rockefeller Family Fund, Rockefeller Foundation, David Rockefeller Foudation, Ford Foundation, Bill & Melinda Gates Foundation, 5 para citar só algumas, não estariam investindo bilhões de dólares em causas da Nova Esquerda se achassem que essas contribuiriam para uma revolução que socializaria seus meios de produção.
Embora a pauta Feminista tenha tido sim algum papel na Esquerda original, o fez quando este realmente tinha algo a ver com Igualdade de Gêneros, algo que no nosso contexto atual somente uma absoluta ignorância no assunto permite ainda acreditar. Mesmo assim, nos processos revolucionários, este antigo feminismo legou apenas uma igualdade formal de Direitos E Deveres em alguns segmentos da sociedade. Na URSS, por exemplo, houve um inédito contingente de mulheres combatentes, desde infantaria atá aviação de caça. Mas as pautas Feministas da Neoesquerda passam longe disto, estando focadas sobretudo num combate cultural contra as tradições familiares e morais. Essa guerra cultural em parte também foi tentada nos primeiros anos da URSS 6 ou da Coréia do Norte, mas afora a flexibilização de alguns papéis mais tradicionais, foi rapidamente abandonada num prazo de menos de uma década, assim que se verificou o estrago que fazia em qualquer projeto de sociedade minimamente são, especialmente nas taxas reprodutivas e nos índices de violência e pobreza ocasionados pela dissolução familiar.
Exatamente tendo aprendido essa lição da história, aqueles que mais teriam a perder numa revolução socialista descobriram uma excelente forma de sabotar as pautas trabalhista e revolucionária,7  passando a estimular pautas que sabem serem deletérias a qualquer movimento que ponha em risco os seus privilégios.
Sua atuação é discreta e JAMAIS mencionada na grande mídia. Mas não é secreta, exigindo poucos minutos de pesquisa para ser conhecida. E mais e mais pessoas estão denunciado essa interferência na Esquerda, não devendo demorar muito para que nenhum esquerdista minimamente engajado possa alegar ignorância.
Daí, o mínimo que se pode esperar é uma análise crítica e um sério ceticismo com relação as intenções dessas instituições, caso contrário, estará configurada evidente aceitação da participação ativa justo daquilo que esquerdistas ao menos um dia juraram combater, e o abandono confesso de qualquer esperança revolucionária trabalhista, deixando-se comprar pelo liberalismo econômico a assumindo de vez seu papel de marionete nas mãos dos titereiros do poder financeiro global.
As plutocracias financistas aprenderam a lição que a realidade tinha a lhes ensinar. Passou da hora do que resta da Esquerda séria fazer a mesma coisa.

Marcus Valerio XR
20 de Agosto de 2016
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5. Links correspondentes:



sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A ingenuidade de Letícia Sabatella.




Foto – Letícia Sabatella.
Em 12 de agosto de 2016, Letícia Sabatella, a qual foi agredida por uma turba da direita raivosa na Praça Santos Andrade em Curitiba durante uma manifestação a favor do impeachment de Dilma que teve lugar no dia 31 de julho, publicou uma carta onde ela repudia o golpe judiciário-policial-midiático desse ano e faz toda uma defesa da democracia. Ao final da mesma carta, ela disse que “A democracia é nossa única chance de convivência saudável. Ninguém precisará ser impedido de caminhar na rua de sua casa, de conversar com um adversário de ideias, ninguém precisará mais sumir, ser exilado, preso, assassinado por seus posicionamentos, na história de nosso país, se a democracia for preservada”.
Em que mundo será que a atriz global vive para ter dito algo assim? As falas dela nos sugerem que ela não entende o país onde vive. Para começo de conversa, a atriz global não deixa claro que tipo de democracia ela defende: se é a democracia ocidental vigente nos dias de hoje (democracia essa que aqui no Brasil é defendida tanto por gente como Jair Bolsonaro e seus filhos quanto por gente como José Serra), que Alain Soral define como o “governo dos mais ricos” e onde a participação do povo se limita a votar em um candidato em eleições que acontecem a cada quatro ou cinco anos (e que quando o mesmo chega ao poder acaba governando muito mais para os reais donos do poder que para seu eleitorado) ou se é uma democracia participativa, como a que os finados Hugo Chávez e Muammar al-Kadaffi defendiam, onde o peso da decisão popular no exercício do poder de um país é muito maior?
As falas da atriz global também nos sugerem que ela ignora o fato de que vivemos em um país atravessado por um dos mais terríveis e ferozes conflitos de classe da face da Terra (se não o mais) entre o andar de cima e o andar de baixo da sociedade, que remonta desde os tempos coloniais. Tal conflito o PT escamoteou nesses anos todos através de sua política de conciliação de classes e agora está ressurgindo sob as mais diversas formas, tais como as manifestações de rua da direita raivosa a favor do impeachment de Dilma (incluindo aquela em que a atriz foi agredida), o Escola sem Partido (que é usado por muitos políticos conservadores como instrumento para fazer valer suas agendas político-ideológicas), a maneira extremamente seletiva como a equipe do juizeco provinciano Sérgio Moro tem agido desde o início das investigações da Operação Lava Jato, as vaias e xingamentos à presidente Dilma no jogo de abertura da Copa 2014, a crescente popularidade de figuras como Marco Feliciano, Jair Bolsonaro, Magno Malta e Marcel van Hattem e outros tantos. Fazendo uma analogia, tal conflito é como se fosse um vulcão que durante muitos anos esteve adormecido e que agora está expelindo lava, cinzas e fumaça para todo lado e em grande quantidade. Esse é o contexto de onde surge a onda conservadora que o país tem vivido nos últimos anos, e assim sendo tais manifestações não surgem do nada como muitos ingênuos pensam (onde ela certamente se enquadra).
No andar de cima, há uma elite dominante que historicamente sempre tratou o Estado brasileiro como seu balcão de negócios particular (a ponto de usar os endividamentos interno e externo do país como forma de assalto ao Estado), é e sempre foi mancomunada com negócios internacionais e que em 1964, ante as reformas de base do presidente João Goulart, não hesitou em se valer dos militares para a salvaguarda de seu status quo privilegiado. E que mesmo após o fim do regime civil-militar continuou sendo o poder por trás do trono da política nacional (ou seja, a redemocratização dos anos 1980 não passou de uma troca dos fantoches que estão à vista de nossos olhares). Agora que a política de conciliação de classes dos governos Lula e Dilma não mais interessa a essa elite (que foi classificada por Darcy Ribeiro em entrevista ao programa Roda Viva em 1988 com adjetivos tais como azeda, ranzinza, medíocre e cobiçosa e como a responsável pelo atraso do Brasil em relação às Grandes Potências), está se valendo dos juízes e promotores da Operação Lava Jato (vulgo República de Curitiba), tão ou mais reacionários quanto os militares que deram o golpe civil-militar de 1964, para tirar o PT do poder.
E não é só isso: a serviço dessa mesma classe e seus interesses também estão órgãos como a mídia de massa (incluindo a Rede Globo onde ela trabalha, a Bandeirantes, o SBT, a rádio CBN, a Revista Veja e jornalões como o Estado de São Paulo e a Folha) e os tribunais, os quais como a própria história mostra nunca tiveram simpatia alguma por governos de caráter mais popular. Haja vista o que foi feito com Getúlio Vargas em 1954, com Jango em 1964, com Brizola em seus dois mandatos como governador do estado do Rio de Janeiro e mais recentemente o que tem sido feito com Lula e Dilma desde que estourou o escândalo do mensalão em 2005 (e é essa mesma mídia que no tocante à corrupção passa a mão em partidos como o PSDB e ao mesmo tempo joga todas as pedras possíveis e imagináveis no PT, pois o tucanato, na condição de um partido de caráter elitista, é mais afinado com seus interesses de classe). Ou mesmo o já mencionado comportamento extremamente seletivo da Operação Lava Jato (e o pior de tudo é ver os partidários do Escola sem Partido acharem que só há direcionamento ideológico na pregação ideológica de um professor de esquerda que dá aula em escolas e universidades). Resumindo a ópera: o PT, em algum momento de sua história, renunciou a luta ideológica contra os elementos reacionários da sociedade brasileira e agora está tomando uma bela punhalada nas costas desses mesmos elementos com os quais colaborou nesses anos todos. Ou seja, está colhendo o que plantou.

Foto – Alain Soral sobre a democracia dos dias de hoje.
Um pouco mais abaixo da pirâmide social, temos a classe média. Diferente do que muitos podem pensar, não é a classe dominante, e sim a classe média (ao menos parte significativa dela) que realmente tem ojeriza em relação aos estamentos menos abastados da sociedade brasileira, que costuma classificar programas sociais como o Bolsa Família com adjetivos tais como esmola e fábrica de vagabundos e vaiou a Dilma na abertura da Copa 2014. Também é essa mesma classe que periodicamente vai às ruas vestida de verde e amarelo protestar contra a corrupção (e ainda usando camisa da seleção brasileira, que carrega o emblema da CBF [Confederação Brasileira de Futebol], uma entidade extremamente corrupta e que através de seus desmandos e péssima administração tem arruinado com o futebol brasileiro) e bradar mantras como “a minha bandeira jamais será vermelha” e “não à Cubanização do Brasil”, que pensa que a corrupção mostrada na grande mídia é o maior problema que aflige o Brasil (sendo que esse é o mais baixo nível do problema), tem como heróis figuras como o político Jair Bolsonaro (não raro por eles chamado de Bolsomito) e o juiz Sérgio Moro, vaia médicos cubanos em aeroportos e que faz panelaços nos horários de programa eleitoral do PT. Segundo Marilena Chauí, tal classe tem como grande sonho, além de poder desfrutar de um padrão de consumo from United States, se tornar parte da classe dominante (o que obviamente eles jamais serão) e como grande pesadelo se tornar proletária. Ideologicamente, ela é extremamente abobada e alienada, já que vive do senso comum que a grande mídia e seus sequazes (entre eles Raquel Sheherazade, Marco Antônio Villa, Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, Joice Hasselmann, Miriam Leitão, Arnaldo Jabor e outros tantos) destilam. Em outras palavras, tais elementos da classe média se comportam como se fossem o cão de guarda daqueles que estão na copa da árvore.
E mais abaixo estão os pobres, aqueles que os elementos mais reacionários da classe média gostam de taxar de burros, alienados, analfabetos e curral eleitoral do Partido dos Trabalhadores. Tal estamento social teve certa ascensão social nesses anos todos graças aos programas sociais dos governos Lula e Dilma, entre eles o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida (a tal ponto de o governo ter inventado o conto falso de uma nova classe média, assim como de ter feito alguns desses elementos da classe média acharem que “aeroporto virou rodoviária” e conversas afins). Entretanto, tais programas em momento algum mexeram com os privilégios da classe dominante, bem diferente das reformas de base de Jango. E esse é um dos motivos pelos quais durante os primeiros anos de governo petista não houve clima para um golpe como o que houve em 1964. E, além disso, a inclusão social promovida pelas gestões Lula e Dilma não foi pautada pela educação e o exercício da cidadania das massas, e sim pelo consumo (dai que nascem fenômenos como os rolezinhos em Shopping Centers – os quais de contestação ao sistema vigente nada tem, diga-se de passagem).
Segundo Jessé de Souza, a verdadeira origem do Brasil não está na corrupção existente em Portugal[1], e sim na escravidão. E o que o sociólogo potiguar quis dizer com isso? O Brasil passou quase 400 anos de sua história debaixo de escravidão legalizada e institucionalizada, e isso obviamente deixou suas marcas na mentalidade principalmente das elites dominantes (que, diga-se de passagem, é a verdadeira quadrilha-mor do Brasil), a ponto de tratar o povo como se fosse carvão a ser queimado em um forno da forma mais descartável possível. Já se passaram 127 anos desde que a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, e recentemente vimos o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Robson Braga de Andrade, propor aumentar a carga horária do trabalhador brasileiro de 44 para 80 horas semanais. Diga-se de passagem, o ataque que o governo Temer está promovendo aos direitos trabalhistas nada mais é que uma manifestação do pendor escravocrata da parte da classe dominante nacional, que em nome de seus lucros pode até jogar no lixo a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e a lei Áurea.
Entendam uma coisa: quando a nossa classe dominante está decidida a derrubar um governante que não é de seu agrado, ela irá fazer todo o possível para defender seu status quo privilegiado, nem que para isso tenha que usar militares, juízes, promotores, jornalistas ou o que mais tiver a seu dispor. E nem que para isso ela tenha que instituir um estado de exceção como o que foi feito em 1964, com direito a censura da imprensa, tortura, Operação Condor, prisões e perseguições de seus inimigos de classe. E não serão os apelos por democracia como os de Letícia Sabatella que irão impedir que um episódio como o que aconteceu no Brasil em 1º de abril de 1964 ou no Chile em 11 de setembro de 1973 se repita.

Foto – Jessé de Souza a respeito do conflito de classes inerente à sociedade brasileira.
Fontes:
As abominações da classe média – Marilena Chauí. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3MX5b3EfMAw
Darcy Ribeiro, sobre a elite. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SX5O-IAyO38
Coxinhas – quem são e o que pensam. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ytTcp6s8Zno
Jessé de Souza: impeachment é mentira das elites para enganar pobres e classe média. Disponível em: http://www.ocafezinho.com/2016/04/13/jesse-de-souza-impeachment-e-mentira-das-elites-para-enganar-pobres-e-classe-media/
Nildo Ouriques – os três níveis da corrupção. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xbgVmPeVn08
Para Jessé de Souza, classe média é sadomasoquista ao apoiar as elites. Disponível em: http://jornalggn.com.br/noticia/para-jesse-de-souza-classe-media-e-sadomasoquista-ao-apoiar-elites
Sabatella – democracia é nossa única chance de convivência saudável. Disponível em: http://www.brasil247.com/pt/247/cultura/249297/Sabatella-democracia-%C3%A9-nossa-%C3%BAnica-chance-de-conviv%C3%AAncia-saud%C3%A1vel.htm



[1] Segundo Jessé de Souza, tal mito se originou na sequência da derrota de São Paulo para Vargas em 1932 e o posterior intento da elite paulista em criar uma intelectualidade liberal que batesse de frente com o pensamento nacionalista varguista, e teve entre seus principais difusores figuras como Sérgio Buarque de Holanda. Objetiva, acima de tudo, demonizar o Estado quando ele é ocupado por seus inimigos de classe, assim como o desejo de em detrimento do Estado montar a ideia igualmente falaciosa de que o mercado reúne todas as virtudes enquanto que o Estado é o espaço das mazelas, de forma a justificar o Estado enquanto balcão de negócios particular do poder econômico (parafraseando Karl Marx) e assim demonizar toda e qualquer tentativa deste de colocar rédeas curtas nas atividades dos grandes capitalistas. Dai que nasce a falácia de que muitos propagam de que corrupção existe apenas no Estado (sendo que em realidade os grandes corruptores não estão no Estado e sim no setor privado).