sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

A fala de Lula, a indústria do Holocausto e Hitler enquanto o grande boi de piranha da história

 

Foto – Luís Ignácio Lula da Silva.

Durante encontro da União Africana ocorrido na Etiópia em 18 do presente mês, Lula proferiu uma fala que gerou grande polêmica, a ponto de gerar um incidente diplomático entre Brasil e Israel: ele comparou a atual situação que os palestinos vivem na Faixa de Gaza com o que os nazistas fizeram com os judeus no período entre 1933 a 1945.

A fala de Lula gerou polêmica tal que o político pernambucano foi declarado “persona non grata” em Israel. E, como não poderia deixar de ser políticos direitistas e pastores neopentecostais, adeptos do sionismo cristão, tais como Marco Feliciano, Silas Malafaia, Marcel van Hattem, Zé Trovão, Nikolas Ferreira e tantos outros, saíram em suas redes em defesa do Estado de Israel. 



A coisa chegou a tal que no presente momento até falam em entrar com pedido de impeachment do petista.

Foto – Norman Gary Filkenstein.

Mas, por que será que a fala de Lula gerou tamanha polêmica, a ponto de gerar um incidente diplomático entre Brasil e Israel e de até falarem em impeachment contra o Presidente? Em minha humilde opinião, isso se deve pelo fato de que Lula, de forma despretensiosa e como se não quisesse nada, ao fazer tal comparação tocou na ferida de Israel: o Holocausto e o que Israel vem fazendo com o mesmo desde sua fundação, em 1948. Em outras, trata-se daquilo que Norman Gary Filkenstein, judeu sobrevivente dos campos de concentração nazistas, chama de “A indústria do Holocausto”.

Pode-se dizer que para Israel o Holocausto é o que o Holodomor é para a Ucrânia atual. Pois da mesma forma que a Ucrânia, desde a Revolução Laranja de 2004, vem utilizando o famigerado Holodomor, ocorrido entre 1932 e 1933, para justificar o estabelecimento de um estado etnicamente unitário em uma nação etnicamente diversa, a reabilitação de figuras antes execradas tanto sob a Rússia Imperial quanto sob a União Soviética (incluindo os colaboradores ucranianos dos nazistas na Segunda Guerra Mundial), afastamento em relação à Rússia e aproximação em relação à Europa na área da política externa e em última instância a guerra que o Estado Ucraniano vem movendo desde 2014 e o massacre das populações russas do sul e do leste do país (para depois estas áreas serem repovoadas por colonos vindos do norte e do oeste da Ucrânia), Israel usa-se do Holocausto de forma análoga para justificar o projeto sionista no Oriente Médio.

Projeto esse que, entre outras coisas, inclui as várias guerras internas e externas que Israel vem movendo desde sua fundação, a conquista de territórios como a Cisjordânia e a Faixa de Gaza e o estabelecimento de colonos judeus em áreas até então povoadas por árabes palestinos. Inclui também a discriminação intra-judaica existente em Israel, dos judeus de origem europeia sobre os judeus de outras procedências étnicas, incluindo judeus originários do mundo árabe e da Etiópia.

Pois bem. Eu fico imaginando com os meus botões o seguinte: se Lula tivesse, no lugar do Holocausto nazista, comparado a atual situação que os palestinos da Faixa de Gaza vivenciam com, por exemplo, a fome das batatas na Irlanda nos anos 1840, as fomes que flagelaram a Índia durante o período colonial britânico (incluindo a fome de Bengala em 1943 – ou seja, contemporânea do holocausto nazista), os massacres que a França perpetrou na Argélia no período entre 1830 a 1962, os massacres feitos pela Bélgica no Congo no tempo em que este foi propriedade particular do rei Leopoldo II (cuja dinastia até hoje reina na Bélgica, diga-se de passagem) ou o que os Estados Unidos fez na conquista do Oeste no século XIX ou o que vêm fazendo no Iraque desde 1991, ou o que vem sendo feito na Líbia desde 2011 pelas grandes potências imperialistas, não teria tido toda a repercussão que teve. A fala de Lula passaria batida e ninguém daria importância alguma à mesma. Algo anedótico e sem importância alguma.

Alguns perguntar-me-ão – por que nesse momento citar massacres coloniais anteriores a Hitler? Primeiro que muitos daqueles que repudiaram a fala de Lula disseram que nada na história da humanidade se compara com o que ocorreu aos judeus no Holocausto nazista. E segundo que Hitler e o ideário nazista não surgiram do nada, e muito menos os desígnios imperiais dele.

Em lugares como o Pantanal e a Amazônia, para atravessar um rio cheio de piranhas, os boiadeiros locais se utilizam do seguinte expediente: pegam um boi velho e/ou doente, o abatem e, este, sangrando, é entregue para ser devorado pelas piranhas, enquanto que o resto da boiada atravessa o rio, incólume. E com Hitler ocorre algo parecido, para não dizer análogo, como veremos. Não à toa, o cineasta norte-americano Oliver Stone em 2010 disse que Hitler foi um “bode expiatório fácil” ao longo da história. E não há como discordar dele nesse ponto.

É sabido que Hitler e os nazistas, em seus desígnios e ambições imperiais de fazer da Europa Oriental o “Lebensraum” germânico, buscaram inspiração no que o Império Britânico e os Estados Unidos já vinham a muito fazendo em locais como a Índia, a África, a Austrália e o Oeste Americano. Eles queriam fazer nas terras a leste dos Montes Cárpatos e ao norte do Mar Negro (ou seja, na então União Soviética) a mesma coisa que a Inglaterra fez na Índia e os Estados Unidos fizeram no Oeste Americano. Como ressalta Egor Jakovlev em sua obra “Vojna na uničtoženie: tretij rejkh i genocid sovetskogo naroda (война на уничтожение: третий рейх и геноцид советского народа, sem tradução para o português)”, Hitler, ao lançar a Operação Barbarossa, almejava promover uma verdadeira guerra de extermínio físico sobre os povos da União Soviética a partir de 1941 se espelhando naquilo que os EUA fizeram no Oeste Americano e a Inglaterra na Austrália. Guerra essa que ele não levou adiante sozinho: assim como Napoleão em 1812, Hitler mobilizou tropas de toda a Europa para invadir a União Soviética (que antes mesmo do início na guerra da Europa travou escaramuças fronteiriças com o Japão, nas quais se saiu vencedora) junto com países como Hungria, Itália, Finlândia, Eslováquia, Romênia e Croácia, além de batalhões compostos por efetivos das várias áreas sob o domínio nazista, incluindo Noruega, França, Dinamarca, Bélgica e Holanda. E a própria propaganda nazista comumente apresentava a invasão alemã à União Soviética como o levante da Europa unida contra o “bolchevismo judaico”, como pode ser visto em vários cartazes da época.

Foto – Cartazes de propaganda nazista de recrutamento para a guerra no Front Oriental. E detalhe: cartazes escritos em francês e holandês.

Como vemos a propaganda nazista sobre a Operação Barbarossa até evoca as cruzadas. Talvez, não foi à toa que durante o curso da invasão nazista a propaganda soviética muito evocou a figura de Aleksandr Nevskij, príncipe da República de Novgorod do século XIII que se opôs aos avanços dos cruzados do norte sobre as terras russas (lembrando que nem todas as cruzadas foram contra os poderes islâmicos no Levante) e saiu-se vitorioso sobre os suecos na batalha do rio Neva em 1240 e os cavaleiros teutônicos na batalha do lago Čudskoe em 1242. Um filme a respeito dele até foi feito em 1938 sob a direção de Sergej Einsenstein e trilha sonora de Serej Prokofiev.

Foto – “Golpeamos, golpeamos e vamos golpear!” – Pôster soviético de 1942 fazendo alusão à vitória de Aleksandr Nevskij sobre os cavaleiros germânicos na batalha do lago Čudskoe.

Durante a Operação Barbarossa, cabe aqui mencionar o episódio do cerco a São Petersburgo (então Leningrado), que se arrastou por 872 dias: de oito de setembro de 1941 a 27 de janeiro de 1944. A situação em Leningrado chegou a tal ponto que casos canibalismo foram observados, e as consequências de tal operação até hoje afetam a população da antiga capital russa. Além disso, também remonta ao cerco a Leningrado o sumiço da câmara de âmbar, obra no estilo barroco do século XVIII que por conta de sua beleza e esplendor foi considerada a oitava maravilha do mundo. 

Durante o cerco a câmara de âmbar foi roubada e pilhada pelos nazistas e enviada a Königsberg (atual Kaliningrado) para reconstrução e exibição, e o destino da peça original é até hoje desconhecido, e a peça que hoje tem em São Petersburgo na verdade é uma reconstrução feita entre 1979 a 2003 com base em pinturas e fotos antigas.

Foto – Salão de Âmbar, São Petersburgo.

No fim das contas, o plano dos nazistas de transformar a União Soviética em uma versão germânica da Índia britânica ou do Oeste Americano, a despeito de sucessos iniciais, foi por água abaixo e o Exército Vermelho hasteou a bandeira vermelha no Reichstag, mas a um preço humano bem salgado: calcula-se que 27 milhões de pessoas morreram nessa brincadeira toda. Morticínio esse sobre o qual tipos como Marco Feliciano e outros em momento algum citam quando se posicionaram contra a fala de Lula.

Hitler era um admirador do Império Britânico, de tal modo que queria que a Inglaterra lutasse ao seu lado contra a União Soviética e para articular não apenas tal aliança enviou Rudolf Hess à Inglaterra (e lembrando que na própria nobreza inglesa havia simpatizantes do Terceiro Reich). Só que o tiro saiu pela culatra, Hess foi capturado e passou todo o resto de sua vida na prisão de Spandau e no fim tal aliança anglo-germânica tão acalentada por Hitler contra o “bolchevismo judaico” não se consumou.

O uso de campos de concentração que se notabilizou com os nazistas na Segunda Guerra Mundial na verdade não começou com eles. Começou com os ingleses na guerra dos bôeres, ocorrida na África do Sul entre 1899 a 1902, e chegou à Europa na Primeira Guerra Mundial, quando o Império Austro-Húngaro criou os campos de Thalerhof (situado próximo a Graz, na Áustria oriental) e Terezin (situado próximo a Praga, na República Tcheca) e lá internou e prendeu grande parte da população russófila da Ucrânia Ocidental. Além disso, fala-se muito na historiografia a respeito dos campos de concentração que os nazistas construíram na Polônia a partir de 1939, como Auschwitz, Treblinka, Sobibor e Majdanek. Só que o que é pouco falado é que já havia campos de concentração na Polônia antes de 1939. Visto que após o fim da Primeira Guerra Mundial, a Polônia de Pilsudski (a mesma Polônia do entre-guerras com a qual a Alemanha hitlerista não apenas fez acordos de cooperação antes do início da guerra, como também partilhou em conjunto a Tchecoslováquia em 1938) enviou prisioneiros alemães, russos, ucranianos, bielorrussos e outros a campos como Szczypiorno, Stralkowo, Bereza-Kartuska e Brest-Litowsk. Além disso, a primeira execução por câmara de gás ocorreu nos Estados Unidos, mais precisamente em Nevada, no ano de 1924.

Foto – Campo de concentração de Thalerhof, Primeira Guerra Mundial.

E a coisa não para por ai: Hitler não apenas elogiava as legislações segregacionistas existentes nos Estados Unidos que restringiam a entrada de imigrantes asiáticos, latinos e outros, como também segundo o historiador norte-americano James Whitman em sua obra “Hitler’s American Model”, de 2017, os nazistas buscaram inspiração precisamente nas leis de Jim Crow que existiam nos Estados Unidos desde a segunda metade do século XIX para conceber as leis de Nuremberg (as quais privaram os judeus germânicos de cidadania).

Aliás, vale lembrar que as políticas de segregação racial que existiram tanto na Austrália quanto no sul dos Estados Unidos, ambas já existiam antes mesmo de os nazistas chegarem ao poder na Alemanha e continuaram a existir depois da morte do político austríaco e da queda do Terceiro Reich. Visto que nos Estados Unidos, as leis de Jim Crow surgiram em 1876, logo após o fim da Guerra de Secessão do governo Lincoln e o período de reconstrução que a sucedeu, e só foram abolidas em 1965 (ou seja, na mesma época em que a banda afro-americana Jackson 5 já começava a despontar no cenário musical estadunidense). A política da Austrália branca, que restringia a entrada de imigrantes não-europeus à nação insular, foi instituída em 1901 e só foi abolida em 1975.

E, do ponto de vista ideológico, noções de superioridade anglo-saxônica sobre os demais povos também em muito antecedem a Hitler. Também antecedem a Hitler teorias como a eugenia, o racismo científico e o darwinismo social, advogadas por figuras como Gobineau (1816 – 1882), Galton (1822 – 1911) e Spencer (1820 – 1903), tendo aparecido ainda no século XIX. Ou seja, a ideologia de Hitler e dos nazistas do nada não surgiu.

E, de cereja do bolo, não custa lembrar que a Inglaterra e a França, antes do início da guerra na Europa, não apenas fizeram acordos com os nazistas, como também permitiram que Hitler se apoderasse da região dos sudetos (atual República Tcheca) em 1938 por meio dos acordos de Munique (obviamente, almejando um futuro enfrentamento entre soviéticos e alemães no qual os ambos os lados se destruíssem mutuamente). E sem esquecer também do fato de que altos figurões do mundo corporativo americano, tais como Prescott Bush (o Bush vô), Henry Ford e corporações como a ITT, a Standard Oil e a General Motors, fizeram negócios com os nazistas.

Só que, aos olhos dos imperialistas ingleses e franceses, Hitler cometeu um pecado mortal: tentou replicar no coração da Europa a mesma lógica que eles mesmos já aplicavam há muito em outras partes do mundo. E assim ele mostrou ao mundo que o rei está nu. De que toda a ideologia que eles vendiam de que a Europa era o farol da civilização, aquela que deveria civilizar as outras partes do globo, que tinha como fardo civilizar o resto do mundo, todo o arcabouço ideológico que legitimou a expansão colonial europeia do século XIX, era uma grande farsa. Conversa para boi dormir, em outras palavras.

Dai que vem muito da demonização em cima da figura de Hitler e da Alemanha nazista. É como se os imperialistas ingleses, franceses e americanos olhassem a imagem de Hitler refletida no espelho, e este, no íntimo deles, dissesse a eles as seguintes palavras: “eu sou você, e você sou eu”. E os primeiros assustados com o que acabaram de ver no espelho. E nisso passam a tratar Hitler e o regime por ele erigido na Alemanha como uma anomalia, uma aberração histórica que do nada surgiu e que nada tem relação com eles e o que eles fizeram ao longo da história.

Também pensei no seguinte após o comentário de Lula: se ele tivesse mencionado alguma outra tragédia que os judeus viveram ao longo da história, incluindo a expulsão da Península Ibérica nos anos 1490 (na Espanha em 1492 sob os reis católicos através do édito de Alhambra e em Portugal cinco anos depois, sob Dom Manuel I), ou os pogroms da Rússia Imperial tardia (durante os reinados de Alexandre III e Nicolau II), a fala de Lula também passaria batida e ninguém daria importância alguma à mesma. Talvez, no máximo, emitiriam uma nota de repúdio à declaração de Lula e vida que segue. A situação não teria chegado ao ponto em que chegou.

E o que me faz pensar isso é que na cinematografia hollywoodiana vemos uma abundância de filmes a respeito da temática do holocausto. Mas, ao mesmo tempo, pelo que eu vejo a mesma Hollywood não produziu a mesma abundância de filmes falando a respeito de perseguições mais antigas e menos conhecidas que os judeus sofreram ao longo da história.

Fontes:

Câmara de Âmbar. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A2mara_de_%C3%82mbar

Concentration camp (em inglês). Disponível em: https://parksfacts.blogspot.com/2011/01/concentration-camp.html

Fala do Presidente Lula sobre ação de Israel na Faixa de Gaza repercute no Plenário da Câmara. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/1037144-fala-do-presidente-lula-sobre-acao-de-israel-na-faixa-de-gaza-repercute-no-plenario-da-camara

“Hitler é bode expiatório”, diz Oliver Stone. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/cultura/2010/01/100111_stonehitlerml

How american racism influenced Hitler (em inglês). Disponível em: https://www.newyorker.com/magazine/2018/04/30/how-american-racism-influenced-hitler

MUNDO: semelhanças entre o regime nazista e o norte-americano. Disponível em: https://apaginavermelha.blogspot.com/2012/07/mundo-semelhancas-entre-o-regime.html

Nazi Germany’s Race Laws, the United States, and American Indians (em inglês). Disponível em:  https://scholarship.law.stjohns.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=7173&context=lawreview

O genocídio na Galícia e o nascimento do nazismo ucraniano. Disponível em: https://causaoperaria.org.br/2023/o-genocidio-na-galicia-e-o-nascimento-do-nazismo-ucraniano/#google_vignette

Os esquecidos carinhos entre a família real britânica e os nazistas. Disponível em: https://traduagindo.com/2022/09/08/os-esquecidos-carinhos-entre-a-familia-real-britanica-e-os-nazistas/

The Thalerhof intermnent camp and his legacy for the Rusyns of Eastern Europs (em inglês). Disponível em: https://neweasterneurope.eu/2021/09/15/the-thalerhof-internment-camp-and-its-legacy-for-the-rusyns-of-eastern-europe/

Война на уничтожение (em russo). Disponível em: https://dzen.ru/a/ZZm47ciprDdV8WKD

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Lava Jato e Tempus Veritatis - a farsa e a tragédia. Ou da miopia da esquerda colorida brasileira

 

Foto – Alexandre de Moraes.

Nos últimos dias, temos visto a ofensiva que a juristocracia brasileira, encabeçada pela figura de Alexandre de Moraes, atual ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), vem movendo toda uma ofensiva contra o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro. Para isso, ele vem sendo acusado de, entre outras coisas, por articular uma suposta tentativa de golpe de estado que teve lugar no dia oito de janeiro do ano passado (um golpe de araque, diga-se de passagem).

De um lado, vemos partidários do ex-presidente o defenderem e até chamarem Alexandre de Moraes como “ditador da toga”, como é o caso do pastor neopentecostal Silas Malafaia. 

E de outro, expressivos setores da esquerda brasileira, incluindo partidos como o PSOL e o PT, apoiando as ações de Alexandre de Moraes contra o ex-presidente Bolsonaro. 


Ante essa situação, uma manifestação de partidários do ex-presidente foi marcada para o dia 25 do presente mês está marcada para acontecer em São Paulo, na Avenida Paulista.

Entretanto, cabe aqui ressaltar que Bolsonaro não é o único alvo da operação da Polícia Federal. Também estão sendo visados outras figuras tais como Valdemar Costa Neto (presidente do Partido Liberal), Augusto Heleno (ex-presidente do GSI), Anderson Torres (antigo ministro da Justiça), Walter Braga Netto (candidato à vice-Presidência) e Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa).

Em sua obra “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”, Karl Marx descreve a ascensão de Luís Napoleão (vulgo Napoleão III e sobrinho de Napoleão Bonaparte) ao poder na França. Que a história se repete primeiro como tragédia, e depois como farsa. E esse, definitivamente, não apenas é o caso da ofensiva que vemos contra Jair Bolsonaro, como também o caso de como a esquerda mainstream brasileira vem abordando em seus canais de comunicação sobre o assunto em questão.

É só acessarmos canais do You Tube tais como o TV 247, a TV Fórum, o Blog da Cidadania, o Plantão Brasil e outros tantos para ver a tônica do discurso dessa gente. Os títulos do vídeo já dão uma boa ideia do conteúdo dos mesmos, às vezes nem é preciso vê-los para isso. Até parece que eles estão vibrando com as ações do Xandão e que serão os primeiros a soltar fogos de artifício assim que o político carioca vier a ser preso (da mesma forma que quando Lula foi preso também houve gente que soltou fogos de artifício por conta da prisão dele). A única exceção que eu vi a isso foi o Diário da Causa Operária, ligado ao PCO (Partido da Causa Operária).

E o PCO é bem enfático no seguinte: de que uma eventual prisão de Bolsonaro não irá acabar com o bolsonarismo. Não há como discordar deles neste ponto, visto que será questão de tempo o vácuo deixado por Bolsonaro ser preenchido por outro político do seu naipe, talvez tão ou mais reacionário quanto o original.

Foto – Jair Messias Bolsonaro.

O que mais me impressiona na maneira como certos setores da esquerda brasileira, em especial partidos como o PT e o PSOL e seus apoiadores, é que eles não percebem que as ações do STF contra o ex-presidente Bolsonaro são, em essência, eivadas da mesma politicagem que a Operação Lava Jato moveu contra Lula lá atrás, nos idos de 2014 a 2018.

Por todos os meios possíveis e imagináveis, a Operação Lava Jato, em associação com a grande imprensa brasileira (Globo a enfrente) e sob o pretexto do combate à corrupção, foi com o tempo mostrando suas garras e procurou por meio dos esquemas de corrupção por eles investigados atuar no sentido de primeiro desmoralizar o governo Dilma, e em seguida derrubá-lo. O que eles conseguiram em 2016, por meio do impeachment de Dilma Rousseff.

Um dos ardis usados pelos procuradores e juízes do Paraná para desmoralizar e enfraquecer o governo Dilma foi a divulgação de uma conversa telefônica, obtida por meio de grampo telefônico, entre Lula e Dilma, que tratou a respeito da posse de Lula como Ministro da Casa Civil. No que resultou protestos de rua massivos contra a nomeação de Lula para o cargo, e no fim das contas Lula não apenas não virou Ministro da Casa Civil, como Dilma foi submetida a impeachment e derrubada do poder. Seu vice, Michel Temer (vulgo vampirão), assumiu a Presidência da República, com um ministério no qual não havia um único petista.

Foto – Protestos em Cuiabá contra a posse de Lula como Ministro da Casa Civil, 2016.

Entretanto, a derrubada de Dilma era apenas um balão de ensaio para o que estava por vir mais adiante. Como nós muito bem sabemos, o verdadeiro alvo dos procuradores e juízes do Paraná era Lula. Queriam a todo custo neutralizar e destruir politicamente o político pernambucano, e beneficiar os políticos orgânicos da classe dominante brasileira, os tucanos, com os quais Moro e companhia limitada possuem ligações de longa data.

Uma vez deposta Dilma, a Lava Jato atuou no sentido de influenciar os resultados das eleições de 2018 contra o Partido dos Trabalhadores e em favor dos tucanos, os tradicionais rivais do Partido dos Trabalhadores nas eleições federais até então. Visto que as pesquisas à época indicavam que Lula seria o vencedor.

A situação com Lula foi tal que durante anos a Lava Jato, antes mesmo de prender Lula, ficou cozinhando o político pernambucano por meio de histórias como a do Tríplex do Guarujá, dos pedalinhos no Sítio de Atibaia, os esquemas de corrupção na Petrobrás (que existem desde bem antes de Lula se tornar Presidente) e outras afins (da mesma forma que hoje cozinham Bolsonaro por meio de histórias como a das joias sauditas, do suposto envolvimento da família Bolsonaro com o assassinato de Marielle Franco e outras mais). E no meio dessa brincadeira toda, ante o stress ao qual foram submetidos, faleceu Marisa Letícia, esposa de Lula e primeira-dama do Brasil entre 2002 a 2010, aos 66 anos de idade, em 2017.

E naquela mesma época, lá estavam sites, blogs e canais do You Tube como os já citados TV 247, TV Fórum, Opera Mundi, Blog da Cidadania, Plantão Brasil e tantos outros na linha de frente da defesa de Lula, sob a alegação de que Moro e companhia limitada promoviam uma perseguição de caráter politiqueiro contra Lula com vistas a influenciar as eleições de 2018 em favor de políticos contrários ao Partido dos Trabalhadores e que não havia provas concretas contra o político pernambucano.

Processo esse que no fim das contas levou à prisão de Lula naquele mesmo ano e à posterior soltura do mesmo, após 580 dias no cárcere na prisão de Curitiba. Lula foi preso, e em seu lugar Haddad concorreu como candidato do Partido dos Trabalhadores à Presidência da República. Só que algo não saiu dentro do planejado de Moro e companhia limitada. A Lava Jato promoveu uma devassa tamanha sobre o sistema político brasileiro que toda a questão da corrupção respingou em praticamente todos os grandes partidos da política brasileira, de tal modo que a candidatura tucana de Geraldo Alckmin não decolou e nem mesmo foi para o segundo turno. Terminou em quarto lugar, atrás mesmo até de Ciro Gomes, tendo recebido apenas 4,76% dos votos válidos.

No fim das contas, a Lava Jato repetiu no Brasil a mesmo desastre que a Operação Mãos Limpas (e, como é de conhecimento público, a Lava Jato se inspirou na Operação Limpas) legou à Itália, na qual após fazer tamanha devassa sobre o sistema político italiano abriu caminho para Silvio Berlusconi, então magnata da mídia e presidente do AC Milan, tornar-se premiê da nação peninsular.

No caso brasileiro, aquele que foi o grande beneficiário do vácuo que a Lava Jato deixou sobre o sistema político brasileiro foi o político carioca Jair Messias Bolsonaro. Um político do chamado baixo clero que ao longo de vários mandatos como deputado federal passou por vários partidos. Uma vez eleito após vencer as eleições presidenciais de 2018, Bolsonaro premiou Sérgio Moro com o cargo de ministro da Justiça, até que depois de um tempo as duas partes se desentenderam, em 2020. E o resto é história.

Os anos se passaram, e agora essa mesma história se repete, dessa vez contra Bolsonaro, por meio da Operação “Tempus Veritatis”, que em latim significa hora da verdade. E a história em essência é a mesma: da mesma forma que Moro, Dallagnol e companhia limitada fizeram de tudo para destruir e neutralizar Lula politicamente e torná-lo inelegível em 2018, hoje Moraes e companhia limitada pretende fazer a mesma coisa com Bolsonaro. Destruir e neutralizá-lo politicamente de forma a torná-lo inelegível para as eleições presidenciais de 2026, da mesma forma que o alto establishment norte-americano, ligado à CIA, ao Pentágono e outras altas instâncias de poder, faz perseguição de caráter politiqueiro similar com Donald Trump.

Como já dito acima, o que mais me impressiona nesse caso é a miopia por parte de amplos setores da esquerda brasileira, os quais não enxergam que por trás da “Tempus Veritatis” há a mesma politicagem que a Operação Lava Jato moveu contra Lula e os petistas e que eles condenaram à época. E mais do que isso: será que eles não percebem que lá na frente a juristocracia que hoje reina no Brasil, a juristocracia a qual eles inclusive agora estão jogando confetes, a hora em que a parceria com o PT não lhes for mais conveniente não resolva se voltar contra os atuais parceiros?

E fazendo um gancho com outro caso dos dias hodiernos: essa mesma esquerda vem defendendo o padre Júlio Lancellotti (sobre o qual pairam histórias bem nebulosas de longa data, incluindo o caso da Pajero de 2007, além de um caso de abuso nos anos 1980 contra um coroinha de Igreja que à época tinha 11 anos de idade) com unhas e dentes diante das acusações que vem sendo feitas contra ele, em especial por conta do vídeo indecente dele (que foi periciado e cuja veracidade foi confirmada por dois peritos). Até alegam (como é o caso de Eduardo Guimarães, do blog da Cidadania) que por trás disso tudo há interesses da Extrema Direita Católica, do agronegócio e de políticos da direita paulistana em mover processo contra Júlio Lancellotti (o qual, por seu turno, é ligado à corrente Teologia da Libertação).

Eu fico imaginando com os meus botões o seguinte: se religiosos que essa gente não nutre simpatia alguma, tais como o padre católico Paulo Ricardo e os pastores neopentecostais Silas Malafaia, Valdemiro Santiago e Marco Feliciano (por eles comumente acusados de “mercadores da fé”; vale aqui lembrar que durante certo tempo, mais precisamente durante os dois primeiros governos Lula, alguns destes pastores, como é o caso de Silas Malafaia, eram aliados do Partido dos Trabalhadores, até romperem com o mesmo), ou alguém ligado a movimentos e organizações como o Centro Dom Bosco e o Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, estivessem envolvidos em imbróglios similares, a história seria completamente diferente. A postura mudaria da água para o vinho, e essa turma do PSOL e do PT seriam os primeiros a pedir a cabeça dos mesmos e os atacariam e os cancelariam avidamente a ponto de querer vê-los apodrecendo atrás das grades (diga-se de passagem, é só fazer uma busca por comentários dessa gente pela Internet que poderão ser encontrados comentários de que deveria ser feita uma de Igrejas evangélicas, e ao mesmo tempo se calam quando o assunto é investigar as ONGs que promovem uma espécie de indústria da miséria em lugares como a cracolândia em São Paulo, precisamente onde o padre Lancellotti atua junto aos moradores de rua locais). Mas, como se trata do padre amiguinho deles (o qual ganhou o apelido carinhoso de “cafetão da miséria” por parte de seus detratores na política paulistana), a conversa é outra. Dois pesos, duas medidas. A história se repetindo como tragédia, e depois como farsa, em outras palavras.

Foto – Padre Júlio Lancellotti.

Fontes:

De Lula a Bolsonaro: o jogo pelo poder de Silas Malafaia. Disponível em: https://congressoemfoco.uol.com.br/projeto-bula/reportagem/de-lula-a-bolsonaro-o-jogo-pelo-poder-de-silas-malafaia/#:~:text=Silas%20Malafaia%20se%20tornou%20%C3%A1vido,junto%20ao%20pastor%20Nilson%20Fanini.&text=Malafaia%20permaneceu%20ao%20lado%20do,Serra%20(PSDB%2DSP).

Eleição presidencial no Brasil em 2018. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Elei%C3%A7%C3%A3o_presidencial_no_Brasil_em_2018

Entenda a escolha de Tempus Veritatis para a operação anti-Bolsonaro. Disponível em: https://www.poder360.com.br/justica/entenda-a-escolha-de-tempus-veritatis-para-a-operacao-anti-bolsonaro/

O fim do bolsonarismo? Disponível em: https://causaoperaria.org.br/2024/o-fim-do-bolsonarismo/

O que realmente está por trás da operação da PF contra Bolsonaro. Disponível em: https://causaoperaria.org.br/2024/o-que-esta-realmente-por-tras-da-operacao-da-pf-contra-bolsonaro/

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Resposta a Marcelo Andrade - de onde vem a abertura das Igrejas ao ativismo LGBT?

Foto – Marcelo Andrade

O Professor Marcelo Andrade postou no dia 22 de janeiro do presente ano um vídeo a respeito do Padre Júlio Lancellotti, intitulado “Padre Júlio Lancellotti e a infiltração comunista na Igreja Católica!”. No presente texto, vou responder a uma fala que o Professor disse logo no começo do vídeo (por volta de um minuto e 20 segundos de vídeo), no qual diz que o Padre Júlio Lancellotti vem fazendo uma defesa e promoção do comunismo por meio da defesa de certas pautas.

Como de praxe, sempre destilando um anti-comunismo tacanho e rasteiro, tão típico de tipos como ele (aliás, vale registrar que Leonardo Bruno, o Conde Louppeaux, um sujeito de direita, teceu críticas a Marcelo Andrade no vídeo “O que a direita é [e não o que ela diz ser]?).

Primeiro de tudo: não nutrimos grande simpatia pela figura do Padre Júlio Lancellotti, o qual há tempos vem atuando nas ruas da cidade de São Paulo junto a moradores de rua, e sua atuação vem sendo objeto de controvérsia, em especial da parte dos detratores do sacerdote católico. Tais controvérsias levaram ao estabelecimento de uma CPI por parte do vereador Rubens Nunes, antigo membro do MBL, na qual se pretende investigar a atuação de ONGs que atuam em áreas empobrecidas de São Paulo, em especial a cracolândia.

E, como não poderia deixar de ser, esse episódio gerou polarização entre os diversos grupos políticos, com a direita atacando o sacerdote e a esquerda, incluindo figuras como o atual Presidente Lula, Marina Silva e Guilherme Boulos, se posicionando a favor do mesmo. Tal episódio é sintomático do fato de que a política brasileira vem caminhando a passos largos para se transformar em um grande manicômio, no qual tudo vale para atacar o outro lado. Até mesmo defender as figuras mais questionáveis possíveis.

Para jogar ainda mais lenha na fogueira nas controvérsias envolvendo a figura de Júlio Lancellotti, saiu um vídeo obsceno dele, datado de 2019, no qual ele aparece se masturbando junto a um menor de idade chamado Matheus Rocha Nunes, de 16 anos à época (e cuja veracidade foi confirmada pelos peritos Jacqueline Tirotti e Reginaldo Tirotti – os quais anteriormente trabalharam em casos envolvendo Magno Malta e Celso Russomano, dois políticos da direita brasileira), além de troca de mensagens de conteúdo similar entre as duas partes por meio da rede social WhatsApp. A denúncia, entretanto, foi arquivada pela Arquidiocese de São Paulo.

Um padre da Igreja Católica, uma figura da qual esperamos lisura, santidade, retidão e honestidade em seus atos, estar envolvido em atos desta natureza é por si só algo lamentável e abominável. E é muito mais grave que, por exemplo, a Andressa Urach, uma mulher que há vários carnavais leva uma vida mundana, fazer os vídeos indecentes dela (e ainda por cima envolver o filho dela nessa brincadeira). É o tipo de atitude que ajuda a colocar o prejudicar o nome e o prestígio já combalido da Igreja Católica Apostólica Romana no limbo (se bem que eu, particularmente, penso que os casos de pedofilia na Igreja Católica são usados como um meio de ocultar e desviar a atenção dos casos de pedofilia em Hollywood, entre eles casos como o do finado Jeffrey Epstein e sua ilha particular – no qual estão envolvidos altos figurões da política americana como o ex-presidente Bill Clinton, do mundo do showbusiness americano e até da realeza britânica).

Mas independente da conduta de Júlio Lancellotti, do que ele tenha feito ou não entre quatro paredes nessa e em outras ocasiões e dos posicionamentos político-ideológicos do mesmo, o fato é que toda a polêmica envolvendo a figura dele veio em momento oportuno para as ONGs que atuam junto a ele, bem no momento em que elas se tornaram alvo de uma CPI em São Paulo. Tais ONGs, em locais como a cracolândia, atuam no sentido de perpetuar os problemas e lucrar com os mesmos, e não resolvê-los de fato. E mais do que isso: a especulação imobiliária e as ONGs são as duas faces da mesma moeda do problema em questão. A primeira cria o problema e as segundas os perpetua, mantendo os moradores de rua naquela situação lamentável.

Foto – Padre Júlio Lancellotti.

O principal motivo pelo qual nós não nutrimos simpatia pelo referido sacerdote (sobre o qual pairam polêmicas até hoje mal esclarecidas, incluindo o caso da Pajero de 2007) é que ele, há tempos, vem fazendo pregação a favor do ativismo LGBT (movimento esse que na Rússia é considerado extremista e proscrito por lei) dentro de Igrejas.

Ele, entre outras coisas, chegou ao ponto de em uma ocasião, dentro de uma Igreja (e detalhe: em plena missa), de divulgar o livro “Teologia e os LGBT+”, de Luís Correa Lima. Também participou do filme-documentário “São Marino”, do ano retrasado, a respeito da história de Santa Marina de Bitínia, santa que viveu entre os séculos IV e V no que hoje é a Síria e o Líbano (à época partes do Império Romano do Oriente), no qual ele lança um olhar totalmente anacrônico sobre a personalidade histórica em questão, sem levar todo o contexto histórico em que ela viveu. Visto que Santa Marina é apresentada no filme em questão não como uma santa canonizada pela Igreja, e sim como um travesti, uma transexual dos tempos antigos. Se a intenção de um documentário desses, ao qual ele emprestou seu prestígio ao participar do mesmo como narrador, não era de apresentar transexualismo (algo do qual eu, particularmente, tenho muitas reservas) como algo lindo e maravilhoso e que não há nada de mais em se submeter a cirurgias de “mudança de sexo”, e de legitimar o ativismo LGBT hodierno por meio de exemplos como o de uma santa que se disfarçou de homem dentro de um determinado contexto (tal qual, por exemplo, a Mulan na história chinesa, que se disfarçou de homem para poder servir ao exército), já não sei mais o que é.



E que fique bem claro uma coisa. Ao contrário do que muita gente pode pensar, o Padre Júlio Lancellotti vem fazendo, de abrir a Igreja ao ativismo LGBT, é algo que vem não de países ditos comunistas, ou mesmo esquerdistas, como a República Popular da China, a Coréia do Norte, Cuba, Vietnã, Venezuela bolivariana ou Nicarágua. Ou mesmo das finadas União Soviética, República Popular da Mongólia, Alemanha Oriental, Líbia verde ou Iraque baathista. Vem de países capitalistas tais como Inglaterra, Alemanha, Holanda e países nórdicos (aliás, vale lembrar que o lixo ideológico que tanto a esquerda quanto a direita brasileira consomem hoje em dia vem das universidades e think-thanks europeus e norte-americanos).

Comecemos pela Alemanha. Em 2019, foi lançado o movimento “Assembleia Sinodal”, fórum de diálogo criado com vistas a promover reformas dentro do catolicismo dentro do país. E entre as pautas, maior abertura para relacionamentos LGBT, acabar com o celibato para os padres e ter mulheres como diaconisas.

Segundo notícia que saiu no portal Deutsche Welle (onda alemã) datada de 10 de maio de 2021, mais de cem igrejas católicas da nação de Goethe, Richard Wagner e Nietzsche, ligadas ao movimento em questão, passaram a abençoar casais homossexuais sob o lema “o amor vence” (lema esse que certamente será evocado quando resolverem dobrar a aposta e trazer coisas piores e ainda mais nefastas às Igrejas), em resposta a uma decisão do Vaticano em não aprovar a união entre pessoas do mesmo sexo, sob a justificativa de que estas não seriam parte do plano divino e de que Deus “não pode abençoar o pecado”.

Mais recentemente, segundo notícia publicada no mesmo portal e datada do dia 10 de março do ano passado, as Igrejas alemãs ligadas a esse movimento passaram a abençoar casais de pessoas do mesmo sexo, e ainda por cima pretendiam estender as bênçãos a divorciados e pessoas que casaram novamente no civil.

Por conta das posturas progressistas advindas da Assembleia Sinodal há o risco de que a Igreja Católica Apostólica Romana venha a sofrer o segundo cisma germânico, com consequências talvez ainda mais graves e dramáticas que o cisma luterano do século XVI.

E, para não ficarmos presos apenas à Igreja Católica e colocarmos a coisa em um contexto ainda mais amplo, bênçãos a relações de mesmo sexo também ocorrem em Igrejas protestantes. Desde 2016, ano em que ocorreu em Berlim o primeiro casamento entre dois homens em uma igreja alemã, solenidades matrimoniais de mesmo sexo têm sido feitas na Igreja Evangélica da Renânia e na Igreja Protestante de Baden. Outras denominações religiosas na Alemanha também passaram a realizar tais cerimônias, tais como a Igreja Evangélica Reformada na Alemanha, a Igreja Evangélica de Bremen, a Igreja Protestante em Hesse e Nassau, a Igreja Evangélica do Palatinado e a Igreja Luterana Evangélica em Brunswick.

E não é só na Alemanha que isso vem acontecendo. Falemos um pouco da Holanda, um dos países há muito tempo campeões em matéria de ativismo e políticas de cultura woke. Segundo informações do artigo da Wikipédia em inglês sobre casamento do mesmo sexo no país de Erasmo de Roterdã e de Baruch de Espinoza:

Desde a metade dos anos 1960, solenidades religiosas de relações do mesmo sexo tem ocorrido em algumas igrejas holandesas. Os Remonstrantes Holandeses foram a primeira denominação cristã da Europa a oficialmente permitir tais solenidades em 1986. A Igreja Menonita na Holanda também permite solenidades de casamentos do mesmo sexo. A Velha Igreja Católica da Holanda tem permitido a seus ministros realizar casamentos do mesmo sexo em seus locais de culto desde 2006.

A Igreja Protestante na Holanda, a maior denominação protestante na Holanda, tem permitido a suas congregações realizar casamentos do mesmo sexo como uma união de amor e fé diante de Deus desde 2004, e, na prática, muitas Igrejas agora conduzem tais cerimônias.

Na vizinha Bélgica, desde 2007 que a Igreja Protestante Unida na Bélgica passou a permitir a realização de uniões do mesmo sexo em suas congregações, e um pouco mais ao sul a Igreja Protestante Unida da França desde 2015 permite benção por parte de seus pastores a tais uniões. Em julho de 2021 um casamento entre duas pastoras lésbicas foi celebrado em uma Igreja protestante em Montpellier. Outras denominações religiosas também realizam tais solenidades, tais como as Velhas Igrejas Católicas e grupos druidas bretões.

Mais a oeste, na Inglaterra (onde o casamento entre pessoas do mesmo sexo é permitido por lei desde 2013), a Igreja Anglicana não apenas há tempos vem celebrando casamentos entre pessoas do mesmo sexo, como também ordenando sacerdotes LGBT, incluindo transexuais. Vide o caso de Rachel Mann, o primeiro arquidiácono transexual da Igreja Anglicana. Segundo notícia que saiu no grupo do VK “Volk Gomofob”, em 22 de janeiro do presente ano (por mim traduzida):

E de novo a Inglaterra. A manchete de um grande artigo do The Telegraph na semana passada: O primeiro arcediago trans da Igreja Anglicana: “Eu prometi que não vou colocar a sacerdócio acima do amor”.

“Toda mulher que se torna homem entra no Reino dos Céus, - diz Jesus a seus discípulos no ‘evangelho gnóstico de Tomé’. Mas e o homem que se faz mulher?”.

O homem que se imagina como mulher cita um “evangelho” imaginário. E isso é hoje denominado de cristianismo, glória a Deus, na Inglaterra, e não na Rússia.

“Renascida nos dois sentidos desta palavra”, a escritora Rachel Mann passou pela operação de mudança de sexo em 2003 e foi ordenada na Igreja Anglicana em 2005, e no ano passado foi nomeado como o primeiro arcediago transexual da Igreja Anglicana. Durante este período ele também publicou 14 livros de ficção, livros sobre teologia e poesia e conquistou popularidade como apresentador televisivo religioso da Britânia.

*LGBT – movimento reconhecido como extremista e proibido na Rússia, a assim chamada “mudança de sexo” é “fora da lei”.

Foto – Notícia do The Telegraph sobre a ordenação do primeiro arquidiácono transexual da Igreja Anglicana. Cortesia: Volk Gomofob.

Além disso, a Igreja Anglicana no começo do ano passado, após meio decênio de discussão interna, passou a admitir bênçãos a casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo, embora continue a afirmar que o sacramento do matrimônio é restrito apenas a uniões entre um homem e uma mulher.

E a coisa não para por ai: meses mais tarde, mais precisamente em dezembro último, a mesma Igreja Anglicana abençoou uma união entre pessoas do mesmo sexo. E detalhe: as pessoas em questão, Catherine Bond e Jane Pearce, são duas reverendas.

Ainda na anglosfera, falemos um pouco a respeito dos Estados Unidos e do Canadá.

Nos EUA, em 2015, a Igreja Presbiteriana local decidiu autorizar a realização de casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Também fazem tais cerimônias denominações religiosas tais como a Igreja Episcopal dos Estados Unidos, a Igreja Evangélica Luterana e a Igreja Reformada da América.

No Canadá, promovem solenidades matrimoniais entre pessoas do mesmo sexo denominações religiosas como A Igreja Unida do Canadá, a Igreja Unitária Universalista, a Sociedade Religiosa dos amigos (quakers), a Comunidade Eclesiástica Metropolitana e a Igreja Evangélica Luterana no Canadá.

A Igreja Anglicana do Canadá, por seu turno, se encontra dividida a respeito deste tema entre aqueles favoráveis e aqueles contrários. Em 2016 o Sínodo Geral da Igreja Anglicana passou uma moção inicial para realizar matrimônios do mesmo sexo em suas Igrejas. Entretanto, em 2019, o Sínodo Geral não aprovou a moção em sua segunda leitura porque recebeu apoio de pelo menos três quartos de seus bispos. Entretanto, algumas dioceses vêm realizando tais cerimônias, incluindo a de Toronto, Ottawa, Columbia Britânica e outras. E, para deixar as coisas ainda piores a respeito do Canadá, em 2016 a Suprema Corte do Canadá legalizou relações entre animais e seres humanos (bestialismo), conquanto não haja penetração.

Saindo dos países de língua inglesa, falemos um pouco sobre os países nórdicos. Na Noruega, desde 2016 uniões religiosas entre pessoas do mesmo sexo são permitidas dentro da Igreja Luterana. Em 2021, uma igreja norueguesa realizou uma cerimônia de mudança de nome para pessoa transexual. Também no país de Edvarg Grieg e de Edvard Munch, há uma lei que pune quem critique pessoas de orientação sexual não tradicional até mesmo em suas casas. Na Suécia, este tipo de união é permitido desde 2009 e na Dinamarca desde 2012.

Aliás, falando em Dinamarca, vejam essa lamentável notícia que saiu também no grupo Volk Gomofob, datada de 30 de janeiro do presente ano:

Na Dinamarca, “O Museu da Mulher” foi rebatizado de “Museu do Gênero”.

Em honra deste evento “significativo” foi criada uma estátua que se tornou a cara do museu.

A estátua representa um transformista com sinais externos sexuais de um homem e uma mulher (nós cobrimos a vergonha, mas acredite em nossa palavra, ela lá está), que amamenta com o seio uma criança.

Segundo o propósito de figuras culturais locais o “homem que amamenta com o seio a criança” simboliza a sociedade dinamarquesa moderna.

Infelizmente, no mundo real, transformistas não podem ter filhos, quanto menos amamentá-los com o seio. Portanto, esta “obra de arte” pode influenciar de forma negativa na avaliação da percepção de mundo do jovem dinamarquês.

O movimento LGBT é reconhecido como extremista.

Por uma questão de discrição, preferi não reproduzir a imagem em questão no artigo.

Percebe-se que tal movimento, olhando as coisas dentro de um contexto maior e mais amplo, começou em Igrejas protestantes, em países como Noruega, Dinamarca, Holanda, Suécia, Bélgica, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos e Canadá (ou seja, os países campeões em matéria de ativismo e políticas de cultura woke). E agora começa esse movimento começa a bater as portas da Igreja Católica, e adentrou o próprio Papado por meio do documento “Fiducia Supplicans”.

Segundo o artigo da Wikipédia em inglês “Blessing of same-sex unions in Christian churches”, lá consta que a grande maioria das Igrejas que fazem esse tipo de bênção é do Ocidente “livre e democrático” que a direita brasileira de matiz neocon tanto defende, em especial da Europa Ocidental (Reino Unido incluso), da Escandinávia, Estados Unidos e Canadá, e mais algumas coisas na América do Sul e em outras partes do globo. Não tem nada de Rússia, China, Coréia do Norte, Cuba, Vietnã, Irã, Síria, Venezuela, Belarus e outros países que essa mesma direita tanto sataniza nessa lista. Também não há nada de Hungria na lista. E detalhe: a parte do leão dessas Igrejas que realizam esse tipo de solenidade são Igrejas de matiz protestante. O que mostra que o que o ativismo do senhor Júlio Lancellotti nada mais faz é trazer este movimento que vem desde locais como a Holanda, os países nórdicos e a América do Norte para o seio cá.

E de cereja do bolo, trago esta notícia, também cortesia da Volk Gomofob a respeito da Letônia, que foi parte integrante tanto do Império russo tzarista quanto da União Soviética.

O presidente da Letônia Edgars Rinkēvič colocou em vigor alterações na lei “Sobre os Notários”, as quais permitem firmar uniões de mesmo sexo no território da República, apesar de deputados de oposição do Sejm quiseram obter votações para elas no referendo. O texto do documento publicou a editora estatal Latvijas Vēstnesis.

‘O ato notarial de parceria é compilado por um notário, se duas pessoas fisicamente maiores de idade pessoalmente comparecerem perante o notário e manifestarem que relações pessoais estreitas os ligam, um lar em comum e a intenção de tomarem conta dele, assim como a intenção de se apoiarem um ao outro”, - é especificado nas alterações à lei adotada.

Cidadãos de qualquer sexo podem entrar em relações de parceria, nisso eles não devem ser casados. As alterações à “lei do Notoriato” foi adotadas pelo Sejm da Letônia em novembro de 2023. Em seguida, um grupo de deputados se dirigiu ao Presidente da República com um pedido de suspender a entrada em vigor da norma para submter a decisão à votação popular”.

Essa notícia é uma verdadeira torta na cara daqueles imbecis de direita que vivem associando comunismo com ativismo woke de modo geral. Visto que se trata da Letônia que após se tornar independente da União Soviética aderiu tanto à União Europeia quanto à OTAN.

Fico por aqui, ou querem mais?

E, para não ficarmos presos apenas ao ativismo LGBT dentro de meios religiosos, vale lembrar que grandes veículos de mídia também apoiam esse tipo de pauta. Como é o caso da Disney, sobre a qual já falamos em outras oportunidades. A Disney, entre outras coisas, chegou a veicular cena de beijo entre dois homens em um episódio do desenho “Star vs as Forças do Mal”. Que se trata de um desenho destinado ao público infanto-juvenil, e não um desenho destinado a um público mais adulto como South Park. Situação essa que em 2017 gerou uma polêmica entre Silas Malafaia e Felipe Neto, na qual o pastor evangélico se posicionou contra a Disney (corretamente, diga-se de passagem) por conta da veiculação das cenas em questão e em resposta o moleque do cabelo colorido defendeu o conglomerado norte-americano. O que mostra que o expediente que hoje setores da esquerda brasileira usam para defender o Padre Júlio Lancellotti vem de vários carnavais e é uma prática recorrente da mesma. Não seria nenhuma surpresa ver essa mesma esquerda colorida defender até mesmo o diabo para atacar a direita bolsonarista.


Mas o pior ainda está por vir: mais para o final, o próprio Marcelo Andrade entra em contradição ao dizer que países historicamente socialistas como União Soviética e Cuba não davam abertura a esse tipo de pauta. Pelo que estamos vendo, coerência não é lá o forte de certos elementos da direita brasileira.

Entenda uma coisa, Marcelo Andrade: o modelo de sociedade que pessoas como o Padre Júlio Lancellotti, o Gregório Duvivier, o Felipe Neto, a Anielle Franco, a Marina Silva, o Jean Wyllys, o Ian Neves, o pessoal de canais do YouTube como o Meteoro e outros dessa mesma estirpe têm em mente e defendem não é aquele que existiu em países como as finadas União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, República Popular da Mongólia, Alemanha Oriental, Iugoslávia, Líbia verde e Iraque baathista, ou mesmo a República Popular da China, a República Popular Democrática da Coreia, a Síria baathista, a Cuba castrista ou a Venezuela bolivariana. E sim o que existe nos Estados Unidos em Estados tradicionalmente governados por políticos democratas como a Califórnia e Nova York, no Canadá de Justin Trudeau, na Holanda, na Inglaterra e nos países nórdicos. Em outras palavras, o pensamento desta gente está muito mais próximo de políticos democratas norte-americanos como os ex-presidentes Bill Clinton e Barack Obama e do premiê canadense Justin Trudeau que de Lenin, Stalin, Chorloogin Čojbalsan, Tito, Mao Zedong, Kim il-Sung, Gamal Abdel Nasser, Kwame Nkrumah, Ho Chi Minh, Muammar al-Kadaffi, Hafez al-Assad, Fidel Castro, Che Guevara, Thomas Sankara, Saddam Hussein, Slobodan Miloševiċ ou Hugo Chávez. Ou mesmo dos fundadores do socialismo científico, Karl Marx e Friedrich Engels (os quais ficaram horrorizados ao tomarem conhecimento dos livros deKarl Heinrich Ulrichs, um dos principais gurus do ativismo LGBT da época –segundo eles, os escritos de Ulrichs eram “obscenidades transformadas em teoria”).

E mais do que isso: do ponto visto político-ideológico, essa gente está muito mais próxima de grandes conglomerados capitalistas como a Disney, o Netflix e até mesmo a Rede Globo que de qualquer outro líder socialista ou nacionalista histórico. Resumindo a ópera: o figurino da esquerda mainstream brasileira ligada a partidos como o PSOL e o PT vem da Califórnia, enquanto que o da direita bolsonarista vem do Texas.

Fontes:

Blessing of same sex unions in Christian churches (em inglês). Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Blessing_of_same-sex_unions_in_Christian_churches

Celebrar relacionamentos gays na Igreja é na verdade bastante católico. Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/622504-celebrar-relacionamentos-gays-na-igreja-e-na-verdade-bastante-catolico

Cristã finlandesa é absolvida das acusações por pregar a Bíblia. Disponível em: https://pleno.news/mundo/politica-internacional/crista-finlandesa-e-absolvida-das-acusacoes-por-pregar-a-biblia.html

Entre a alegria e o medo do cisma: a Igreja da Inglaterra abençoa casais do mesmo sexo pela primeira vez. Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/635376-entre-a-alegria-e-o-medo-do-cisma-a-igreja-da-inglaterra-abencoa-casais-do-mesmo-sexo-pela-primeira-vez

EXCLUSIVO: peritos atestaram veracidade dos vídeos se manifestem – “Contratem um profissional da polícia e vejam se há algo errado”. Disponível em: https://revistaoeste.com/politica/peritos-que-atestaram-veracidade-dos-videos-de-julio-lancellotti-se-manifestam/

Igrejas alemãs desafiam Vaticano e abençoam casais gays. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/igrejas-alem%C3%A3s-desafiam-vaticano-e-aben%C3%A7oam-casais-gays/a-57486572

Igrejas católicas alemãs vão ministrar bênçãos a casais gays. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/igrejas-cat%C3%B3licas-alem%C3%A3s-v%C3%A3o-ministrar-b%C3%AAn%C3%A7%C3%A3o-a-casais-gays/a-64952081

Igreja Anglicana rejeita reconhecer casamento gay, mas vai permitir benção a união civil homoafetiva. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/01/19/igreja-anglicana-rejeita-reconhecer-casamento-gay-mas-vai-permitir-bencao-a-uniao-civil-homoafetiva.ghtml

Igreja luterana da Suécia aprova casamentos gays. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2009/10/091023_suecia_casamento_gay_rw

Igreja na Noruega realiza cerimônia de mudança de nome para trans. Disponível em: https://www.gospelprime.com.br/igreja-na-noruega-realiza-cerimonia-de-mudanca-de-nome-para-trans/

Igreja presbiteriana dos Estados Unidos aprova casamento gay. Disponível em: https://www.otempo.com.br/mundo/igreja-presbiteriana-dos-eua-aprova-casamento-gay-1.1010479

Igreja protestante da Noruega autoriza o casamento religioso entre gays. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2016/04/11/interna_internacional,751866/igreja-protestante-da-noruega-autoriza-o-casamento-religioso-entre-gay.shtml

Lei da Dinamarca obriga Igreja a celebrar casamento gay. Disponível em: https://www.paulopes.com.br/2012/06/lei-da-dinamarca-obriga-igreja-celebrar.html#gsc.tab=0

Lei na Noruega pune quem criticar pessoas LGBT, inclusive dentro de suas casas. Disponível em: https://www.gospelprime.com.br/lei-na-noruega-pune-quem-criticar-pessoas-lgbt-inclusive-dentro-de-suas-casas/

MUNDO: A mulher barbada austríaca e o beco sem saída do pós-modernismo. Disponível em: https://apaginavermelha.blogspot.com/2014/05/mundo-mulher-barbada-austriaca-e-o-beco.html

Same-sex marriage in France (em inglês). Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Same-sex_marriage_in_France

Same-sex marriage in Germany (em inglês). Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Same-sex_marriage_in_Germany

Same-sex marriage in Norway (em inglês). Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Same-sex_marriage_in_Norway

Suprema Corte do Canadá permite sexo entre pessoas e animais. Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/mundo/suprema-corte-do-canada-permite-sexo-entre-pessoas-e-animais,c3f6d3283a5626301e554a198d8fdb7e5yje0ur9.html

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

As mazelas do mundo 4.0 e a questão da dublagem (parte II)

 

Foto – Logo do movimento dublagem Viva.

Mais uma vez, a respeito da polêmica envolvendo o uso da inteligência artificial na dublagem.

Nos últimos dias, vários dubladores, tanto de São Paulo quanto do Rio de Janeiro, ante a ameaça que o uso da Inteligência Artificial vem exercendo sobre os trabalhos deles, fizeram várias manifestações em redes sociais e até lançaram um movimento, o “Dublagem Viva”, com a intenção de regulamentar o uso da tecnologia na dublagem. Segundo o movimento Dublagem Viva, há coisas que a máquina, por mais aprimorada que seja, é incapaz de reproduzir. Até porque a máquina não é um ser vivo, e sim uma coisa.

Foto – Imagem que circula em redes sociais como o Facebook, que reflete o posicionamento de dubladores quanto à questão da Inteligência Artificial e à ameaça que ele representa aos empregos deles.

Em massa os dubladores fizeram manifestações em redes sociais, nas quais, como esta aqui da dubladora Sandra Mara Azevedo (a primeira dubladora da Chiquinha no Chaves, da Patty Pimentinha em Snoopy e da Kronika em Mortal Kombat 11), na qual exige uma dublagem viva:

https://fb.watch/pQhZ659AVL/

E esta de Miriam Fischer (voz da Lilica em Tiny Toons, Pumyra em Thundercats, Charlene em Família Dinossauro, Botan em Yu Yu Hakušo e Pandora em Cavaleiros do Zodíaco):

https://www.facebook.com/reel/718988436991067

Mais estes de Gabriela Milani (voz da Uniqua em Backyardigans, Star Borboleta em Star versus as Forças do mal e Sky em Patrulha Canina):

https://www.facebook.com/reel/1824468947967476

https://www.facebook.com/reel/913725910426957

Este de Angélica Santos (voz do Cebolinha em Turma da Mônica, Oolong na franquia Dragon Ball, Kimie Watanabe em Rugrats: os Anjinhos, Esmeralda em Cavaleiros do Zodíaco e Stinky em Hey Arnold!):

https://www.facebook.com/524984684/videos/4450233861869224/

Este de Carlos Falat (voz de Skeeter em Doug, Cell Júniors em Dragon Ball Z, Eugene em Hey Arnold!, Phil deVille em Rugrats: os Anjinhos e Arthur em As aventuras de Babar):

https://www.facebook.com/reel/1124706228695640

Este de Fábio Moura (voz do Šura de Capricórnia em Cavaleiros do Zodíaco, Avan em Fly: o pequeno guerreiro, Monge em Samurai Warriors, narrador de Pokémon):

https://www.facebook.com/reel/1098718157984465

E por fim este de Dado Monteiro (voz de Clifford em Clifford: o gigante cão vermelho, Vegeta em Dragon Ball Kai e do Broly na franquia Dragon Ball):

 https://www.facebook.com/reel/322694570112633

Trata-se de um movimento de escala global, encabeçado pela “United Voice Artists”, que luta pelos direitos da classe no mundo inteiro e reivindica que os profissionais da voz não sejam substituídos pela nova tecnologia, e que esta deveria ser usada apenas como uma ferramenta de auxílio. Outras organizações em outras partes do mundo também surgiram com essa mesma intenção.

Segundo o manifesto do próprio movimento em questão:

“A IA não deve ser usada para reproduzir vozes de atores em outros idiomas para Língua Portuguesa Brasileira a finalidade de substituir os dubladores. É essencial preservar a expressão vocal, emoção e interpretação artística que os profissionais trazem para o processo de dublagem. A tecnologia deve ser vista como uma ferramenta complementar, não como um substituto”.

Eu, como fã da arte de longa data, estou do lado dos dubladores nessa questão. Não apenas por uma questão de princípio e por ser fã da arte desde os anos 1990, além de se tratar de uma situação na qual o próprio ganha-pão deles está em jogo. Fico eu imaginando com os meus botões o balde de água que não será para aqueles que no presente momento tanto estudaram para conseguir um DRT e começar a exercer a profissão, e de repente vem uma nova tecnologia e coloca todo o esforço deles a perder. Ou mesmo daqueles que há muitos anos estão no meio, já consolidados.

No Brasil, a arte da dublagem tem uma história quase centenária. A primeira produção a receber dublagem no Brasil foi “Branca de Neve e os Sete Anões”, em 1938, por meio da Rádio Nacional do Rio de Janeiro e que contou com a participação de figuras como os cantores Dalva de Oliveira e Carlos Galhardo. Nos anos seguintes, a dublagem brasileira passou a ser considerada uma das melhores de todo o mundo por conta de fatores como bons atores, compreensão da fala, técnicas sonoras e lealdade ao texto original, por vezes adaptando os roteiros das produções com expressões nossas (vide o caso do “Eu sou Toguro” em Yu Yu Hakusho). Espero chegarmos a 2038, o ano em que a arte completar seu centenário no país, ainda sendo exercida por pessoas de carne e osso, e não por máquinas e aplicativos. Eu sei que é pedir muito dado o contexto de Quarta Revolução Industrial em que vivemos, mas não custa sonhar.

Por meio do movimento Dublagem Viva o primeiro passo foi dado, agora veremos como a situação desenrolar-se-á. A organização dele em um movimento como esse é importante, do contrário o olho da rua os aguarda. Ou subempregos como os Ubers, iFoods e OnlyFans (para as garotas) da vida. Lembrando que foi por meio da organização e de protestos massivos que, por exemplo, o pessoal que trabalha com vaquejada (atividade muito comum no Nordeste brasileiro e que movimenta considerável montante de dinheiro por lá, e mais os empregos diretos e indiretos que a mesma gera) logrou impedir que seu meio de vida fosse destruído por canetadas de togados em 2016 (com direito a protestos massivos na Esplanada dos Ministérios por parte de vaqueiros nordestinos).

Foto – Manifestações contra a proibição da vaquejada, 2016.

Coloquemos as coisas em perspectiva. Como já dito na primeira parte, isso não é nada de novo na história da humanidade: se lermos algum livro de história, veremos que lá atrás, na Primeira Revolução Industrial, na Inglaterra do século XVIII, invenções como o tear mecânico geraram não apenas massivo desemprego, além de cidades como Londres, Bristol, Manchester, Liverpool, Birmingham e outras, por conta do êxodo rural causado pelas políticas de cercamentos nos campos, ficarem inchadas e superpovoadas, com muitas pessoas tendo que viver de mendicância e pequenos furtos para poder sobreviver. Em outras palavras, isso nada mais é que o desemprego tecnológico em sua versão 4.0. Nada de novo no front, diz o velho ditado.

E mais uma vez reitero: os dubladores precisam entender que o jogo é pesado e que estão lidando com pessoas e interesses poderosos. É um jogo que envolve Grande Reset, Agenda 2030, Klaus Schwab e todo o admirável novo mundo que essa gente, encastelada em locais como o Fórum de Davos e o Vale do Silício e que se aproveita de tragédias como pandemias e desastres naturais (incluindo a Covid-19) para levar adiante a agenda macabra deles, pretende criar.

Por fim, algumas reflexões a respeito deste assunto – soube que na Internet há alguns engraçadinhos que estão fazendo pouco caso dessa situação hoje vivida pelos dubladores, como no caso deste print:

O sujeito em questão até parece o Mussum naquele esquete dos Trapalhões em que o personagem interpretado pelo finado Antônio Carlos Bernardes Gomes, em discussão com o Dedé, fica falando que “o governo tá certis” em aumentar o preço de certos itens, até ficar sabendo do aumento do preço da cachaça (o mé tão amado por ele). Quero ver só que ele vai achar a hora em que ele perder o trabalho dele para alguma máquina ou aplicativo. Só espero que ele não chore e nem fique chateadinho quando esta hora chegar. Quando chegar a hora dele de ficar sem lugar para sentar na Dança das Cadeiras. É uma fala típica de sujeitos que não se colocam na pele do outro e não tentam entender o motivo pelo qual os dubladores estão se manifestando da forma como estão.

Pegando um gancho com este ponto, ai vem o pulo do gato: quem não me garante, por exemplo, de que a dublagem na verdade no presente momento nada mais é que um balão de ensaio para que lá na frente outras profissões também sofram ataque similar por meio da Inteligência Artificial? Ainda mais em um momento em que a Inteligência Artificial, a Robótica e outras tecnologias similares estiverem em um patamar ainda mais adiantado?

E mais uma coisa: com toda essa história de Inteligência Artificial e outras novas tecnologias, será que pessoas como Bill Gates, Elon Musk (um transhumanista convicto que afirma, entre outras coisas, que o futuro da humanidade está na fusão do homem com a máquina) e outros produtores de tecnologia não estão jogando a humanidade em um rumo bem perigoso? Será que bem diante de nossos olhos não está sendo gestado o mundo do Exterminador do Futuro, no presente momento? Pois como disse um dos arautos do Grande Reset e da Agenda 2030, Klaus Schwab, “você não terá nada e será feliz sobre isso”.

Foto – Klaus Schwab e sua “profecia” sobre o futuro da humanidade.

Fontes:

Campanha Dublagem Viva quer regulamentação no uso de IA em dublagens. Disponível em: https://meups.com.br/noticias/dublagem-viva-regulamentacao-ia-em-dublagens/

Dublagem Viva. Disponível em: https://dublagemviva.com.br

Dublagem Viva – Profissionais se unem para pedir regulamentação do uso da Inteligência Artificial. Disponível em: https://cinebuzz.uol.com.br/noticias/entretenimento/dublagem-viva-movimento-inteligencia-artificial.phtml

domingo, 21 de janeiro de 2024

Freeza e Rei Vegeta, parte X

 

Foto – Freeza e Rei Vegeta

No mês passado houve uma polêmica no You Tube entre os canais “Sessão Quatro” e “Orgulho Saiyajin”, a respeito da nova versão do Bardock, o pai de Goku e Raditz, que pode ser vista tanto no filme “Dragon Ball Super: Broly”, de 2018, como também na saga do Granola (até agora exclusiva do mangá). O canal “Sessão Quatro” se posicionou a favor da nova versão do pai de Goku, ao passo que o “Orgulho Saiyajin” não compartilha do mesmo posicionamento e prefere a versão de Bardock vista no OVA de 1990 “Bardock – o pai de Goku” em pequenos flashbacks que podem ser vistos principalmente no primeiro anime no arco do Freeza. A polêmica entre as duas partes se arrastou por vários vídeos.




E, como não poderia deixar de ser, na trilha da polêmica entre os dois canais, outros canais especializados em Dragon Ball também entraram na polêmica e postaram vídeos, tanto se posicionando a favor de um quanto do outro lado.




Já faz algum tempo que temos postado artigos com o presente título, os quais geralmente tratam a respeito da hipocrisia de certas pessoas quanto ao passado de conquistadores dos povos que elas olham como “bons selvagens”, ao passo que satanizam os europeus e o passado de conquistadores e construtores de impérios destes, debaixo de alegações como a de que estes são “representantes de uma história falsa”. A estupidez desta gente chega a tal ponto que eles acham que apenas europeus é que podem ser racistas e imperialistas. E no afã de atacar os europeus, chegam ao ponto de exaltar e enaltecer os conquistadores “provincianos” por eles vencidos. E nisso até mesmo esquecem que tais povos um dia foram conquistadores.

E o pior de tudo: geralmente são essas pessoas que estão lá pichando e derrubando estátuas e monumentos dedicados a figuras históricas controversas e até mesmo queimando livros e revistas antigas sob o pretexto do combate ao racismo (que no fim das contas não passa de iconoclastia barata e combate a moinhos de vento bem ao estilo de Dom Quixote).

Por meio da décima parte de “Freeza e Rei Vegeta” vim daqui dar o meu parecer a respeito desta polêmica, visto que se trata de um assunto relacionado com a proposta desta série de artigos. Ainda mais tendo em vista que o próprio título faz alusão a dois personagens da obra criada e escrita por Akira Toriyama a partir dos anos 1980.

Em minha humilde opinião, eu também fico com a versão original do Bardock. Ou como alguns falam por aí, o Bardock do Z. A começar pelo visual. O Bardock do Z transmite mais imponência e altivez, é o tipo do cara que você bate o olho e vê que impõe respeito só pelo olhar. Algo que o Bardock do Super não transmite. Visualmente falando, o Bardock do Super nada mais é que um Goku com o uniforme do exército do Freeza (e mais a cicatriz em forma de cruz no rosto similar à do Yamča e à do Kenšin Himura de Samurai X), até parece um clone do Goku.

De tal modo que quando vejo o Bardock do Z, a voz que imagino saindo da boca dele é a voz do Wellington Lima, que não apenas dublou o pai de Goku na franquia Dragon Ball (tanto no OVA de 1990 quanto nos flashbacks do anime e em Dragon Ball Super: Broly), como também emprestou sua forte voz ao Raditz, ao Madžin Buu, ao Taopaipai (este último apenas na redublagem do primeiro Dragon Ball, feita na finada Álamo em 2002) e a outros personagens menores dentro da franquia Dragon Ball. Ao passo que quando olho para o Bardock do Super a voz que imagino saindo da boca dele é a do Wendell Bezerra, o dublador do Goku (lembrando que na versão original japonesa quem dubla o Bardock é a veterana seiyuu Masako Nodzawa, que por sua vez também emprestou sua voz fina ao Goku, ao Gohan e ao Goten).

Foto – Bardock do Z x Bardock do Super.

Algo digno a respeito do OVA de 1990 é que Bardock passa a usar uma faixa na testa, que após a morte de seus companheiros na tocaia armada por Freeza e seus capangas fica vermelha após drenar o sangue de um de seus companheiros mortos. Essa cena é uma clara referência a um trecho do segundo filme do Rambo (1985), no qual o personagem interpretado por Silvester Stallone vê a mulher vietnamita Co Bao (pela qual se apaixonou) ser morta por soldados. Para vingar a morte dela, Rambo corta uma faixa do vestido vermelho dela, o coloca em sua testa como uma bandana, e então ataca os soldados.

Também se pode dizer que o fato de Bardock sofrer com os agouros sobre o futuro dele e de seu povo após a expedição ao Planeta Kanassa seja mais uma referência ao Rambo, vinda mais precisamente do livro escrito por David Morell em 1972 que 10 anos mais tarde deu origem ao primeiro filme, visto que tanto no livro quanto no filme Rambo sofre com os traumas da guerra no Vietnã. Em resumo, o Bardock do OVA de 1990 é um verdadeiro Rambo de Dragon Ball.

E por fim, chegamos ao arco do Granola. No arco de Granola, é mostrado que na invasão ao Planeta Cereal pelos saiyanos (quando estes já atuavam como mercenários a serviço de Freeza) lá Bardock estava, e este salvou não apenas a mãe de Granola, como também o próprio Granola e o velho Monaito de serem mortos pelos heeters. Para mim isso foi ridículo, o fim da picada. Se tivesse os salvo por vaidade ou se tudo não tivesse sido uma grande coincidência (que nem o Cavaleiro Ladrão Kiroz em relação à garota Erika no episódio 33 de Maskman) ainda dava para engolir. Mas tê-los salvo por piedade e bondade foi ridículo, o fim da picada. E a impressão que me passa é que quiseram fazer de Bardock como uma espécie de predecessor do Goku.

A meu ver, o ideal para o Bardock e a personalidade do pai de Goku teria sido mostrá-lo como uma personagem bem, digamos, duas caras. Ou seja, como se fosse o Vegeta da saga do Cell (o qual a despeito de amar e estimar seus familiares em algumas oportunidades colocou sua paixão por lutas, típica de seu povo, em detrimento da segurança de sua família), ou mesmo o Caçador Kaura, o personagem de meio de série do seriado tokusatsu do gênero Super Sentai Comando Estelar Flashman. O qual, por sua vez, não tinha o menor remorso em açoitar terceiros com seu chicote elétrico e até mesmo de participar de sequestros de crianças recém-nascidas por um lado, mas por outro era leal a seus companheiros de armas a tal ponto que no final da série se levantou contra o Cruzador Imperial Mess quando o Doutor Keflen resolveu utilizar-se de seus caçadores espaciais como cobaias para fortalecer os monstros mutantes de Mess.

A questão envolvendo não só o Bardock do Super, como também dos saiyanos como um todo, é que o Super vem por meio de retcons porcos (não tem palavra melhor para descrever isso) promovendo uma espécie de branqueamento da história antes estabelecida do povo ao qual pertencem importantes personagens de Dragon Ball, entre eles Goku, Vegeta, Broly, Nappa e Raditz.

Como a própria obra mostra, os saiyanos são um povo de guerreiros que antes mesmo de se aliar ao Rei Cold já eram conquistadores, visto que eles tomaram e conquistaram o Planeta Plant dos tsufurianos após uma longa guerra na qual foram liderados por ninguém menos que o Rei Vegeta III, o pai do Vegeta que nós conhecemos. E uma vez conquistado o Planeta Plant, este foi renomeado como Planeta Vegeta. Tanto que tanto no OVA “Plano para destruir os saiyanos” (1993), quanto na saga Baby de Dragon Ball GT (em minha humilde opinião o ponto alto do GT) vemos intentos vingadores dos tsufurianos para se vingarem dos saiyanos pelo seu extermínio.

Foto – Rei Vegeta sobre uma cidade tsufuriana arrasada (Dragon Ball GT).

Depois de firmada a aliança com o Rei Cold, os saiyanos passaram a fazer parte do exército dele, participando das expedições militares nas quais eles invadiam planetas, os conquistavam e exterminavam os habitantes dos mesmos, e uma vez limpos os planetas eram vendidos a clientes ricos. E não apenas isso: eles também enviavam bebês a planetas com a intenção de conquistá-los. E um desses bebês foi ninguém menos que Kakarotto (vulgo Son Goku), enviado ao Planeta Terra logo após nascer.

E isso continuou depois que o Rei Cold se aposentou e Freeza passou a ser o imperador do universo no lugar de seu pai. Podem ter certeza de uma coisa: não acho que o Rei Vegeta firmou a aliança com o Rei Cold como se fosse alguém que passivamente não teve outra escolha a não ser submeter-se ao pai de Freeza e Kooler. Pelo contrário. Ele tinha os interesses dele nisso. Como, por exemplo, usou-se das batalhas no espaço não apenas como uma forma de controle demográfico dos excedentes populacionais do Planeta Vegeta (algo que a obra, ao que tudo indica, corrobora quando fala sobre os bebês saiyanos de classe baixa enviados a outros planetas com fins de conquista), como também de se livrar de sujeitos potencialmente perigosos a sua autoridade ou que não sabiam fazer outra coisa a não ser lutar. Tudo isso, obviamente, inserido dentro dos jogos de poder dentro do próprio Planeta Vegeta (vide a questão envolvendo Paragas e seu filho Broly tanto no filme de 1993 “Broly – o lendário Super Saiyano” quanto no filme “Dragon Ball Super: Broly”, que terminou com o desterro de pai e filho). Além disso, é razoável supor que o Planeta Vegeta, após a guerra vitoriosa contra os tsufurianos, ficou arrasado e com a infraestrutura muito danificada. Dessa forma, os recursos angariados por meio da venda de planetas a clientes ricos seria uma forma de ajudar na reconstrução do Planeta.

A aliança do Rei Vegeta com Freeza ia bem, até que em determinado momento a aliança entre as duas partes começou a desandar até chegar à fatídica destruição do Planeta Vegeta por Freeza, quando este lançou a Supernova sobre o Planeta Vegeta.

E não só isso: a briga entre os saiyanos e Freeza, que levou à quase extinção dos primeiros por meio da destruição do Planeta Vegeta, nada mais foi que uma briga de poder. De poder e por poder, nada mais. Visto que eles não queriam simplesmente se livrar do jugo de Freeza e dali em diante levar a vidinha deles. Queriam se livrar do jugo de Freeza para eles mesmos se tornarem os senhores do universo no lugar dele, e fazer as mesmas coisas que Freeza até então fazia. E a fala do Rei Vegeta de quando ele se encontra com Freeza no Cruzador Imperial dele deixa bem claro a intenção ulterior dele.

Tendo em mente este fato, podem ter certeza que caso o Rei Vegeta tivesse tido sucesso em sua rebelião contra Freeza, o vencido em combate e se tornado o senhor do Universo no lugar da lagartixa, Bardock seria um dos mais ardorosos apoiadores da política expansionista do Rei Vegeta e seria um dos primeiros a se alistar para poder tomar parte em expedições militares a outros planetas (talvez ele até poderia entrar em atrito com o soberano do Planeta Vegeta por questões secundárias, mas no essencial os dois estariam de acordo). E caso ele fosse rei do planeta natal dos saiyanos, ele daria continuidade à política de conquistas interplanetárias do Rei Vegeta. E isso ajuda a tornar o branqueamento do Bardock e da história dos saiyanos ainda mais lamentável.

Olhando para trás, pode-se dizer que o branqueamento da história dos saiyanos começa com o fato, mencionado no filme “A Batalha dos Deuses”, de 2013, de que Yamoši, aquele que foi o primeiro lendário Super Saiyano e que deu origem à lenda do mesmo, junto com cinco companheiros, deu início a um levante contra os assim chamados saiyanos malvados, mas que no fim das contas foi vencido e morto por eles. Ou seja, pode-se dizer que a introdução de Yamoši e o Deus Super Saiyano na história foi o balão de ensaio do branqueamento da história dos saiyanos que hoje vemos em Dragon Ball. Só que para mim, um fã de Dragon Ball de longa data (mais precisamente, desde 1999, quando o Cartoon Network trouxe para cá a fase Z), e alguém de quase 40 anos e que se formou em história, esse tipo de narrativa não cola.

E ai vocês perguntar-me-ão: para que serve este branqueamento da história dos saiyanos nas novas histórias de Dragon Ball? Porque esse branqueamento da história dos saiyanos que vemos em Dragon Ball Super não veio do nada. Talvez é uma forma de deixar a história dos saiyanos mais, digamos, palatável ao mundo de politicamente correto e de cultura woke dos dias hodiernos. Para isso eles eliminam da história dos saiyanos os elementos mais indigestos e inconvenientes ao politicamente correto dos dias de hoje e a branqueiam e a reescrevem para adequá-la segundo os ditames e tendências atuais. Dão uma maquiada por meio de contos da carochinha como os saiyanos bons e os malvados. E assim sai o saiyano conquistador de planetas que na hora do combate não tinha o menor remorso em matar terceiros visto no Z e entra o novo saiyano mais limpinho e cheirosinho que vemos no Super (vide o Bardock apresentado no arco do Granola). No caso específico de Bardock, tiraram as referências que remetem ao Rambo, um dos grandes personagens dos filmes de ação dos anos 1970, 1980 e 1990. Filmes esses que tinham como principais estrelas atores como o próprio Sylvester Stallone, além de outros como Charles Bronson, Mister T, Jet Li, Jackie Chan, Bruce Lee, Bruce Willis, Arnold Schwarzenegger, Robert De Niro, Mel Gibson, Dolph Lundgren, Chuck Norris, Jean Claude Van Damme e outros tantos. Resumindo a ópera, sai o brucutu de outrora, entra o frangote sensível, limpinho e cheirosinho dos dias hodiernos que o sistema promove.

O fato é que com o branqueamento da história dos saiyanos o Super destruiu com o grande plot twist, a grande ironia do destino, da história de Dragon Ball. Goku foi enviado do Planeta Vegeta prestes a ser destruído por Freeza, e de lá enviado ao Planeta Terra com a intenção de destruir e conquistá-lo. Mas ele bateu a cabeça em um rochedo, foi criado pelo velho artista marcial Son Gohan e no fim das contas se tornou o grande protetor da Terra. Tudo isso foi eliminado nos retcons do Super, no qual uma nova história foi escrita na qual Goku foi enviado ao Planeta Terra pelos pais para que ele lá chegasse em segurança e fosse salvo da iminente destruição do Planeta Vegeta por Freeza.

E isso não é tudo. O meu desgosto com os rumos que Dragon Ball vem tomando desde o início do Super não se limita apenas a essa questão do branqueamento da história de Bardock e dos saiyanos de modo geral. Começa pelo fato que as transformações do Super mais parecem o Felipe Neto (vulgo Blaze Boy) pintando o cabelo dele a cada hora de uma cor diferente. Até mesmo as transformações do Freeza e do Piccolo estão nessa vibe de recolor.

O último filme, “Dragon Ball Super – Super Hero”, lançado no ano retrasado, também não me agradou nem um pouco. E o que é pior: ficou com uma vibe bem de segunda divisão. Ao deixarem o Goku, o Vegeta e o Broly de lado para focar no Gohan, Piccolo e outros, literalmente fez um nivelamento por baixo. E para piorar ainda mais as coisas, transformaram o Cell, o meu vilão favorito da obra, em um monstro burro e irracional saído de seriados tokusatsu (até teve luta do Piccolo gigante contra o Cell Max que claramente faz referência aos seriados tokusatsu mais antigos).

E pelo que eu vi dos scans do vindouro capítulo 101 do mangá de Dragon Ball Super, parece que Dragon Ball foi relegado à terceira divisão, visto que no novo capítulo Goten e Trunks parece que vão brincar de Grande Saiyaman. Toyotaro, Akira Toriyama, não sei o que vocês têm na cabeça, mas é melhor endireitarem e pensarem melhor na história de Dragon Ball, ou deem por concluído a história da obra para não passar por mais papelão.