segunda-feira, 4 de abril de 2016

A escalada de Jean Wyllys e a dicotomia pós-moderna.


Figura 1 – Na foto, um dos políticos brasileiros mais populares no Facebook e que recentemente ganhou apoio de diversos artistas famosos

Por Lucas Novaes

Jean Wyllys é um exemplo de figura política que se tornou caricatural pela sua repetida representação negativa por parte de adversários. Moralmente, parece não haver nada de errado com tal ação: pessoas com ideias e modos de agir estúpidos devem ser ridicularizadas. Entretanto, o que acabou acontecendo com o político mencionado foi o aumento enorme na popularidade e poder de ganhar votos gerados pela excessiva exposição do mesmo nos grandes meios de comunicação e redes sociais.

Nas eleições gerais de 2010, o ex-BBB conquistou míseros 13.018 votos em sua corrida para a câmara de deputados, o que representou apenas 0,16% do total de votos válidos no estado fluminense, mas foi suficiente para sua eleição graças as regras de coeficiente eleitoral. Isso mostra que Wyllys era um político impopular que recebia a quantidade de atenção da mídia que merecia: quase nenhuma. Sendo assim, qual a razão para a elevação significativa do poder eleitoreiro do deputado?

COMO E QUANDO TUDO COMEÇOU

Em 2010, a partir do final daquelas eleições gerais, iniciava-se um processo no cenário nacional que contribuiu para a ascensão do discurso liberal no Brasil bem como o aumento da força de suas pautas. O motivo para tal processo de transição nas discussões político-partidárias ter começado tão tarde (em relação ao resto do Primerio Mundo) não é tão claro. Acredito que a partir de 2010, com a influência cultural norte-americana em território tupiniquim completamente consolidada por meio do intercâmbio de ideias, da força da língua inglesa imposta pelo mercado de trabalho e pela cultura de consumo promovida pelo governo, os ingredientes-chave para a eventual “americanização” estavam disponíveis e preparados para serem usados.

Ainda em 2010, o deputado federal pelo Rio de Janeiro Jair Bolsonaro (eleito com uma quantidade grande, porém não preocupante de votos: 120.646) se envolveu em uma briga política com ativistas de Direitos Humanos ao repudiar material com conteúdo sobre diversidade sexual que seria distribuído ao público infanto-juvenil. A repercussão desse conflito acabou gerando uma atenção maior para o enfrentamento entre políticos conservadores e ativistas LGBT. Essa briga se estendeu por anos, envolvendo figuras religiosas como o pastor Silas Malafaia confrontando Jean Wyllys por causa de um projeto que legalizava a existência de tratamento para homossexuais (a chamada “Cura-Gay”).

Em 2011, Bolsonaro se envolveu em uma polêmica no programa Custe o Que Custar (CQC) ao dizer que seu filho “não namoraria uma negra pois foi muito bem-educado” em resposta à pergunta da atriz e cantora Preta Gil. O deputado se defendeu da alcunha de “racista” afirmando que sua resposta se referia ao relacionamento do filho com homossexuais e não com mulheres afrodescendentes. Mal interpretado ou não, o deputado fluminense acabou ganhando uma exposição espalhafatosa na mídia, tendo sua fama aumentada.

De polêmica em polêmica, Bolsonaro, com seu discurso anticomunista e moralmente conservador, acabou aglutinando uma parcela de seguidores com visões políticas de oposição ao governo de centro-esquerda do Partido dos Trabalhadores, marcado pela maior redistribuição de renda e geopolítica multilateral (ou seja, alinhada tanto com os países ocidentais como com seus maiores concorrentes econômicos). Porém, essa oposição não se encontra alinhada ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e sim com setores tidos como extrema-direita para nosso espectro político. A horda bolsonarista e sua histeria antissocialista está muito mais próxima (em termos ideológicos) do Partido Republicano nos Estados Unidos.

Uma das causas da ascensão de Bolsonaro é o aumento da influência de Olavo de Carvalho (que vive nos EUA a mais de 10 anos) entre os jovens brasileiros da classe média. Olavo, com seus livros e artigos, forneceu as bases “intelectuais” para a criação de uma nova subcultura direitista totalmente alinhada com os discursos conspiratórios da direita americana, beneficiando Jair Bolsonaro.

O crescimento da direita liberal proporcionou o terreno fértil para o crescimento da esquerda liberal (e vice-versa); terreno do qual Jean Wyllys se aproveitou inteligentemente para formar seu contraponto em favor das “liberdades individuais” e que, após o reconhecimento legal do casamento civil igualitário, reconhece o país mais sanguinário de todos os tempos (Estados Unidos) como uma nação que cada vez menos reprime os direitos dos indivíduos (só se for de seus próprios cidadãos, pois os estadunidenses financiam grupos terroristas e ONGs estrangeiras para tumultuar países não alinhados).

Percebe-se, portanto, que a americanização da política brasileira ganhou força a partir de 2010 e se manifesta por meio de fenômenos políticos e culturais distintos: no lado direito, temos o ódio irracional ao comunismo sendo propagado com grande intensidade, o “olavismo cultural” ludibriando a mente de milhares de jovens e o endeusamento de um deputado despreparado com pensamentos insanos (Jair Bolsonaro). No lado oposto, percebemos a esquerda universitária e jovem cada vez mais distanciada do trabalhismo e das questões sobre a soberania nacional e adotando discursos cosmopolitas liberais em defesa de causas individualistas (“meu corpo minhas regras”, “apropriação cultural”), causas essas que vem acompanhadas de diversos termos linguísticos derivados da realidade estadunidense. Temos então o surgimento de anomalias culturais, tais como uma direita “patriota” que odeia o próprio país e “conservadora” que deseja transformar as leis do Brasil em leis similares aos dos Estados Unidos, assim como uma esquerda desassociada da identidade nacional, que prega a independência dos trabalhadores ao mesmo tempo em que os aliena com discursos antipopulares sobre a moral, além de não apoiar os principais governos anti-imperialistas do mundo sob a desculpa de que esses são ditatoriais.  


Figura 2 - A foto da Casa Branca colorida (destacada no perfil de Jean Wyllys e outros políticos “socialistas”) demonstra a mentalidade colonizada de boa parte da esquerda brasileira

A influência cada vez maior do liberalismo no seio da direita e da esquerda brasileiras é ruim não somente pelo fato de limitar a discussão político-partidária em nossa pátria, enfraquecendo as ideias relacionadas ao trabalhismo e à independência da nação perante aos interesses estrangeiros, mas também por realizar uma assimilação entre os interesses políticos dos brasileiros com os interesses do Imperialismo e do capital financeiro. 


Figura 3 - A geopolítica é o denominador comum entre Wyllys e Bolsonaro: ambos apoiadores de Israel e das revoluções forjadas pelo imperialismo no Terceiro Mundo.

O resultado desse processo se mostra em números: nas eleições gerais de 2014, Jair Bolsonaro e Jean Wyllys passaram de políticos desconhecidos a detentores de enorme repercussão na grande mídia, conquistando 464.572 e 144.770 votos, respectivamente. Muitos os veem como inimigos mortais, mas a realidade é que ambos se complementam perfeitamente dentro da dicotomia liberal (a direita liberal na economia e moralista nos costumes contra a esquerda cosmopolita e defensora dos direitos humanos. Ambas alinhadas com os interesses geopolíticos dos Estados Unidos da América).


Figura 4 - Jair Bolsonaro e Jean Wyllys: duas aberrações políticas modernas.


REFERÊNCIAS:


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