quinta-feira, 25 de maio de 2017

Mitt Brennender Sorge, parte 3 – A demonização da política entre a população.


Foto – Veja, Temer e Aécio ontem e hoje.
Recentemente, o Brasil viu atônito a delação de Joesley Batista (o qual fugiu para os EUA após fazer a delação). Em 17 de maio de 2017 o dono da JBS (uma das principais empresas brasileiras do ramo do agronegócio) entregou ao Supremo Tribunal Federal uma gravação feita na noite de sete de março de 2017 de uma conversa reservada que teve com Michel Temer (vulgo Conde Drácula) no Palácio do Jaburu, tratando a respeito de uma suposta “compra do silêncio” de Eduardo Cunha. Com essa delação figuras como Michel Temer e Aécio Neves (os quais eram protegidos pelo juiz Sérgio Moro) em cheio foram atingidos. Bem provavelmente, agora está sendo feito o descarte de Michel Temer pelas mesmas forças (entre elas a Rede Globo) que o ajudaram a colocar no poder por meio do impeachment de Dilma Rousseff. Fala-se em colocar o bankster Henrique Meirelles no lugar de Temer por meio de eleições indiretas, ou em Rodrigo Maia, o atual presidente da Câmara, assumir o posto. No que seria o golpe do poder econômico, que ao que tudo indica não se encontra satisfeito com o desempenho de Temer como o encarregado de fazer as reformas neoliberais (trabalhista e da previdência) as quais ele foi encarregado de fazer.
Algumas ponderações sobre isso serão feitas. Primeiro, no tocante a Aécio Neves, bem provavelmente essa delação veio a calhar para políticos tucanos rivais tais como Geraldo Alckmin (levando em consideração que o PSDB possui várias alas rivais entre si), cuja posição dentro do partido possa se fortalecer depois desse último episódio. E cabe aqui ressaltar também que essa não é a primeira vez que a Rede Globo age dessa forma: fez isso com os militares em 1964, cresceu sob o tacão dos milicos e quando viu que eles estavam para cair parou de apoiá-los. Posteriormente, fez o mesmo com Collor. O alavancou em 1989 para bater de frente com Brizola e Lula e posteriormente ajudou a derrubá-lo quando começaram os escândalos em seu governo. Ou seja, eles criam os monstros e depois os matam depois que eles não mais lhe são úteis. Portanto, a Globo assim agir com Michel Temer não é nenhuma surpresa.
Algo também digno de nota é o comportamento da Veja, que anteriormente apoiou tanto Temer quanto Aécio (o primeiro no golpe do ano passado e o segundo no pleito presidencial de 2014). A capa da última edição da Veja veio com um anúncio exigindo grandeza da parte dos homens públicos brasileiros, que eles devem colocar os interesses da nação acima de seus interesses pessoais e que os milhões de brasileiros honestos não merecem pagar o pato da ganância dos poderosos de plantão com uma bandeira do Brasil no fundo.

Foto – A última capa da Veja.
Há várias coisas que me preocupam no presente momento, e uma delas é a crescente onda de demonização da política que ando vendo ultimamente. Periodicamente vejo pessoas por aí dizerem que não se deve ter políticos de estimação, que político é tudo igual, são todos corruptos e bandidos e retóricas afins. Esse tipo de discurso é extremamente perigoso e nocivo. Além de sugerir desconhecimento a respeito do papel de agentes do setor privado nesses esquemas (e assim engolindo o senso comum que os grandes meios de comunicação vendem sobre o assunto), é por causa de pessoas que assim pensam que proliferam figuras como Dória, Collor, Macron e Berlusconi (geralmente apresentados como “anti-políticos”, “caçadores de marajás” e “gestores” ao público, mas que na prática são tão mais corruptos quanto os políticos que eles dizem abominar) e o país está a caminho de ficar sob o tacão de uma ditadura do judiciário (ditadura essa que Ruy Barbosa definiu como a pior que pode existir, pois contra ela não há a quem recorrer). Bem provavelmente, esses mesmos que dizem abominar políticos são as mesmas pessoas que são as primeiras a jogar confetes para juízes como Sérgio Moro e Marcelo Bretas e procuradores como Deltan Dallagnol e a colocar adesivos “Eu apoio a Lava Jato” em seus carros, acreditando que eles estão limpando o país do mal secular da corrupção.

Foto – Sérgio Moro junto com Michel Temer, Geraldo Alckmin e Aécio Neves em evento.
Primeiro que eles mal sabem que a corrupção que ai está não é o maior de todos os males que afligem o país. Muito pior que a corrupção que aparece no noticiário envolvendo políticos e empresários que tratam o processo eleitoral como sua rinha de galo particular são problemas como a escravidão dos juros da dívida e os recursos que todo santo ela consome (vulgo Bolsa Banqueiro), a posição de subalternidade do país dentro da divisão internacional do trabalho, a concentração fundiária no campo na mão de grandes latifundiários (onde se encontra o agronegócio do qual a JBS de Joesley Batista é um de seus representantes), o poder avassalador da mídia de massa sobre a política, a economia e a cultura (a ponto de ser considerado como o quarto poder por muitos), as perdas internacionais e o desequilíbrio de nosso sistema tributário onde em termos proporcionais o pobre paga mais impostos que o rico.
E pelo que essas pessoas demonstram em suas falas, elas pensam que juízes como Sérgio Moro e procuradores como Deltan Dallagnol são pessoas que estão acima do bem e do mal e de todo o jogo político ao seu redor. Que estão ai para zelar por todas as pessoas sem distinção de classe social ou ideologia política e que não têm suas preferências político-partidárias (ou que elas não influenciam seus atos). Nada mais falso isso. Conversa liberal da mais fajuta, ainda mais levando em consideração que se há algo que a Lava Jato escancarou ao Brasil é que o tribunal tem lado dentro da luta de classes que atravessa a história brasileira desde seus primórdios, o lado da classe dominante (algo que a foto do juiz do Banestado ao lado de Dória, descendente de uma família de senhores de engenho dos tempos coloniais, muito bem simboliza). Assim sendo, os togados de plantão estão muito mais para servir ao dono do Itaú a um retirante nordestino. E sem se dar conta também de que eles são parte do mesmo sistema da corrupção que gera figuras como Joesley Batista, Marcelo Odebrecht e Leo Pinheiro. O que Moro, Dallagnol estão em realidade fazendo e que as pessoas não se dão conta é ajudar o mesmo sistema da corrupção a realizar mais uma de suas trocas de peças, dando-lhe uma cara mais elitista. No tocante às empreiteiras, faz tábua rasa de OAS, Odebrecht, Camargo Correa, Andrade Gutierrez e outras empreiteiras nacionais para que futuramente empreiteiras de países como EUA e China (entre elas a Halliburton), tão ou mais corruptas quanto, venham para cá fazer as mesmíssimas coisas. No tocante a Petrobrás, promove tábua rasa da estatal fundada em 1953 para futuramente justificar uma eventual privatização em favor de petrolíferas internacionais como a Chevron, a Shell e a Exxon Mobill.
E do adianta cobrar honestidade e comprometimento dos homens públicos como a Veja fez se o Estado continuar a ser o balcão de negócios particular dos grandes capitalistas de que Marx fala no Manifesto do Partido Comunista (situação essa que a demonização da política e a falácia de que o mercado é o espaço em virtudes enquanto que o Estado é o espaço das mazelas justificam perante a população)? De nada vai adiantar, pois essa gente vai continuar corrompendo políticos em troca de favores ad eternum. Entra governo e sai governo e esses agentes privados continuam fazendo seus esquemas de sempre. Até porque o verdadeiro nome da corrupção que aparece no noticiário onde políticos e empresários estão envolvidos é ingerência de agentes do poder econômico no processo político-eleitoral, a ponto de tratar o Estado como seu balcão de negócios particular e o processo eleitoral como sua rinha de galo particular (onde eles apostam em todos os lados da contenda e saem vencedores independente de quem vença a eleição).
Outra coisa que igualmente me preocupa é o que vai vir depois de uma eventual queda de Michel Temer. Segundo Rui Pimenta Costa, a direita e o poder econômico tem como pauta no presente momento eleições indiretas até 2020. Preocupa-me muito se o sucessor de Temer for um sujeito da laia de Rodrigo Maia ou o já citado Henrique Meirelles (diga-se de passagem, por causa de sua nomeação para o Banco Central que Brizola rompeu com o primeiro governo Lula). Que nada mais seriam que nomes de transição para que futuramente seja eleito alguém como o Dória. Está mais que evidente que de tudo estão fazendo para que Lula não disputa o pleito presidencial do ano que vem, quer seja pela impugnação de sua candidatura, quer seja pelo cancelamento das eleições. Igualmente me preocupa a possibilidade de futuramente ficarmos sob o tacão de uma ditadura do judiciário, sob o comando de uma figura como a Carmen Lúcia (vulgo Bento Carneiro[1]).
 
Foto – A corrupção como realmente é.
Fontes:
A pauta da direita é indiretas até 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1DTiUbVPrl8
Família Costa Dória. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fam%C3%ADlia_Costa_Doria
Na queda de Temer e Aécio, basta de Veja não tem o rosto de seus heróis. Disponível em: http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/296650/Na-queda-de-Temer-e-A%C3%A9cio-basta-de-Veja-n%C3%A3o-tem-o-rosto-de-seus-her%C3%B3is.htm
Neto de Brizola, o vereador Leonel Brizola lembra que o avô insistia na conexão entre bancos e canais de TV. Disponível em: http://www.ocafezinho.com/2017/05/23/neto-de-brizola-o-vereador-leonel-brizola-lembra-que-o-avo-insistia-na-conexao-entre-bancos-e-canais-de-tv/


NOTA:


[1] Para quem não conhece o personagem em questão Bento Carneiro é o vampiro que o Chico Anysio interpretava, notável por seu bordão “Minha vingança será maligrina!”.

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