sábado, 14 de maio de 2016

A queda do PT e a verdade sobre o marxismo cultural.



Figura 1 - Meme retirado da página "Meu professor de História" do Facebook.

Por Lucas Novaes.


Nesta última quinta-feira, dia 12 de maio de 2016, o Senado Federal Brasileiro aprovou, por 55 votos contra 22, a abertura do processo de afastamento da atual presidente Dilma Rousseff. As discussões feitas no plenário se desenrolaram tranquilamente. No Brasil, houve algumas mobilizações em favor do governo e contra o impeachment, mas nada muito significativo a ponto de tumultuar ou desestabilizar o país. O Brasil está, portanto, a caminho de um governo comandado por Michel Temer (atual vice-presidente) e pelos aliados do PMDB. Esse fato pode representar uma das guinadas à direita mais significativas na jovem história democrática do país (que, para muitos, encerrou-se nesta quinta).

De acordo com a narrativa aceita por muitas das ingênuas mentes brasileiras (especialmente aquelas que se informaram sobre o desenrolar dos fatos políticos da nação por meio de gurus da “intelectualidade” direitista dominante, tais como Olavo de Carvalho [vulgo Sidi Muhammad Ibrahim], Rodrigo Constantino, Luiz Felipe Pondé, Marco Antônio Villa, Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo, ou mesmo aquelas presentes no comportamento dos cidadãos de classe média que obtém informações por meio de revistas semanais como a Veja), o que está ocorrendo no Brasil não faz sentido algum. O petismo está sendo atacado severamente pelos mais diversos ângulos: por políticos influentes, por grande parte mídia monopolista (supostamente comprada pelo Partido dos Trabalhadores), por páginas de alcance enorme nas redes sociais e pelo poder financeiro (via FIESP). Dilma Rousseff está prestes a cair e Lula, apesar de sua enorme popularidade e influência, corre o risco de ser preso. Onde estão os supostos guerrilheiros cubanos disfarçados de médicos e que, de acordo com Jair Bolsonaro e tantos outros, entraram no país para se tornar o braço armado do PT? Onde estão os milhões de estudantes e cidadãos doutrinados pelo marxismo cultural desde os anos 1960? O que as FARC e os governos vizinhos da América Latina estão esperando para agir contra a derrubada de nosso governo? E o crime organizado e sua parceria com os petistas? 

Se todos esses fatores existissem e estivessem, de fato, trabalhando em favor do Partido dos Trabalhadores e dos socialistas brasileiros, os esforços da oposição (a qual recebe apoio praticamente unânime dos setores mais reacionários da nação: bancada evangélica, ruralista e da bala) não teriam resultado. Alguns, a exemplo do vlogger Nando Moura e do astrólogo Olavo de Carvalho, ainda proferem como fato a existência de uma fraude eleitoral criada com o objetivo de eleger Dilma nas eleições presidenciais de 2014. A indagação que se coloca é: por que uma conspiração a nível nacional feita para colocar os “socialistas” no poder conseguiu dar mais de 54 milhões de votos a uma candidata à presidência da república, mas se esqueceu de conquistar mais cargos de deputado para nomes vindos de partidos como o PCdoB, PDT e PSOL? Pelo contrário, o que aconteceu em 2014 foi a instauração do que seria chamado por alguns analistas políticos de “congresso mais conservador desde 1964”. Estaria essa conspiração eleitoral trabalhando para os dois lados? Sabemos que a narrativa propagada pelos conservadores não é, de forma alguma, racional. Então, deve-se explicar o porquê de as coisas estarem ocorrendo da forma que estão.

O QUE DIABOS É MARXISMO CULTURAL?

Marxismo Cultural é um termo utilizado por anticomunistas para se referir a uma conspiração global feita para destruir os “valores cristãos do ocidente” por meio de movimentos de minorias e causas politicamente corretas (feminismo, direitos LGBT, defesa do meio ambiente e até mesmo ativismo ateu/secular são depositados na conta dessa teoria conspiratória). A expressão ganhou ressonância na subcultura conservadora dos Estados Unidos a partir dos anos 1990 (especialmente entre os que acreditam que o socialismo como força geopolítica global ainda existe e quer destruir os EUA, sendo a secularização da sociedade norte-americana parte dela) e penetrou as discussões políticas brasileiras por meio dos vídeos e escritos de Olavo de Carvalho (que, não por acaso, mora nos EUA há mais de 10 anos).

Em realidade, essa narrativa tola não passa de uma ilusão ocidentalista cujo objetivo é responsabilizar países estrangeiros por características culturais e políticas do Ocidente moderno e liberal. O progressismo moral é uma característica moderna do Ocidente e que ocorre desde, pelo menos, o Iluminismo e o consequente enfraquecimento do poder das instituições religiosas, e é alavancado pelo liberalismo econômico cada vez mais globalizado (este sim, ao fazer da luta pela dignidade humana uma causa individual, acaba por destruir os laços familiares, costumes tradicionais e o amor ao próprio país e/ou cultura. Cada um passa a agir em benefício próprio e sem a necessidade de se preocupar com os outros). Sob a lógica liberal, quanto mais livre (economicamente) e tolerante (moralmente) um país (ou cultura) for, mais ele deve ser prestigiado e visto como “modelo para o resto do mundo”. Esse ponto de vista só tem a beneficiar os países ocidentais e seus maiores aliados. Os governos (a exemplo dos da Rússia, Síria, Coreia do Norte, do Irão e de Cuba) que buscam um caminho econômico independente e estatista, assim como aqueles que buscam frear o consumismo liberal e a libertinagem social são considerados “retrógrados” e sofrem duras sanções, isso quando não derrubados por meio de algum golpe (que não raro recebem o elegante nome de “revolução colorida”). 

Quanto à realidade dos fatos em questão, Olavo de Carvalho a refuta dizendo que a União Soviética promoveu o “marxismo cultural” nos países inimigos para que pudesse destruir as bases morais e enfraquecer os mesmos. Tal afirmação não faz sentido. Apesar de suas crises econômicas de tempos em tempos, os Estados Unidos da América nunca foram tão dominantes cultural e militarmente quanto são hoje. Além disso, em 2008, os americanos elegeram seu primeiro representante nacional de origem africana (Barack Obama, que para muitos também é parte da conspiração Gramsciana), mas, ao contrário do que muitos imaginavam, a arrogância estadunidense contra o resto do mundo em nada mudou. Em 2016, Hillary Clinton poderá se tornar a primeira mulher na presidência do país, mas não há nenhum sinal de mudanças na dinâmica do imperialismo considerando que a democrata recebe apoio de grandes corporações da mesma forma que qualquer republicano neoconservador. Pelo contrário, devido ao fato de Obama ser negro e de Hillary ser mulher, acabam por receber críticas muito mais amenas que seus compatriotas Bill Clinton e Bush. 

O discurso “marxista cultural” (leia-se “da esquerda pós-moderna”) de empoderamento de minorias, na contramão das pregações de Olavo de Carvalho, serve para legitimar as atrocidades capitalistas e primeiro mundistas proferidas por políticos quando estes não são “homens brancos”. O discurso pós-moderno da esquerda de revolucionário nada tem e não possui capacidade para reordenar a distribuição de poder geopolítico no globo terrestre. Ironicamente, se há de existir uma esquerda pós-moderna irracional e individualista, também deve haver sua cara metade: uma direita pós-moderna. E é justamente esse o caso do nosso guru Olavo e seus seguidores. A nova esquerda brasileira se diz socialista e vê machismo e homofobia em todos os lugares ao mesmo tempo em que exalta um modo de vida muito presente nas produções cinematográficas hollywoodianas: pautado no consumo e na vontade pessoal livre de qualquer coerção coletiva (contradição). A “nova direita”, por sua vez, vê degeneração moral e doutrinação esquerdista em todos os lugares ao mesmo tempo em que apoia os responsáveis pelo seu financiamento (governos dos EUA, Europa e grandes bancos contra a intervenção estatal).

QUAL O VIÉS IDEOLÓGICO DA EDUCAÇÃO E MÍDIAS BRASILEIRAS?


Figura 2 - Outro meme mostrando de forma humorada a imbecilidade de muitos.

É bastante questionável a existência de uma “doutrinação de esquerda” no material escolar brasileiro. Por experiência pessoal, já tive acesso a dezenas de livros de circulação nacional destinadas ao ensino médio e nunca encontrei uma página elogiando a postura de países como a Coréia do Norte e o Irã. O máximo que se pode encontrar são críticas rasas direcionadas aos desfeitos dos EUA no Oriente Médio e, mesmo assim, isso corre na minoria dos casos. Não é nada que não se reproduza na própria mídia estabilishment americana. Em alguns livros (minoria), exalta-se alguns pontos positivos do Socialismo de forma bastante passageira. Muitos desses livros fazem críticas contra as desigualdades sociais sem propor um regime alternativo ao vigente. Isso não é Socialismo. Pode ocorrer no próprio sistema capitalista com o objetivo de evitar uma alienação maior dos trabalhadores que desencadeie um processo revolucionário. Se existe uma doutrinação socialista/esquerdista nas escolas com a ajuda de professores, ela não está dando certo. O que muitos livros educacionais brasileiros ensinam é uma posição favorável ao desenvolvimento sustentável, em favor da tolerância e diversidade e contra as desigualdades sociais. Isso não é, nem de longe, o suficiente para despertar um desejo de tomada do poder que não seja por vias democráticas. É exatamente por isso que, se existe um viés ideológico no ensino brasileiro, esse viés é pacifista e não socialista.

Os acontecimentos políticos recentes no Brasil são prova impecável e efeito desse pacifismo politicamente correto. Não existe plano de tomada do poder pela força ou pela vontade popular e nem políticas radicais vindas dos petistas na contramão do chamado “golpe contra a democracia”. Ademais, os militantes petistas são a favor do modelo democrático liberal da atualidade e o defende com unhas e dentes, citando inclusive opiniões favoráveis de setores midiáticos internacionais de países como os EUA e Reino Unido para validar seus pontos de vista. O desfecho inevitável dessa posição débil se mostra quando percebemos que o partido com maior apoio popular do país desenvolveu uma militância que, em sua parte mais significativa, pouco se importa com seu próprio partido. Estamos falando de uma militância que vive para seus interesses egoístas e mesquinhos. Militância essa que está preocupada ou com o dinheiro e cargos importantes ou procurando financiamento para promover pautas progressistas como o casamento homossexual e a legalização das drogas. Sendo que essas causas seriam propagadas no Brasil com ou sem o apoio partidário dos petistas, pois são causas “globais” empurradas nos países mais fracos e menos autônomos do Terceiro Mundo pelos países poderosos e pelas grandes corporações.

Figura 3 - A "fúria" petista. Créditos: Vini Oliveira.

Percebemos, então, que a narrativa das direitas e esquerdas pós-modernas estão vigorosamente desassociadas da realidade na medida em que priorizam a política interna em detrimento da geopolítica mundial.

REFERÊNCIAS:
http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2016/05/12/senado-aprova-processo-de-impeachment-e-afasta-dilma-por-ate-180-dias.htm
https://www.facebook.com/361291767338033/photos/a.361349177332292.1073741828.361291767338033/813238618810010/?type=3&theater
https://www.facebook.com/vinioliveiracharges/photos/a.655071651263622.1073741828.654489914655129/836485466455572/?type=3&theater

Nenhum comentário:

Postar um comentário