sexta-feira, 23 de março de 2018

Carta a Rogério Betin: Rede Globo e Marielle, convergências e divergências.



Foto – Rogério Betin.
Caro Rogério Betin, eu vi teus vídeos a respeito do caso Marielle Franco e gostaria de lhe fazer alguns apontamentos a esse respeito, visando dar-lhe um complemento a respeito de tudo o que você falou nos vídeos até agora postados em seu canal, especialmente a respeito do que a Rede Globo está fazendo com a deputada psolista recentemente finada (cuja cinebiografia será dirigida por Paula Barreto e que ainda não tem data de lançamento).
Primeiro, achei teu comentário a respeito da ligação entre esquerda e corrupção no mínimo muito estúpido e infeliz, além de impreciso. No que tange ao tema da corrupção, te recomendo ler as obras do Jessé Souza, entre elas “A tolice da inteligência brasileira”, “A radiografia do golpe: entenda como você foi enganado” e “A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato” (em especial o terceiro e último). Como já dito anteriormente várias vezes, a verdadeira boca de fumo da corrupção se encontra no sistema financeiro e os políticos envolvidos nesses esquemas nada mais são que os aviõezinhos que ficam com as sobras do saqueio. Tais fatos grandes meios de comunicação como a própria Rede Globo (que, diga-se de passagem, é uma porta-voz desse mesmo sistema financeiro) sistematicamente ocultam à população.
E segundo que o problema da corrupção é multipartidário e tem perpassado governos ao longo da história do país. Até pelo fato de que tal problema bem antes do PT chegar ao poder existia (haja vista que o procurador-geral da República durante o governo FHC, Geraldo Brindeiro, era carinhosamente chamado de o “engavetador-geral da República”). O que acontece é que tema é tratado pela grande imprensa brasileira, em especial a Rede Globo (a mesma Globo que recebeu vultuosos investimentos das administrações Lula e Dilma nesses anos todos, os quais erroneamente acharam que iam domar o dragão global com ração) na base de dois pesos e duas medidas: a corrupção petista geralmente é amplamente alardeada e denunciada por esses meios, verdadeiro carnaval em cima é feito. Já o mesmo destaque não é destinado para com a corrupção de partidos ideologicamente mais afinados com os grandes meios de comunicação tais como o PSDB, o DEM e o PMDB (incluindo casos como trensalão paulista, Banestado e mensalão mineiro). E a farsesca Operação Lava Jato repete esse modus operandi com a perseguição feroz política que faz ao PT por meio de processos judiciais em conluio com essa mesma imprensa podre enquanto que passa a mão nos outros. Isso para não falar de corrupção envolvendo o poder judiciário e a própria Lava Jato que igualmente é ocultada por essa mesma imprensa putrefata (haja vista o pouco-caso que a Globo fez das denúncias do Tacla Duran).
Quanto os partidos que estão querendo se promover estão em cima do cadáver dela, isso realmente é lamentável. E isso a meu ver é um grande desserviço da parte deles, pois assim está se perdendo uma oportunidade dourada para que se faça uma grande investigação e assim desvendar as ligações do narcotráfico e das milícias com eminentes figuras do mundo civil tais como políticos, juízes, empresários, desembargadores, policiais e outros bacanas. Em outras palavras, descobrir o que o iceberg do narcotráfico esconde por baixo do mar. No que possivelmente poderia levar a uma conexão Minas Gerais (podendo assim juntar o trabalho de Marielle com as investigações feitas pelo finado policial Lucas Gomes Arcanjo contra figuras do alto escalão do tucanato mineiro, tais como Aécio Neves, Antônio Anastasia, Aloysio Nunes e Zezé Perrella e explicar de onde veio os 430 quilos de cocaína do helicoca e o que Aécio Neves fazia em suas constantes idas ao Rio de Janeiro enquanto foi governador de Minas Gerais), São Paulo (e assim desnudar as ligações do PCC com figuras do tucanato paulista como Geraldo Alckmin e com Alexandre de Morais) e até a conexões com o Centro-Oeste (no que poderia ajudar a explicar como o empresário Breno Borges Solon, filho da desembargadora Tânia Borges, conseguiu os 130 quilos de maconha e todas aquelas munições) e outras partes do país, talvez até a ligações internacionais. Até por que o poder do narcotráfico não se resume aos traficantes da favela. Ele é o problema que é justamente por causa de toda essa rede de articulações e ligações entre bacanas e traficantes. Pessoas como Aécio Neves (que segundo Lucas Gomes Arcanjo tem ligações com o narcotráfico internacional) e Zezé Perrella só tem a agradecer a essa gente do PSOL que ventila aos quatros ventos que Marielle foi morta por ser negra, mulher e lésbica.
Agora vamos ao ponto principal: Globo e Marielle. Algo no mínimo muito intrigante nessa história toda é o fato de que a mesma Globo que hoje exalta a figura de Marielle Franco é a mesma Globo que tem todo um histórico de antipatia para com partidos e organizações populares desde os anos 1950, quando junto com a República do Galeão ajudou a levar Getúlio Vargas ao suicídio (isso quando ainda era um jornal). Posteriormente apoiou o golpe de 1964, cresceu e se tornou o império midiático que é durante o período civil-militar, fez de tudo para fazer Moreira Franco se eleger governador do Rio de Janeiro em 1982 em detrimento de Leonel Brizola (no que deu origem ao escândalo Proconsult), apoiou Collor contra Lula nas eleições de 1989 (e posteriormente se desfez de Collor três anos mais tarde), demonizou os CIEPs enquanto Brizola foi governador do Rio de Janeiro, promoveu uma feroz guerra informativa contra Brizola nos anos 1980 e 1990 (lembremo-nos do episódio do direito de resposta de Brizola à Rede Globo ocorrido em 1994 que foi lido no Jornal Nacional e que o político gaúcho teve que esperar dois anos para ser veiculado), deu chancela ao projeto neoliberal de FHC e mais recentemente apoiou a farsa da Operação Lava Jato e o impeachment fraudulento contra Dilma Rousseff e hoje faz em seus jornais campanha para que Lula seja preso. Não é a toa que Leonel Brizola uma vez disse que “quando vocês tiverem dúvida quanto a que posição tomar diante de uma situação, atentem: se a Rede Globo é favor, somos contra. Se for contra, somos a favor!” e que almejava rever a concessão da Rede Globo caso fosse eleito presidente.

Foto – A famosa frase de Leonel Brizola sobre a Rede Globo.
Mas, se a Globo tem todo um histórico de mais de meio século de antipatia a políticos, organizações, partidos e governos de esquerda, como explicar o motivo pelo qual em relação ao PSOL não há a mesma animosidade? Simplesmente pelo fato de o PSOL ser um partido de esquerda palatável à Rede Globo, na medida em que toda a pauta do partido é reduzida a pautas comportamentais e de costumes. A tal ponto que a concepção de mundo de ambos serem praticamente idênticas e o fato de o principal reduto psolista no Rio de Janeiro ser a Zona Sul (a mesma Zona Sul de onde vêm muitos dos atores globais que lá fazem suas passeatas por pautas inócuas e se enchem de drogas). Ou seja, as pautas do PSOL não tocam nas mazelas do sistema.
Recentemente, Paulo Henrique Amorim postou em seu canal no YouTube um vídeo falando sobre as divergências ideológicas entre Marielle e a Rede Globo (entre elas a questão da educação pública). Até ai tudo bem. Só que peca em não falar das convergências ideológicas existentes entre os dois, pois justamente são essas convergências que a tornam uma figura palatável para a Rede Globo. Ou será que a Rede Globo, a mesma Rede Globo que tanto quer a cabeça de Lula para ser exibida pelo William Bonner no Jornal Nacional como se fosse um troféu de caça, teria a ousadia de fazer um filme exaltando o finado Leonel Brizola?
O PSOL do qual Marielle fez parte em vida não é um partido de massas como o PDT e o PT, defende pautas tais como ideologia de gênero, direitos GLBT (sendo que a própria Globo vem veiculando novelas com temática GLBT desde os anos 1990) e liberação do aborto e em questões de política exterior apoiou as intervenções e revoluções coloridas incitadas pelo Ocidente “livre e democrático” contra regimes como a Líbia e a Síria em 2011 e a Ucrânia em 2014. Inclusive no próprio PSOL há quadros que apoiam a Operação Lava Jato, como é o caso da ex-petista Luciana Genro. Isso para não falar do fato de o ex-BBB Jean Wyllys ser a favor do estado de Israel (questão essa onde ele converge com Jair Bolsonaro), ter votado contra um projeto que limitaria os abusos midiáticos dos grandes veículos de comunicação e ter comemorado a liberação do casamento entre pessoas do mesmo sexo nos EUA. O PSOL faz parte junto com partidos como o PSTU daquilo que Rui Costa Pimenta chama de a “esquerda pequeno-burguesa”, na medida em que não defende melhoras das condições de vida da população mais humilde (incluindo melhor divisão salarial da renda, saneamento básico, saúde, educação e transporte). Ou seja, é a esquerda que o sistema gosta na medida em que no máximo prega reformismo dentro de seus marcos. O que na prática é o mesmo que perfumar fezes.
Em realidade, o que o PSOL prega nada mais é que um liberalismo de esquerda xerocado do Partido Democrata dos EUA. Em outras palavras, os verdadeiros referenciais de partidos como o PSOL não são Marx, Engels, Lenin, Stalin, Mao Zedong ou Kim il-Sung, e sim Barack Obama e Hillary Clinton (a mesma Hillary Clinton que foi a grande responsável pela destruição da Líbia Verde junto com o francês Nicolas Sarkozy). Partido esse que é o favorito da maioria dos artistas de Hollywood e que ao contrário do que muitos da direita do figurino republicano pensam de revolucionário nada tem, já que não propõe uma mudança revolucionária da sociedade norte-americana a ponto de destruir e desmantelar o establishment político que manda no país por trás das cortinas (establishment esse que inclui Pentágono, Wall Street, Departamento de Estado, CIA, FBI e a indústria armamentista, além de outros como figurões da política e do empresariado americano). Establishment esse que manda no país independente da afiliação a qual pertença o presidente que ocupe a Casa Branca, seja ele democrata ou republicano, agindo como um Estado profundo.
E, como você deve saber, na política partidária estadunidense a Rede Globo é afinada ideologicamente com os Democratas. Haja vista, por exemplo, que a Rede Globo mostrou-se simpática a Barack Obama ao longo desses anos todos e que no último pleito presidencial norte-americano fez torcida por Hillary Clinton em detrimento de Donald Trump. Que eu me lembre, a Rede Globo nunca se mostrou favorável a presidente republicano algum. É isso torna um partido como o PSOL palatável para a Rede Globo. No essencial, o PSOL e a Rede Globo estão de acordo. Podem ter algumas divergências quanto a temas menores, mas no essencial estão de acordo. E o fato de a Rede Globo apoiar muitas das mesmas pautas que partidos como o PSOL apoiam não muda o fato de que em sua essência a Vênus Platinada é uma entidade reacionária até a medula.

Foto – Marielle Franco (1979 - 2018).
Agora, o que será que a Rede Globo quer com toda essa exaltação para com a figura da recém-finada deputada psolista? Obviamente, como já dito antes, quer aplicar uma alfinetada em Michel Temer, dentro do contexto da queda de braço entre o vampirão e a Vênus Platinada. E em menor medida em Jair Bolsonaro (diga-se de passagem, note-se que ao mesmo tempo em que a Globo é refratária a partidos de massa como o PT e o PDT é igualmente refratária a Jair Bolsonaro, na medida em que este não comunga com o discurso liberal pós-moderno da Rede Globo), com objetivos eleitoreiros visando favorecer seus favoritos do momento dentro da direita brasileira. Também quer cinicamente posar-se como a defensora dos direitos dos moradores das favelas e fazer a mais cínica média com a esquerda brasileira, mostrando nesse momento de processo de lawfare contra Lula e os petistas que ela não é tão refratária à esquerda quanto as pessoas pensam. É a Rede Globo mais uma vez se comportando como o quarto poder da sociedade brasileira como tem sido já faz algum tempo.

ADENDO (26/03/2018)
Recentemente, navegando pelo Facebook, me deparei com a seguinte foto, postada faz alguns dias:

Foto – George Soros elogiando a finada Marielle Franco.

Trata-se do megaespeculador George Soros, o mesmo George Soros que esteve por trás da liberação da maconha no Uruguai e que é o grande mecenas da New Left. Enquanto que os irmãos Koch são os grandes mecenas da direita do figurino do Partido Republicano, George Soros exerce essa mesma função em relação à esquerda do figurino do Partido Democrata (embora eu não descarte a possibilidade de ambos jogarem dos dois lados do espectro político). E ainda em nome da Open Society, a mesma ONG que financia as famigeradas revoluções coloridas mundo afora, afirma que “Marielle Franco era uma campeã pelos residentes das favelas do Rio. Após seu assassinato seu legado e trabalho por um futuro mais humano vive”. Assim tudo se encaixa. A comoção da mesma imprensa venal que quer a cabeça de Lula, a Globo querer fazer filme sobre ela, George Soros a elogiando, comprovando o que falei acima. Que para o sistema que está ai e da qual a grande imprensa venal é parte constituinte ela é uma figura palatável.

Fontes:
A Globo é contra tudo o que a Marielle defendia. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=439-VRcxjQU&t=1s&ab_channel=ConversaAfiadacomPauloHenriqueAmorim
A vida de Marielle Franco vai virar filme! O que estaria por trás disso? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Uvxjvdvif94&ab_channel=RogerioBetin
SOCIEDADE: o frenesi dos avatares coloridos e a doutrina dos manipulados. Disponível em: http://apaginavermelha.blogspot.com.br/2015/11/sociedade-o-frenesi-dos-avatares.html

domingo, 18 de março de 2018

O caso Marielle Franco e a colombização do Brasil.



Foto – Marielle Franco (1979 – 2018).
Coxinha politicamente analfabeto pertencente às alas mais reacionárias da classe média e defensor do Brasil de figuras como Paulo Skaf, João Paulo Lemann, as famílias Villela, Setúbal e Marinho, dos barões do agronegócio, dos juízes e desembargadores fura-teto (entre eles os Judges Murrow e Bretas e os desembagrinhos[1] que votaram a favor da condenação de Lula) e outros elementos da elite do atraso, meus parabéns, pelo visto seu sonho está tornando realidade. O Brasil não está se transformando em uma grande Venezuela, Cuba ou Coreia do Norte como você tanto deseja. O teu pesadelo não se tornou realidade, só que para teu infortúnio o Brasil está para se transformar em algo infinitamente pior: uma nova Colômbia ou um novo México. Onde vigora um regime de narco-terror de Estado altamente truculento para com seus opositores e onde muito perigoso é criticar o governo, os cartéis, as milícias e as grandes empresas (e lembrando que os dois países são aliados dos Estados Unidos). E a morte da vereadora psolista Marielle Franco (morta com três tiros na cabeça e um no pescoço junto com o motorista do carro onde estava), ocorrida em 14 de março de 2018 e que foi antecedida nos últimos anos por um crescente número de mortes de ativistas de direitos humanos, é sintomática disso.
Primeiramente, é uma morte lamentável. Fica nossas condolências a ela, seus familiares e amigos (assim como ao motorista de seu carro). Certamente, sua morte foi encomendada por aqueles que ela periodicamente denunciava. E quem eram os alvos das denúncias da política fluminense, eleita vereadora pelo PSOL em 2016? Temos nossas discordâncias ideológicas como o que ela e seu partido, o PSOL (que prega um liberalismo de esquerda xerocado do Partido Democrata estadunidense), mas isso não muda o fato de que Marielle Franco era crítica da intervenção federal no Rio de Janeiro e da Polícia Militar, frequentemente denunciava abusos de autoridade por parte de policiais contra moradores de comunidades carentes (incluindo denúncias ao 41º batalhão do PM, o “Batalhão da Morte”), assim como a máfia dos ônibus e a violência miliciana. Também foi escolhida como há pouco para ser a relatora da Comissão da Câmara dos Vereadores que ia acompanhar a intervenção militar.
Isso está inserido dentro de um contexto em que o narcotráfico estende seus tentáculos dentro das instituições políticas brasileiras, a começar por fatos como o advogado do PCC Alexandre de Morais ter sido nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal, o fortalecimento de facções criminosas ligadas ao PCC em vários estados da nação, mais escândalos envolvendo aviões e helicópteros carregados de drogas em fazendas de políticos, enfraquecimento proposital das fronteiras por parte do governo Temer e revelações feitas por grandes traficantes sobre o grau de influência que eles possuem nas esferas municipal, estadual e federal, a execução de 14 candidatos na região da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro (assim como muitos outros em várias partes do país).
Mas o mais triste disso tudo não é nem a morte em si, e sim a repercussão que ela gerou. Em redes sociais como o Twitter, falam que ela foi morta por ser mulher, negra, GLBT. Sobrou até para os eleitores de Jair Bolsonaro. Para nós do RTM, que somos partidários da direita dos valores e da esquerda do trabalho, isso é irrelevante para baixo e enojados nos sentimos dessa politização que tem sido feita em torno de sua morte. Ou será que o Marcelo Freixo não será um das próximas vítimas no momento em que ele começar a criticar as UPPs e baixar a guarda? Marielle não foi morta por ser GLBT, mulher ou negra. Um discurso desses é tão ou mais estúpido e alienante quanto o discurso dos elementos da direita que falam que ela era associada ao narcotráfico (versão essa divulgada pela desembagrinha Marília Castro Neves [a mesma que soltou um dos chefões da máfia dos ingressos na Copa do Mundo] e posteriormente desmentida pelo procurador Sidney Madruga), que isso foi uma ação entre bandidos e discursos afins, já que não tocam no ponto nevrálgico da questão.
Diga-se de passagem, algo para mim no mínimo bem curioso e intrigante é que a morte do policial civil Lucas Gomes Arcanjo, ocorrida no ano retrasado sob circunstâncias igualmente suspeitas (tendo sido encontrado em sua casa com uma gravata amarrada no pescoço na janela de seu quarto), na época não teve a mesma repercussão que a morte de Marielle agora está tendo. Lucas Gomes Arcanjo, que também era negro, em seus últimos anos de vida fez uma série de denúncias com provas contra Aécio Neves, incluindo seu envolvimento com o narcotráfico e até mesmo um esquema de lavagem de dinheiro junto com Antônio Anastasia (o mesmo Anastasia que quando foi governador de Minas Gerais usou e abusou de pedaladas fiscais e depois foi um dos relatores do impeachment de Dilma Rousseff). Em seu último vídeo postado no You Tube, podemos ver o policial angustiado, indignado e revoltado não só com a parcialidade da justiça brasileira como também da mídia brasileira (incluindo a Rede Globo). Mas por que escolhi falar de Lucas Gomes Arcanjo em específico e não dos inúmeros policiais mortos nessas operações contra o tráfico, entre outros? Pelo simples fato de que tanto Lucas Gomes Arcanjo quanto Marielle Franco espalharam m* no ventilador para o lado de representantes do aparato repressor do Estado profundo brasileiro e suas ligações nebulosas com o narcotráfico e outras organizações criminosas (ligações essas que o filme Tropa de Elite 2 muito bem mostra, diga-se de passagem) e por eles tiveram suas vidas ceifadas, para servirem a população de exemplo sobre o que irá acontecer a quem fizer a menor contestação a seu poder.

Foto – Lucas Gomes Arcanjo (1971 – 2016).
Dentro desse estado profundo associado ao crime organizado não apenas estão políticos como Zezé Perrella e Aécio Neves como também figuras como grandes empresários, juízes, advogados, desembargadores, policiais e outros bacanas (entre os quais possivelmente se incluem, por exemplo, os delegados aecistas que ofenderam Dilma nas redes sociais durante o pleito presidencial de 2014). Ou será que o traficante Breno Borges, filho de uma desembargadora, conseguiu aqueles 130 quilos de maconha e de munições (incluindo armas usadas só pela PF e pelo PCC) do nada? Ligações essas que Paula Marisa parece ignorar, a julgar por suas falas em seu vídeo sobre o caso.
Algo também digno de nota é o vídeo que Nando Moura postou sobre o recente ocorrido, onde ele fala que a Rede Globo está a beatificando em seus programas. Isso, assim como a veiculação da música “eu só quero ser feliz” no Domingão do Faustão dias antes, tem de ser visto dentro do contexto da queda de braço entre Michel Temer e a Rede Globo (sobre o qual falamos no artigo anterior), com a Vênus Platinada utilizando esse caso para alfinetar o vampirão e abrir caminho para que suba ao poder o favorito do momento da emissora da família Marinho, Rodrigo Maia. Em outras palavras, a emissora da família Marinho está politizando essa morte do seu modo e visando seus fins escusos de sempre.
O deputado Lindbergh Farias se pronunciou a respeito do caso, condenando a execução da deputada carioca. Entre outras coisas, Lindbergh disse que a política de guerra contra as drogas é um eufemismo para uma política de massacre aos pobres (e com os auspícios das alas mais reacionárias da classe média, diga-se de passagem) e que a guerra às drogas é um fracasso total. Concordo com a primeira assertiva, mas não com a segunda. A guerra às drogas é de fato um fracasso total como certos setores da esquerda liberal pós-moderna apregoam ou será que na verdade ela foi feita para ser um fracasso, tendo em vista que o tráfico de drogas é um comércio bilionário onde pessoas poderosas da política e do grande empresariado estão envolvidos (entre eles o megaespeculador George Soros)? Será que em algum momento a guerra às drogas se propôs e realmente quis resolver tal problema, que nem foi feito com sucesso estrondoso na China durante a era Mao em relação ao problema do ópio? Olhando por esse prisma, a guerra contra as drogas de forma alguma é um fracasso. Pelo contrário. Nunca que essa gente vai querer matar sua galinha dos ovos dourados.
Em seu vídeo a respeito do caso, Eduardo Guimarães disse que o assassinato de Marielle Franco é um recado a todos aqueles que se opuserem ao novo governo, às autoridades instituídas e seus negócios escusos. Em um sentido mais amplo, sim concordo com o blogueiro. E em um sentido mais restrito é um recado daqueles que comandam as milícias e o tráfico de que eles não vão admitir contestação a seu poder e que as consequências muito duras serão para aqueles que resolverem espalhar seus podres à população.
Tendo em vista tais fatos, será que um dos motivos pelos quais derrubaram Dilma Rousseff ano retrasado por meio daquele processo fraudulento e fazem o que fazem com Lula não teria sido a instalação de um Estado narco-terrorista similar ao que já existe na Colômbia e no México (tipo de Estado esse que certamente também será implantado na Venezuela caso Nicolás Maduro e o regime bolivariano seja deposto) e que sirva de rota de abastecimento de droga para os EUA e outros mercados das nações hegemônicas? E que é isso que o Plano Atlanta reserva não só para o Brasil como também para toda a América Latina, de forma a criar estados-zumbis (tal como feito no Mundo Islâmico com a Líbia e o Iraque e como tentam fazer na Síria desde 2011) em toda a região que estejam em uma situação de entropia e desagregação interna tal que muitos anos, talvez décadas ou até séculos, demorem para atingir o patamar socioeconômico em que estavam até recentemente e que não desafiem e sejam servis aos Estados Unidos tal como a Colômbia e o México o são e assim afirmando a posição hegemônica de Washington no continente americano? Tendo em vista que no Afeganistão os Estados Unidos derrubaram o Taliban do poder para restabelecer o tráfico de ópio e heroína que os partidários do Mullah Omar tinham desbaratado (nada muito diferente do que a Inglaterra fez no século XIX nas guerras do ópio contra a China, diga-se de passagem), não descarto essa possibilidade.
O que Manolo Pichardo soltou em suas falas a respeito do Plano Atlanta certamente apenas é a ponta do iceberg, e aquela reunião onde ele esteve presente em 2012 de penetra certamente não foi a única em que tais planos foram traçados. Talvez, apenas daqui a 40 anos (no mínimo), quando documentos relativos a essa articulação supranacional forem enfim liberados e tornados públicos, saberemos de tudo o que foi delineado nessas reuniões, quem foram os atores políticos e jurídicos ali presentes, entre outras coisas. E até lá muitos de nós já estaremos mortos. Como também questão de tempo será aqui no Brasil aparecer grandes traficantes do porte de um Pablo Escobar ou de um El Chapo se nada for feito contra. Diga-se de passagem, não vejo a esquerda brasileira dando a devida atenção ao Plano Atlanta.
Fontes:
Aécio e Anastasia – Negócios escusos. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NU6u0ZtCA_k&ab_channel=ROBERTOSTARCKLEMOS
Colunistas do COTV: “Marielle Franco – execução sob a proteção da intervenção militar”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bDw-gXAxvcw&ab_channel=CausaOperariaTV
Cresce o número de assassinatos de ativistas de direitos humanos no Brasil, aponta Anistia Internacional. Disponível em: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/cresce-o-numero-de-assassinatos-de-ativistas-de-direitos-humanos-no-brasil-aponta-anistia-internacional/
Filho de desembargadora solto na madrugada de sexta é considerado de alta periculosidade pela PF. Disponível em: https://www.revistaforum.com.br/blogdorovai/2017/07/23/filho-da-desembargadora-solto-na-madrugada-de-sexta-e-considerado-de-alta-periculosidade-pela-pf/
Lindbergh: morte de Marielle representa o fracasso da política de “guerra às drogas”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fnawAnzgMAU&ab_channel=PTnoSenado
Lucas Gomes Arcanjo. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lucas_Gomes_Arcanjo
Marielle Franco – SANTA da Rede Globo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cXgRCPoY9Kw&ab_channel=NandoMoura
Morte da vereadora foi “recado à esquerda”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HbWL-HmyVqk&ab_channel=BlogdaCidadania
O desabafo de Lucas Gomes Arcanjo em seu último vídeo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=egoKb2jznag&ab_channel=GilbertoLima
Vereadora assassinada no Rio de Janeiro. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=c6nLoUKqdms&t=7s&ab_channel=PaulaMarisa

NOTA:


[1] Termo que Paulo Henrique Amorim utiliza para se referir aos desembargadores João Pedro Gebran Neto, Victor Laus e Leandro Paulsen de forma irônica e sarcástica.

sexta-feira, 16 de março de 2018

Considerações sobre o desabafo de Faustão.



Foto – Fausto Silva, o Faustão.
Em 12 de maio de 2018 Rogério Betin (notório por ter feito várias denúncias de supostas irregularidades e trambiques envolvendo Felipe “Malakoi do hebraico” Neto) postou um vídeo em seu canal comentando a respeito do recente desabafo do apresentador Fausto Silva, o Faustão, onde ele se recusou a cantar a música “hoje é um novo dia” por achar que não há clima para isso (a ponto de dizer que o tal “novo dia” nunca chega) e que só isso fará quando realmente for um novo dia. Faustão também fez críticas ao governo Temer. O apresentador global disse, entre outras coisas, que o governo nada faz para a população e a rouba. Faremos algumas considerações a esse respeito.
Primeiro de tudo: grande coisa o Faustão ter tecido críticas ao presente governo. Criticar o governo e os políticos que ai estão a coisa mais fácil do mundo é. É como bater em bêbado de rua. Queria muito ver se Fausto Silva teria peito para espalhar merda no ventilador para cima de bancos, especuladores, agiotas e outros atravessadores financeiros que patrocinam veículos da grande mídia como a própria Rede Globo (os quais também compram políticos e juízes para que eles legislem em seu favor). Como já dito aqui no blog várias vezes antes, o sistema financeiro é onde a boca de fumo da corrupção se encontra. Queria ver se uma denúncia contra o sistema financeiro, seus representantes (Itaú, Bradesco, Santander e outros) e o bolsa banqueiro que enche os bolsos dessa gente por meio das altas taxas de juros com que se paga o serviço das dívidas interna e externa iria ao ar em plena tarde de domingo.
Também gostaria muito de ver se a Rede Globo ia deixar o Faustão espalhar merda para o lado do Judge Murrow, do Judge Bretas e outras estrelas da Lava Jato e cobrar explicações sobre as denúncias do Tacla Duran, as relações do casal Moro com o advogado e padrinho de casamento Carlos Zuccolotto, sobre o auxílio-moradia e outros benefícios que eles ganham e que ajudam a turbinar seus salários à revelia da lei, sobre o caso Banestado, sobre o fato de terem reduzido as penas daqueles que fizeram delação contra Lula (entre eles Alberto Yousseff e Nestor Cerveró) e quem sabe até falar sobre as relações do Judge Murrow com o doleiro Dario Messer. No que seria no mínimo uma bela de uma torta na cara no esquema Car Wash (diga-se de passagem, no caso específico da corrupção dentro do poder judiciário, vejo veículos midiáticos direita falarem sobre isso, mas nunca colocarem o nome das estrelas da Car Wash no meio). Quem sabe até espalhar a merda em cima do ventilador da própria Globo a respeito de como ela foi salva no primeiro governo Lula, os R$ 2 bilhões que deve de impostos ao governo de sonegação fiscal, os negócios escusos da Globo na transmissão de jogos de futebol e outros trambiques na qual a emissora da família Marinho está envolvida.
A julgar por suas falas, tanto Faustão (que em determinado momento cobra que as pessoas votem melhor e diz que “urna não é penico”) quanto Rogério Betin parecem ignorar o já aqui citado fato de que a boca de fumo da corrupção não está nos políticos, e sim no sistema financeiro. Tais políticos, como Jessé Souza aponta em suas obras, são como os aviõezinhos do narcotráfico: aqueles que fazem o serviço sujo dos traficantes, se expõe à polícia e que ficam com as sobras do saqueio que fazem.
Faustão também diz que o Brasil é o único lugar do mundo onde o Governo nada faz por você e que ele te rouba. Faustão parece ignorar o fato de que no mundo capitalista o Estado tem seu caráter de classe (algo que Karl Marx constatou em meados do século XIX), e um governo como de Michel Temer, um representante orgânico da elite do atraso, não é exceção. O governo Temer nada faz por você pelo simples motivo de que ele está ai justamente para esse fim. Para esfolar o povo em nome do sistema financeiro nesse período de crise econômica. Michel Temer e sua canalha ao poder foram alçados para servir e remunerar por meio do serviço da dívida, perdão de dívidas do imposto de renda (como os R$ 25 bilhões perdoados ao Itaú pelo vampirão) e aplicação de uma draconiana política neoliberal de arrocho e retirada de direitos (da qual o PT jamais se atreveria a fazer na intensidade que essa gente deseja) nesse momento de crise econômica o sistema financeiro e seus representantes (sem esquecer de seus sócios menores que também especulam com as altas taxas de juros, tais como industriais, multinacionais, agronegócio, fundos de pensão, empresas de mídia e outros).
E achar que governos que nada fazem pela população é uma jabuticaba exclusiva do Brasil é ser no mínimo muito ingênuo e politicamente analfabeto. Ou será que ele já ouviu falar de governos como os de Carlos Salinas de Gortari no México, Carlos Andrés Perez na Venezuela (durante cujo governo aconteceu o famoso Caracazzo), Gonzalo Sánchez de Lozada na Bolívia, Augusto Pinochet no Chile, Carlos Menem e Mauricio Macri na Argentina e de Boris Jel’cin na Rússia, os quais aplicaram em seus respectivos países a mesma agenda neoliberal que aqui FHC aplicou e Michel Temer aplica no presente momento (e que a própria Globo quer que seja aprofundado)? Ou mesmo Ronald Reagan e sua reaganomics nos EUA e Margareth Thatcher na Inglaterra (onde cortes em programas sociais foram feitos e cujas políticas inspiraram as políticas neoliberais aplicadas na América Latina nos anos 1990)? E Rogério Betin endossa tais críticas de Faustão ao governo, o qual taxa o governo de incompetente e que gesta mal os recursos da nação. Mal sabem eles que a parte do leão da má gestão dos recursos públicos não é para remunerar o funcionalismo público, empresas estatais ou para investir em programas sociais, e sim para remunerar o rentismo financeiro por meio do sistema da dívida e as altas taxas de juros (taxas essas que Dilma Rousseff tentou reduzir em seu primeiro governo, mas que não teve o devido sucesso devido à resistência dos setores da economia ligados ao sistema financeiro).
Faustão demonstrou um analfabetismo político que a uma emissora como a Rede Globo, envolvida em todo tipo de trambique e falcatrua, é muito conveniente. E assim mais uma vez os políticos são utilizados como bode expiatório das mazelas que afligem o cidadão comum e ajudando a perpetuar nas pessoas a falaciosa ideia da corrupção apenas entre os políticos, nunca do setor privado. Em outras palavras, a corrupção apenas do prefeito Quimby, nunca do Senhor Burns. Mas o que mais impressionou ai não é nem a “fulanização da corrupção” feita pelo próprio Faustão, e sim a hipocrisia e o cinismo da Rede Globo, tendo em vista que desde o segundo governo Vargas nos anos 1950 a Globo vive sabotando e difamando todo governo e qualquer de caráter popular que resolva dar alguma atenção à população mais carente do país.
Sobre o fato de Rogério Betin ter dito que em países do Primeiro Mundo as pessoas não quererem levar vantagem em tudo como aqui no Brasil, eu particularmente tenho minhas vidas. Será que essa é uma jabuticaba exclusiva do Brasil? E será que no Primeiro Mundo comportamentos similares não existam, ainda que não sejam tão disseminados e escancarados como por aqui?
E sobre o fato de no programa ter sido veiculada a música “eu só quero ser feliz”, da dupla de rappers Cidinho e Doca (originalmente lançada em 1995) e da indagação de Rogério Betin sobre o fato de a Rede Globo ter veiculado propositalmente e de forma esquematizada e combinada não só essa música como também críticas ao governo Temer, Rogério Betin diz que a Globo está dando uma alfinetada no governo. Assino embaixo com que o Betin disse, tendo em vista a atual quebra de braço entre Michel Temer e a Rede Globo (em parceria com setores do Judiciário e do Ministério Público)  e que a emissora da família Marinho quer Temer fora da presidência para que em seu lugar entre uma figura como o Rodrigo Maia para aplicar o mesmo ajuste neoliberal que Temer está fazendo, só que de forma ainda mais draconiana. O primeiro round da quebra de braço o vampirão venceu. O segundo está apenas começando. É justamente nesse contexto que o “eu só quero ser feliz” no programa do Faustão se insere.
Ou será que a Rede Globo, a mesma Rede Globo que no tempo em que Leonel Brizola foi governador do Estado do Rio de Janeiro era contra os CIEPs e muito satanizou a iniciativa de Darcy Ribeiro e do político gaúcho (a ponto de ajudar no desmonte dos CIEPs e os investimentos em educação popular feitos na época), está realmente preocupada com o bem-estar dos moradores das favelas? A mesma Globo que apresenta funkeiros ostentação e Anitta como a voz da favela (sendo que em realidade não passam de produtos enlatados da indústria fonográfica que vende à todos nós uma realidade falsa das favelas e que ajudam a manter a situação de exclusão social nas próprias favelas, na medida em que não tocam nas mazelas do sistema que gera todo esse quadro de exclusão social e glamouriza a própria favela), mas que em momento algum está interessada que haja uma política de inclusão social das pessoas que moram nas favelas. E pode ter certeza que fosse o favorito do momento da Rede Globo que estivesse fazendo a intervenção nas favelas que a emissora da família Marinho não ia aplicar uma alfinetada dessas em rede nacional. Ou seja, indiferente estaria para com o bem-estar das pessoas que nas favelas moram. É uma mera preocupação de fundo politiqueiro dentro de um contexto de briga de poder.
Faustão também diz que a reforma da previdência é necessária. Tal reforma está sendo feita sob o pretexto de que a previdência é deficitária. Entretanto, não se diz o real motivo desse déficit. Tal déficit decorre do fato de que o atual governo, assim como os anteriores, desviaram recursos da previdência para remunerar o já citado bolsa banqueiro e suas altas taxas de juros. Também nunca falam que a esmagadora maioria dos aposentados ganham menos de três salários mínimos e que o que realmente onera a previdência, além da já citada renumeração do bolsa banqueiro, é uma casta de aposentados privilegiados composta por militares, desembargadores, juízes, militares, promotores, políticos e outros (os quais não raro passam de forma hereditária suas aposentadorias a seus filhos e netos) que ganham aposentarias altíssimas, geralmente de R$ 20 mil para cima. A reforma da previdência deveria ser feita em cima dessa gente, não em cima de quem ganha no máximo três ou quatro aposentadorias. A verdade é que essa conversa é um pretexto, uma cortina de fumaça para o sistema financeiro colocar seus tentáculos no sistema previdenciário. Essa é, diga-se de passagem, uma velha conversa da parte dos neoliberais brasileiros. Nos anos 1990 Enéas chegou a falar sobre isso. Talvez, Faustão e tantos outros globais sejam a favor dessa reforma pelo fato de a emissora em que trabalha ser dona do maior grupo de empresa privada do país, o Mapfre, segundo reportagem do Conversa Afiada. Ou seja, a reforma da previdência que a Globo quer não é para cortar na carne dessa casta de funcionários públicos privilegiados, e sim para esfolar o povo mais humilde em nome dos lucros do rentismo financeiro. Afinal, ela é a principal porta-voz do rentismo na mídia brasileira.
Em seu vídeo a respeito do pronunciamento de Faustão, Nando Moura disse que Faustão é um escravo cujo pensamento se encontra acorrentado àquilo que a empresa quer que ele diga e que esse é o pior tipo de escravo que pode existir. Também disse que Felipe Neto seguiu caminho similar. O mesmo Felipe Neto que, entre outras coisas, nos tempos do “Não faz Sentido” dizia que chegaria o dia em que seria errado a pessoa ser heterossexual e que hoje fica contrariado quando alguém se manifesta a favor de censura a cenas de beijos GLBT em desenhos destinados ao público infantil (garoto do cabelo colorido, se você tanta questão faz de ver cenas desse tipo em desenhos, o que acha de procurar um anime dos gêneros yuri e/ou yaoi? Quem sabe até um moe ou um ecchi? Tenho certeza que você vai adorar).
Sobre o que aconteceu tanto com Faustão quanto com Felipe Neto Jessé Souza dá uma pista do que pode ter ocorrido com os dois nas páginas 115 e 116 do livro “A Radiografia do golpe”. Nos dois últimos decênios a imprensa passou por uma grande mudança estrutural onde se dá uma absoluta verticalização de comando, que permite um controle muito maior de cima para baixo. Com isso, há a extinção dos debates nas redações dos jornais e aqueles que gostam de discutir são taxados de chatos e/ou problemáticos. Produz-se assim uma homogeneidade de pensamento em conformidade com o processo de obrigatória obediência vertical e se instaura uma competição pela obediência e antecipação dos auspícios dos chefes em cima. Tendo em vista que o showbusiness está inserido dentro dessa mesma estrutura, bem provavelmente o mesmo tipo de coisa acontece nesse meio. Assim para alguém ter sucesso e alçar altos voos nesse meio é preciso andar na linha imposta pelos chefes do showbusiness, e isso inclui pensar da mesma forma que eles. Ou seja, ser a favor de todos esses progressismos morais que a maior parte da população rejeita. E com Faustão e Felipe Neto não seria nem um pouco diferente. No que ajuda a explicar como que o Felipe Neto do “Não Faz Sentido” se tornou o “Garoto colorido”.
Fontes:
Doutor Enéas e Ciro Gomes falam sobre a previdência. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PgdFjAwhirw&ab_channel=SEM-ISMOS
Faustão detonando a Globo e o Governo ao vivo! Completo! Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zIzOvXP2CvA&ab_channel=RogerioBetin
FAUSTÃO – O escravo milionário. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KJ4muBH9Ar8&t=38s&ab_channel=NandoMoura
Globo é dona da maior empresa de previdência privada! Disponível em: https://www.conversaafiada.com.br/economia/globo-dona-da-maior-empresa-de-previdencia-privada-
Jessé Souza: a esquerda pensa com categorias de direita. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2017/08/08/jesse-souza-a-esquerda-pensa-com-categorias-da-direita/
Não canto mais essa p**** de hoje é um novo dia Desabafa Faustão. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=I2xqRFLOlvY&ab_channel=CanalHaHaHa%21%21%21
Souza, Jessé. A radiografia do golpe: entenda como e por que você foi enganado. Rio de Janeiro: LeYa, 2016.


domingo, 11 de março de 2018

A vergonhosa greve dos juízes pelo auxílio-moradia.



Foto – Juízes em gambiarra.
Dia 15 de março de 2018 os juízes do Brasil irão fazer uma greve pela manutenção do auxílio-moradia. Entretanto, a grande maioria (para não dizer todos) desses juízes insatisfeitos com tal medida e que participarão da gambiarra em questão tem imóvel próprio (entre eles Marcelo Bretas, o juiz que mandou o almirante Othon para a prisão, e o Judge Murrow) e, portanto não precisam desse auxílio para tal.
Tal paralisação foi inicialmente convocada pela AJUFE (Associação dos juízes federais) por causa da entrada em pauta no STF de liminares concedidas pelo ministro Luiz Fux que garantiram o pagamento do auxílio-moradia aos magistrados do juiz. Posteriormente ganhou o apoio de outras associações (as quais afirmam que um possível corte do benefício seria uma forma de discriminar o trabalho da Justiça e do Ministério Público). Tais organizações (que também criticam a não aprovação de recomposição do subsídio dos juízes e a aceleração da tramitação do projeto de alteração da lei de abuso de autoridade) tiveram a pachorra de afirmar que a magistratura está debaixo de um suposto ataque insidioso por causa de operações de combate à corrupção e que o corte do benefício seria uma forma de retaliação (sendo que isso em realidade é briga entre corruptos).
Segundo o que disse Rui Pimenta Costa em recente pronunciamento, “essa é a primeira greve em favor do roubo institucionalizado do erário público do Brasil feita pelos juízes”. É um escárnio, grande tapa na cara na cara de todos nós, brasileiros. E isso ao mesmo tempo em que a maior parte da população está na mira das políticas de arrocho, austeridade neoliberal e cortes de direitos do governo Temer.
Como todos nós sabemos, o judiciário brasileiro é um grande mar de sujeira e lama. E isso a Operação Lava Jato (ou seria Lama Jato na verdade?) muito bem nos mostrou. Mas, mesmo sendo todo esse mar de lama e sujeira, por que será que nada acontece com o Judiciário brasileiro? Por que tão difícil é punir juízes e outros magistrados? Segundo a jurista Eliana Calmon, ministra do STJ entre 1999 a 2013, há um forte espírito corporativista dentro do poder judiciário entre seus próprios membros e que por isso muito difícil é punir juiz, por mais abusos e ilegalidades eles tenham cometido. Talvez isso ajude a explicar o motivo pelo qual até agora o Judge Murrow não foi punido por ter divulgado ilegalmente na mídia as conversas entre Lula e Dilma no ano retrasado e fazer pouco caso das leis e da Constituição (isso para não falar das costas quentes que essa gente tem) e como a fiscal da lei seca Luciana Silva Tamburini teve que pagar indenizações por danos morais ao juiz João Carlos de Souza Correa após ter dito que “juiz não é Deus” (isso mesmo o juiz estando sem carteira de habilitação e com o veículo sem placa e documentos).
Nessa entrevista mesma Eliana Calmon também diz que a Car Wash não irá chegar no Judiciário. Pelo que suas falas transparecem, Eliana Calmon parece não se dar conta de que a própria Car Wash (ao menos seus médios e altos escalões) é parte dessa estrutura corrompida do poder judiciário e que o que ela tem feito na verdade é atacar aquilo que Jessé Souza chama de a “corrupção dos tolos” para reforçar a verdadeira corrupção (ou seja, a boca de fumo da corrupção, que envolve a intermediação financeira, bancos e especuladores). Em outras palavras, atacam os aviõezinhos para reforçar o poder dos traficantes, utilizando a terminologia do narcotráfico. Nunca que juízes como Marcelo Bretas e o próprio Judge Murrow, procuradores como Deltan “Power Point da convicção” Dallagnol e desembargadores (vulgo desembagrinhos) como Gebran e Paulsen vão querer cortar na própria carne e deixar de desfrutar de todas as benesses que esse sistema corrompido lhes proporciona (entre eles os vários auxílios que eles ganham e que ajudam a turbinar seus salários).
Segundo Jessé Souza em sua obra “A radiografia do golpe: entenda como você foi enganado”, o que acontece com esses juízes é que quando eles entram na magistratura querem poder desfrutar ao mesmo tempo da estabilidade do emprego público e dos altos padrões de vida dos advogados das bancas privadas. Ou seja, o melhor dos dois mundos. Pela Constituição Federal, um servidor público pode no máximo ganhar R$ 33.763,00. E como esses juízes fazem para se igualar em termos de salário e renda com os advogados das bancas privadas? Eles turbinam seus salários por meio de gambiarras tais como auxílio-moradia, auxílio-luz, auxílio-educação, auxílio-terno, auxílio-luz e tantos outros. E é por causa disso que o Brasil tem a justiça mais cara do mundo.
Parafraseando o título de uma música do Gabriel o Pensador: greve dos juízes do dia 15 de março de 2018 pelo auxílio-moradia, é para rir ou para chorar? Até quando essa gente para lá de suja ficará bancando a vestal da moralidade perante nós, pobres mortais? E será que esses juízes, ao contrário das manifestações contra as reformas do vampirão, serão recebidos com bala de borracha e repressão policial?
Fontes:
Juízes emitem nota afirmando “quem critica auxílio-moradia” é a favor da corrupção. Disponível em:
Ministra Eliana Calmon denuncia corrupção no judiciário. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=AHZ2FhCMPhM&ab_channel=TVCartasProf%C3%A9ticas%2CporDomOrvandil
Os juízes querem fazer greve pela legalização do roubo do dinheiro público. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SLZaPt7RHDQ&ab_channel=CausaOperariaTV
Por dizer que “juiz não é Deus”, agente de trânsito indenizará magistrado do RJ. Disponível em: https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/noticias/148854920/por-dizer-que-juiz-nao-e-deus-agente-de-transito-indenizara-magistrado-do-rj
Procuradores e juízes do trabalho se juntam à greve por auxílio-moradia. Disponível em: https://www.poder360.com.br/justica/procuradores-e-juizes-do-trabalho-se-juntam-a-greve-por-auxilio-moradia/
Souza, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: LeYa, 2017.
Souza, Jessé. A radiografia do golpe: entenda como e por que você foi enganado. Rio de Janeiro: LeYa, 2016.

domingo, 4 de março de 2018

Carta aos policiais e militares do Brasil.



Foto – Dois pesos e duas medidas, parte I: o tratamento das forças de segurança para o filho do rico e o filho do pobre.
Muito bom dia, policiais e militares da Terra Brasilis. Como vocês estão? Pelo visto o exército, sob os auspícios do presidente vampiro Michel Temer e de seu homem-forte, o general Sérgio Etchegoyen (cujo pai foi torturador da ditadura civil-militar), está fazendo uma intervenção no Rio de Janeiro sob o pretexto de combater a criminalidade lá vigente e restaurar a ordem. Essa minha carta é especialmente para vocês, militares e policiais, que adoram bater em negros e pobres nas favelas nas periódicas operações policiais que por lá acontecem e depois ficam se achando os tais e que assim estão combatendo a criminalidade vigente nas favelas.
Em suas obras, Jessé Souza diz que no Brasil a matança indiscriminada de pobres e negros, com ou sem a desculpa do tráfico, é uma política pública informal que conta com grande apoio, especialmente entre a ala fascistóide da classe média (a qual pertence os juízes e procuradores da Operação Car Wash, entre eles Deltan “Power Point da Convicção e do Auxílio-Moradia” Dallagnol). Jessé Souza também diz que o que molda o Brasil enquanto sociedade até hoje não é a herança de Portugal, e sim a escravidão. Isso mesmo transcorridos já 130 anos da abolição formal da escravidão por meio da Lei Áurea (lei essa que os políticos que hoje estão no poder e os empresários a ele ligados estão tentando rasgar junto com a CLT).
Primeiro que o que o exército está fazendo nos morros nada mais é que enxugar gelo. Do que adianta encher os traficantes de bala, prendê-los e colocar polícia e exército nas ruas das favelas cariocas sem mudar toda a estrutura social não só do Rio de Janeiro como também de todo o país para uma estrutura mais inclusiva para toda a população, incluindo a população carente dos serviços mais básicos e pauperizada da favela carioca? População essa que desde no mínimo a abolição da escravidão tem sido sistematicamente abandonada pelos sucessivos governos que se seguiram à proclamação da República. Em outras palavras, que o Estado se faça realmente presente naqueles lugares, tal como se tentou fazer durante o tempo em que Leonel Brizola foi governador do Rio de Janeiro por meio dos CIEPs (os mesmos CIEPs que na época eram satanizados pela Rede Globo e que foram abandonados pelo mesmo Moreira Franco que hoje é o ministro-chefe da secretaria-geral da presidência do Brasil)? Vocês estão matando os bandidos de agora, mas depois de um tempo outros ainda mais perigosos irão surgir em seu lugar nas favelas. E isso apenas questão de tempo é.

Foto – A pirâmide hierárquica do crime, da base para o topo. Dos bandos armados das favelas a George Soros, o maior narcotraficante do planeta. Crédito: Nova Resistência.
Trata-se de um velho problema do Rio de Janeiro, cujas raízes remontam a 1904, quando o então prefeito Pereira Passos empreendeu uma reforma urbanística inspirada na Paris de Haussmann que ficou conhecida na história como “bota abaixo”. Seu intuito era de fazer do Rio de Janeiro o cartão-postal do Brasil para a Europa. Nessa reforma, vários prédios que serviam de moradia às populações menos abastadas foram destruídos, assim como inúmeros cortiços. E desde então tem sido política informal dos prefeitos fluminenses manter afastados os pobres da área central da cidade e não permitir sua entrada nos bairros nobres. E assim a população mais carente, que até então morava em propriedades coletivas, foi forçada a morar junto com outras famílias (onde tinham que pagar altos aluguéis) ou ir morar nos subúrbios, já que poucas eram as moradias populares que o então governo fez para substituir as já destruídas. Ou seja, todas as operações da Polícia nos morros do Rio de Janeiro e agora do Exército nada mais são que uma continuação dessa polícia inaugurada por Pereira Passos na aurora do século passado (que na época eclodiu em episódios como a revolta da vacina). Como diz um trecho da música “É para rir ou para chorar”, de Gabriel o Pensador, “O Brasil aboliu a escravidão, mas o negro da senzala foi direto para favela. Virou um homem livre e foi para prisão. Só que a tal da liberdade não entrou lá na cela e a discriminação ainda é verde e amarela”. É imperativo o Rio de Janeiro romper com essa velha lógica de cidade cartão postal do país voltada para o mar e parar de jogar para debaixo do tapete essa realidade.
Tendo em vista não só isso como também o fato de que já havia facções e criminalidade no morro carioca nos anos 1970, não me venham com essa de querer culpar Leonel Brizola e seus dois governos como governador do Estado do Rio de Janeiro pela situação calamitosa em que a antiga capital federal hoje se encontra. Pelo menos o político gaúcho tentou fazer algo para mudar a situação, coisa que os que vieram tanto antes como depois dele não fizeram.
E segundo que a boca de fumo da criminalidade, a criminalidade que movimenta cifras bilionárias para cima, não se encontra nos traficantes da favela. Muito menos os bandidos do topo da pirâmide do crime são maltrapilhos que nem os bandidos da favela. Eles vestem ternos de luxo e vivem em condomínios fechados e/ou mansões luxuosas. Perto por exemplo, dos grandes sonegadores de impostos do nosso país que devem milhões ou mesmo bilhões ao fisco, os bandidos da favela não passam de ladrões de galinha. Ou mesmo dos rentistas que lucram horrores por meio de um assalto anual ao Estado através da especulação em cima das altas taxas de juro que há muitos anos são praticadas aqui no Brasil e que não produzem um único mísero e prego. Nessa brincadeira toda, está envolvida a fina-flor do capitalismo dependente brasileiro, entre eles banqueiros, industriais, multinacionais, fundos de pensão e barões do agronegócio. Ou seja, é todo um dinheiro que ao invés de ir para serviços básicos para a população vai encher bolso de meia dúzia de pessoas ligadas ao sistema financeiro e seu insaciável apetite por dinheiro e que não raro é soterrado em paraísos fiscais. Como é de conhecimento geral, os super-ricos do Brasil não pagam impostos ou muito pouco pagam em vista da fortuna que têm. Atitude essa da qual o pato amarelo da FIESP (satirizado na apresentação da Paraíso do Tuiuti e posteriormente censurado na apresentação das campeãs) muito bem reflete. Ou seja, a velha lógica dos ganhos concentrados para poucos e prejuízos socializados para todos. E não vou falar dos políticos por que eles nada mais são que os aviõezinhos desses mesmos elementos ligados ao sistema financeiro. Os quais assim como os aviõezinhos do narcotráfico fazem o serviço sujo e depois ficam com as sobras do saque que eles fazem em nome de seus superiores. Entretanto, quando algum escândalo estoura, a culpa toda cai no político envolvido no caso, nunca no atravessador financeiro que está por trás de tudo. E assim o fazendo de boi de piranha.
Em realidade, os bandidos da favela existem por causa justamente dessa ligação com a elite financeira nacional e internacional. Ou como vocês acham que o tráfico por si só seria o problema que é e se sustentaria dessa forma sem tais ligações com os donos do poder econômico (algo que o filme Tropa de Elite 2 muito bem mostra)? E essa associação entre capital e drogas não é nada novo, diga-se de passagem. Haja vista que o tráfico de ópio para a China no século XIX tinha como intermediário a Companhia das Índias Orientais Britânicas. Tal ópio era produzido pelos ingleses no norte da Índia e depois vendido na China por meio do porto de Cantão. Na época, a droga foi utilizada pela Inglaterra como forma de forçar a China a abrir seu mercado para os produtos manufaturados britânicos. E posteriormente deu origem às duas Guerra do Ópio, que terminaram em humilhante derrota para a China. E, como era de se esperar, não só o papel dos atravessadores financeiros enquanto os verdadeiros chefões da criminalidade como também a ligação existente entre a elite financeira nacional e internacional (incluindo as ligações do megaespeculador internacional George Soros com o narcotráfico) e os bandidos de rua é sistematicamente ocultada pela grande mídia da qual os rentistas são seus patrocinadores e os bandidos das favelas sendo mostrados como se fossem um fenômeno que do nada surge e que não tem ligações com agentes externos a ele. Ou seja, como se não houvesse toda uma estrutura, um solo fértil que periodicamente é adubado e irrigado que permite a proliferação de tal erva daninha.
Por que será que vocês tem tamanha tara em bater em pobres e negros quando fazem suas batidas nas favelas? Gostaria de lançar um desafio a vocês. O que vocês achariam de fazer uma revista dessas nos bairros nobres como Leblon, Ipanema e outros? Pode ter certeza que lá vocês irão encontrar quilos e mais quilos, quiçá toneladas, de drogas entre jovens de famílias abastadas.
Também gostaria muito de saber se vocês teriam culhões para fazer uma batida policial dessas no Itaú e cobrar de seu presidente os bilhões que o banco privado deve ao fisco. Ou mesmo ir fazer uma batida dessas na Rede Globo e fazer o mesmo com os filhos do Roberto Marinho. Ou quem sabe fazer isso com o Luciano Hang, o dono das Lojas Havan (o qual teve a pachorra de comemorar a sentença condenatória do TRF4 contra o Lula com fogos de artifício mesmo tendo esse processo por sonegação fiscal milionária). E será que vocês teriam coragem de fazer uma revista dessas como a que vocês periodicamente fazem nas favelas com o filho ou o neto do João Paulo Lemann ou do Paulo Skaf (nosso querido e ilustre industrial sem indústria)? Ou quem sabe de algum barão do agronegócio? Parafraseando o que o finado Lucas Gomes Arcanjo (que hoje esteja nas mãos de Deus no além) uma vez disse, vocês são os fodões para bater em pobre e preto na favela e borra-botas quando o assunto é um sujeito como o Aécio Neves do helicóptero com meia tonelada de cocaína, que tem poderosas ligações pessoais que lhe muito úteis serão na hora de livrar a cara em caso de algum problema na justiça (entre elas Zezé Perrella, Gilmar Mendes e o Judge Murrow).
E militares, até quando vocês vão ficar fazendo o papel de gendarme a serviço de pessoas como Moreira Franco (vulgo gatinho Angorá), Michel Temer e Sérgio Etchegoyen? Vocês apenas terão meu respeito quando deixarem de servir a essa gente e começar a ter culhão roxo para peitar essa quadrilha e outros ricaços. A ser uma força a serviço de toda a população e não como capitães do mato a serviço dos donos do poder político e econômico. As reformas do presidente vampiro irão sugar seu sangue tanto quanto dos moradores das favelas. No que mostra que vocês muito mais próximos estão dos moradores da favela que da elite do atraso que vocês defendem e da qual o presidente vampiro e sua patota fazem parte. O Exército é uma instituição grandiosa, do qual homens como Temer e Sérgio Etchegoyen não são dignos de serem seus comandantes.
Não estou querendo de forma alguma fazer defesa do tráfico. Muito pelo contrário. O tráfico tem que ser combatido da forma mais dura possível. E o exemplo da China sob Mao Zedong é bem ilustrativo disso, já que acabou com o problema da droga em pouco tempo e assim livrou o país do secular flagelo do ópio. Apenas acho que o problema do Rio de Janeiro muito mais embaixo se encontra e que não vai ser com uma ação pirotécnica dessas (que provavelmente é um balão de ensaio para outras similares no país, rumo a um eventual novo golpe militar) que o problema será resolvido. Muito pelo contrário. Talvez dessa forma, o Brasil, o nosso Brasil da elite do atraso, esteja caminhando para se tornar um novo México. Ou quem sabe um novo Chile pinochetista (com a força das armas sendo utilizada para a implantação da mais radical e drástica agenda neoliberal).

Foto – Capital B (vulgo Abelhão), o vilão do jogo Yooka-Laylee.
Fica aqui também meus parabéns à Paraíso do Tuiuti pela torta que jogaram na cara não só do presidente vampiro e seu séquito como também dos empresários a qual ele representa. Não duvido nem um pouco que por trás da censura no desfile das campeãs tenha havido dedo por parte não só da quadrilha do presidente vampiro como também de Paulo Skaf, o presidente da FIESP (tendo em vista a ausência dos patos), ainda que indireto. Temer em realidade não passa de um pau mandado que está ai para fazer o pacote de maldades que está fazendo em nome de seus superiores. Que nem o vilão Capital B (vulgo Abelhão) de Yooka-Laylee (jogo estilo Banjo-Kazooie lançado pela Playtonic no ano passado para as plataformas Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch) em relação à organização V.I.L.E (a qual certamente será aprofundada em um eventual Yooka-Tooyle).

Foto – Dois pesos e duas pedidas, parte II: a retórica do bandido bom é bandido morte para quem?