Foto – Veja, Temer e Aécio ontem e
hoje.
Recentemente,
o Brasil viu atônito a delação de Joesley Batista (o qual fugiu para os EUA
após fazer a delação). Em 17 de maio de 2017 o dono da JBS (uma das principais
empresas brasileiras do ramo do agronegócio) entregou ao Supremo Tribunal
Federal uma gravação feita na noite de sete de março de 2017 de uma conversa
reservada que teve com Michel Temer (vulgo Conde Drácula) no Palácio do Jaburu,
tratando a respeito de uma suposta “compra do silêncio” de Eduardo Cunha. Com
essa delação figuras como Michel Temer e Aécio Neves (os quais eram protegidos
pelo juiz Sérgio Moro) em cheio foram atingidos. Bem provavelmente, agora está
sendo feito o descarte de Michel Temer pelas mesmas forças (entre elas a Rede
Globo) que o ajudaram a colocar no poder por meio do impeachment de Dilma
Rousseff. Fala-se em colocar o bankster Henrique Meirelles no lugar de Temer
por meio de eleições indiretas, ou em Rodrigo Maia, o atual presidente da
Câmara, assumir o posto. No que seria o golpe do poder econômico, que ao que
tudo indica não se encontra satisfeito com o desempenho de Temer como o
encarregado de fazer as reformas neoliberais (trabalhista e da previdência) as
quais ele foi encarregado de fazer.
Algumas
ponderações sobre isso serão feitas. Primeiro, no tocante a Aécio Neves, bem
provavelmente essa delação veio a calhar para políticos tucanos rivais tais como
Geraldo Alckmin (levando em consideração que o PSDB possui várias alas rivais
entre si), cuja posição dentro do partido possa se fortalecer depois desse
último episódio. E cabe aqui ressaltar também que essa não é a primeira vez que
a Rede Globo age dessa forma: fez isso com os militares em 1964, cresceu sob o
tacão dos milicos e quando viu que eles estavam para cair parou de apoiá-los.
Posteriormente, fez o mesmo com Collor. O alavancou em 1989 para bater de
frente com Brizola e Lula e posteriormente ajudou a derrubá-lo quando começaram
os escândalos em seu governo. Ou seja, eles criam os monstros e depois os matam
depois que eles não mais lhe são úteis. Portanto, a Globo assim agir com Michel
Temer não é nenhuma surpresa.
Algo
também digno de nota é o comportamento da Veja, que anteriormente apoiou tanto
Temer quanto Aécio (o primeiro no golpe do ano passado e o segundo no pleito
presidencial de 2014). A capa da última edição da Veja veio com um anúncio exigindo
grandeza da parte dos homens públicos brasileiros, que eles devem colocar os
interesses da nação acima de seus interesses pessoais e que os milhões de
brasileiros honestos não merecem pagar o pato da ganância dos poderosos de
plantão com uma bandeira do Brasil no fundo.
Foto – A última capa da Veja.
Há
várias coisas que me preocupam no presente momento, e uma delas é a crescente
onda de demonização da política que ando vendo ultimamente. Periodicamente vejo
pessoas por aí dizerem que não se deve ter políticos de estimação, que político
é tudo igual, são todos corruptos e bandidos e retóricas afins. Esse tipo de
discurso é extremamente perigoso e nocivo. Além de sugerir desconhecimento a
respeito do papel de agentes do setor privado nesses esquemas (e assim
engolindo o senso comum que os grandes meios de comunicação vendem sobre o
assunto), é por causa de pessoas que assim pensam que proliferam figuras como
Dória, Collor, Macron e Berlusconi (geralmente apresentados como
“anti-políticos”, “caçadores de marajás” e “gestores” ao público, mas que na
prática são tão mais corruptos quanto os políticos que eles dizem abominar) e o
país está a caminho de ficar sob o tacão de uma ditadura do judiciário
(ditadura essa que Ruy Barbosa definiu como a pior que pode existir, pois
contra ela não há a quem recorrer). Bem provavelmente, esses mesmos que dizem
abominar políticos são as mesmas pessoas que são as primeiras a jogar confetes
para juízes como Sérgio Moro e Marcelo Bretas e procuradores como Deltan
Dallagnol e a colocar adesivos “Eu apoio a Lava Jato” em seus carros, acreditando
que eles estão limpando o país do mal secular da corrupção.
Foto – Sérgio Moro junto com Michel
Temer, Geraldo Alckmin e Aécio Neves em evento.
Primeiro
que eles mal sabem que a corrupção que ai está não é o maior de todos os males
que afligem o país. Muito pior que a corrupção que aparece no noticiário
envolvendo políticos e empresários que tratam o processo eleitoral como sua
rinha de galo particular são problemas como a escravidão dos juros da dívida e
os recursos que todo santo ela consome (vulgo Bolsa Banqueiro), a posição de
subalternidade do país dentro da divisão internacional do trabalho, a
concentração fundiária no campo na mão de grandes latifundiários (onde se
encontra o agronegócio do qual a JBS de Joesley Batista é um de seus representantes),
o poder avassalador da mídia de massa sobre a política, a economia e a cultura
(a ponto de ser considerado como o quarto poder por muitos), as perdas
internacionais e o desequilíbrio de nosso sistema tributário onde em termos
proporcionais o pobre paga mais impostos que o rico.
E
pelo que essas pessoas demonstram em suas falas, elas pensam que juízes como
Sérgio Moro e procuradores como Deltan Dallagnol são pessoas que estão acima do
bem e do mal e de todo o jogo político ao seu redor. Que estão ai para zelar
por todas as pessoas sem distinção de classe social ou ideologia política e que
não têm suas preferências político-partidárias (ou que elas não influenciam
seus atos). Nada mais falso isso. Conversa liberal da mais fajuta, ainda mais
levando em consideração que se há algo que a Lava Jato escancarou ao Brasil é
que o tribunal tem lado dentro da luta de classes que atravessa a história
brasileira desde seus primórdios, o lado da classe dominante (algo que a foto
do juiz do Banestado ao lado de Dória, descendente de uma família de senhores
de engenho dos tempos coloniais, muito bem simboliza). Assim sendo, os togados
de plantão estão muito mais para servir ao dono do Itaú a um retirante
nordestino. E sem se dar conta também de que eles são parte do mesmo sistema da
corrupção que gera figuras como Joesley Batista, Marcelo Odebrecht e Leo
Pinheiro. O que Moro, Dallagnol estão em realidade fazendo e que as pessoas não
se dão conta é ajudar o mesmo sistema da corrupção a realizar mais uma de suas
trocas de peças, dando-lhe uma cara mais elitista. No tocante às empreiteiras,
faz tábua rasa de OAS, Odebrecht, Camargo Correa, Andrade Gutierrez e outras
empreiteiras nacionais para que futuramente empreiteiras de países como EUA e
China (entre elas a Halliburton), tão ou mais corruptas quanto, venham para cá
fazer as mesmíssimas coisas. No tocante a Petrobrás, promove tábua rasa da
estatal fundada em 1953 para futuramente justificar uma eventual privatização
em favor de petrolíferas internacionais como a Chevron, a Shell e a Exxon
Mobill.
E
do adianta cobrar honestidade e comprometimento dos homens públicos como a Veja
fez se o Estado continuar a ser o balcão de negócios particular dos grandes
capitalistas de que Marx fala no Manifesto do Partido Comunista (situação essa
que a demonização da política e a falácia de que o mercado é o espaço em
virtudes enquanto que o Estado é o espaço das mazelas justificam perante a
população)? De nada vai adiantar, pois essa gente vai continuar corrompendo
políticos em troca de favores ad eternum.
Entra governo e sai governo e esses agentes privados continuam fazendo seus
esquemas de sempre. Até porque o verdadeiro nome da corrupção que aparece no
noticiário onde políticos e empresários estão envolvidos é ingerência de
agentes do poder econômico no processo político-eleitoral, a ponto de tratar o
Estado como seu balcão de negócios particular e o processo eleitoral como sua
rinha de galo particular (onde eles apostam em todos os lados da contenda e
saem vencedores independente de quem vença a eleição).
Outra
coisa que igualmente me preocupa é o que vai vir depois de uma eventual queda
de Michel Temer. Segundo Rui Pimenta Costa, a direita e o poder econômico tem como
pauta no presente momento eleições indiretas até 2020. Preocupa-me muito se o
sucessor de Temer for um sujeito da laia de Rodrigo Maia ou o já citado
Henrique Meirelles (diga-se de passagem, por causa de sua nomeação para o Banco
Central que Brizola rompeu com o primeiro governo Lula). Que nada mais seriam
que nomes de transição para que futuramente seja eleito alguém como o Dória.
Está mais que evidente que de tudo estão fazendo para que Lula não disputa o
pleito presidencial do ano que vem, quer seja pela impugnação de sua
candidatura, quer seja pelo cancelamento das eleições. Igualmente me preocupa a
possibilidade de futuramente ficarmos sob o tacão de uma ditadura do
judiciário, sob o comando de uma figura como a Carmen Lúcia (vulgo Bento
Carneiro[1]).
Foto – A corrupção como realmente é.
Fontes:
A juristocracia dos cleptocratas.
Disponível em: https://www.cemrb.net/single-post/2017/05/19/A-Juristocracia-dos-Cleptocratas
Na queda de Temer e Aécio, basta de
Veja não tem o rosto de seus heróis. Disponível em: http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/296650/Na-queda-de-Temer-e-A%C3%A9cio-basta-de-Veja-n%C3%A3o-tem-o-rosto-de-seus-her%C3%B3is.htm
Neto de Brizola, o vereador Leonel
Brizola lembra que o avô insistia na conexão entre bancos e canais de TV.
Disponível em: http://www.ocafezinho.com/2017/05/23/neto-de-brizola-o-vereador-leonel-brizola-lembra-que-o-avo-insistia-na-conexao-entre-bancos-e-canais-de-tv/
Veja segue Globo e também pede
renúncia de Temer. Disponível em: http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/296653/Veja-segue-Globo-e-tamb%C3%A9m-pede-ren%C3%BAncia-de-Temer.htm
NOTA:
[1] Para quem não conhece o personagem em
questão Bento Carneiro é o vampiro que o Chico Anysio interpretava, notável por
seu bordão “Minha vingança será maligrina!”.
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