segunda-feira, 30 de maio de 2016

A americanofilia neoconservadora e sionista da família Bolsonaro.


Foto 1 - As figuras que certos políticos tupiniquins querem imitar.

Por Lucas Novaes

Ultimamente tenho feito um esforço enorme para não tocar no nome de certos políticos (entre eles, o do deputado Jair Bolsonaro e de seus filhos). Considero que divulgar nomes de tal estirpe, mesmo que em tons negativos, não é um ato saudável pois acaba servindo para dar continuidade a retroalimentação midiática que colocou certas pessoas no lugar em que hoje estão. Apesar disso, acredito que o artigo "Por que nacionalistas não devem apoiar Bolsonaro: a verdade sobre o deputado", publicado no dia 07 de março de 2016 neste mesmo blog, não foi um escrito definitivo sobre a vileza que tal deputado e seus congêneres representam para o Brasil. Em particular, desejo tocar no seguinte tópico: o neoconservadorismo sionista da família Bolsonaro.
O modus operandi da ideologia dos políticos em questão já não é mais tão obscuro quanto se convencionou achar nos anos 1990. O ranço autoritário e estatista presente em Jair Bolsonaro por meio de seus discursos mais antigos foi severamente modificado. O estatismo já foi eliminado quase que por completo na medida em que Bolsonaro passou a aderir ao discurso liberal de defesa da privatização dos setores estratégicos nacionais (Petrobras, especialmente). E isso aconteceu por causa do ranço anti-governista que assola o deputado fluminense. Ao invés de lutar por um estado presente na vida do cidadão e expulsar, por meio de disputas internas, os supostos comunistas do Partido dos Trabalhadores da gerência dos principais órgãos governamentais do país, o político carioca se rende ao covarde discurso da privatização. Discurso esse que está na moda entre a parcela mais ingênua e pacóvia dos jovens brasileiros e é promovido por organizações como o Movimento Brasil Livre e o Instituto Mises Brasil.
Definitivamente, Jair Bolsonaro não é um fascista. Antes fosse, pois mesmo com seus inúmeros defeitos e discursos xenófobos equivocados, poderia fazer algo em favor dos brasileiros e da melhora na vida da classe trabalhadora, como fez Mussolini na Itália dos anos 1930 e também Getúlio Vargas no mesmo período. A xenofobia de Bolsonaro é uma mera reprodução do direitismo neocon primeiro-mundista presente nos Estados Unidos e na Europa. Ele intitula os imigrantes haitianos e árabes de "escória do mundo" e considera os europeus e estadunidenses o modelo ideal a ser seguido, temido e obedecido. Estamos falando da mesma pessoa que, em discurso na câmara dos deputados, falou sobre "preferir Obama lendo seus e-mails do que Dilma Rousseff", da mesma pessoa que disse (em tom de desprezo pela nação) que os brasileiros "devem reconhecer seu local" na política externa e que seus maiores parceiros devem ser os Estados Unidos e Israel (e nisso Bolsonaro se iguala a figuras como os políticos tucanos José Serra e Aécio Neves). É por esses e outros motivos que o deputado fluminense nada mais é do que um liberal de direita, como brilhantemente esclareceu Eduardo Consolo dos Santos no texto "A real natureza político-ideológica de Jair Bolsonaro.", publicado neste mesmo blog. Ele é alguém que, caso morasse nos EUA, seria adepto do Partido Republicano e defenderia o individualismo e o elitismo, assim como faz no território tupiniquim (a defesa do individualismo e da ordem elitista é outro ponto de convergência de Bolsonaro com o tucanato).

Foto 2 - A demagogia neoconservadora e sionista chega ao Brasil
Todos os fatos acima mencionados já eram de conhecimento geral e ressonavam por meio dos textos do Resistência Terceiro-Mundista. Mas alguns eventos recentes se mostraram dignos de comentários adicionais. Um deles foi o recente ato pró-Bolsonaro na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, no qual constavam os principais membros da família reunidos. Enquanto discursava, Bolsonaro Pai estendia bandeiras de Israel e mostrava mais uma vez sua inequívoca fidelidade ao sionismo. O político do Partido Social Cristão já chegou a discutir o conflito Israel-Palestina com a deputada Jandira Feghali, do PCdoB. Na ocasião, o deputado do PSC proliferou as lorotas atlantistas de sempre: o estado da Palestina é o "terrorista" da história, mesmo que seus atos sejam apenas uma reação de quem teve sua dignidade aniquilada por décadas de políticas imperialistas. Enquanto o futuro de Dilma Rousseff na presidência da nação era decidido no Senado, Jair Bolsonaro estava em Israel, no meio de uma viagem e, durante a mesma, foi batizado nas águas do Rio Jordão pelo seu colega de partido, o Pastor Everaldo. A conversão de Bolsonaro ao protestantismo no estado de Israel ratifica, de uma vez por todas, as conexões neoconservadoras do deputado. O catolicismo no Brasil é uma religião em franca decadência quando se trata de influência cultural e, principalmente, eleitoral. Não existe um bloco católico forte e organizado no congresso com intenções de interferir firmemente na política nacional. Em contrapartida, o protestantismo está em plena ascensão, podendo se tornar a religião dominante em poucas décadas. 
O discurso moralista (no pior sentido da palavra) de grande parte das denominações protestantes, aliadas ao favorecimento da Teoria da Prosperidade em detrimento da Teologia da Libertação é uma peça chave no tabuleiro político brasileiro. Não espere por um comprometimento espiritual e moral real para com a religião vindo dos deputados dos quais estou falando. Tudo não passa de um pragmatismo eleitoral, uma estratégia feita na medida para fomentar o avanço de uma mudança cultural que favoreça os ideais de livre mercado. O pseudo-conservadorismo dos políticos direitistas rapidamente se mostra uma farsa quando suas propostas são aplicadas na prática: Os Estados Unidos da América são o maior produtor de pornografia do mundo. A terra do Tio Sam também é o país da libertinagem e do escárnio ás crenças religiosas (situação essa incentivada por uma cultura onde a vontade individual impera sobre os interesses coletivos). Ademais, a Europa (em particular, suas porções Ocidental e Setentrional) é pioneira quando se trata de Ideologia de Gênero e outras inutilidades ideológicas. Em países como a Alemanha e a Inglaterra, cidadãos podem ser perseguidos pelo estado e até mesmo presos por manifestarem opiniões favoráveis ao modelo de família tradicional. Por que os conservadores brasileiros continuam achando que esses países devem servir de exemplo para nós? Muitos deles culparão diferentes grupos pelo que ocorre em tais países: os Democratas (no caso dos Republicanos), os comunistas, os socialistas, os judeus. Está claro, entretanto, que a ideologia liberal e suas implicações filosóficos são a causa central. Qualquer grupo etno-político-religioso pode ou não seguir tais caminhos. Essa é uma verdade incômoda para a nossa classe conservadora (representada pela família Bolsonaro). O anticomunismo irracional foi e continua sendo munição retórica para a defesa dos interesses mais antipopulares que existem: a perseguição aos sindicatos, o ataque aos programas sociais e, mais recentemente, a tentativa de proibir os professores de manifestar opiniões pessoais em sala de aula.


Foto 3 - Pouco importa a adesão de décadas ao catolicismo. O importante é seguir as tendências culturais do momento.
A cereja do bolo nesse mar de imbecilidades patrocinadas pela família Bolsonaro é a tentativa de um de um de seus membros, o deputado federal pelo estado de São Paulo, Eduardo Bolsonaro, de criminalizar o comunismo no território brasileiro. Estou falando da PL 5358/2016, que altera a redação da Lei nº 7.716 de 5 de janeiro de 1989, que trata dos crimes de preconceito de raça ou de cor e da Lei nº 13.260, que tipifica o crime de terrorismo - de 16 de março de 2016, para "criminalizar a apologia ao comunismo". O raciocínio utilizado por Eduardo não é novo: se o Nazismo é proibido, por que o comunismo, que matou XX milhões, não é também? O que mais me deixa indignado é o fato de que tal proposta foi apoiada por milhares de seguidores, sempre irracionais, do deputado. Eu pensava que os Bolsonaros ao menos seriam defensores da liberdade de expressão irrestrita devido aos ataques que sofrem por suas opiniões polêmicas. A defesa de qualquer ideologia, seja de extrema esquerda ou de extrema direita, seja violenta ou pacifista, não deve ser proibida pelo aparato estatal e capitalista que temos, pois o mesmo está interessado em frear qualquer movimento visto como uma ameaça à ordem vigente. A limitação da liberdade de expressão é um erro que mesmo muitos esquerdistas cometem ao apoiá-la. O estado que busca criminalizar opiniões "preconceituosas" defendido pelo PT é o mesmo que aplicou nele um golpe contra o seu "projeto de poder bolivariano" com justificativas bizarras de deputados que acreditavam que os petistas estavam tentando "destruir a família".
Deixa-se claro, aqui, que a imbecilidade política não é exclusividade da família Bolsonaro. Porém, esta é a principal disseminadora de ideais danosas ao nosso país.
Referências:
https://www.youtube.com/watch?v=ehyDH0hFAbM
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/07/bolsonaro-elogia-israel-e-pede-desculpas-por-posicionamento-brasil.html
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/05/grupo-faz-ato-em-frente-casa-de-jair-bolsonaro-na-zona-oeste-do-rio.html
http://extra.globo.com/noticias/brasil/enquanto-votacao-do-impeachment-acontecia-bolsonaro-era-batizado-em-israel-19287802.html
http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/catolicos-serao-ultrapassados-por-evangelicos-ate-2040
https://pando.com/2013/08/05/infographic-what-countries-host-the-most-porn/
https://www.lifesitenews.com/news/u.s.-street-preacher-arrested-in-london-for-using-homophobic-language
http://www.ebc.com.br/noticias/politica/2016/05/eduardo-bolsonaro-apresenta-projeto-de-lei-que-criminaliza-apologia-ao
https://padrepauloricardo.org/blog/pais-sao-presos-por-nao-aceitarem-ideologia-de-genero
http://www.ebc.com.br/noticias/politica/2016/05/eduardo-bolsonaro-apresenta-projeto-de-lei-que-criminaliza-apologia-ao
http://www.brasilpost.com.br/2016/05/26/bolsonaro-comunismo_n_10145932.html

http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/bad-bad-server/bolsonaro-e-batizado-no-rio-jordao-por-pastor-everaldo-e-rende-piadas-na-internet-assista/

sábado, 28 de maio de 2016

Indicação de leitura - Recordações do Escrivão Isaías Caminha.


Foto – Capa do livro “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, de Lima Barreto.
Como temos visto na crise política que tem flagelado o Brasil desde o início do segundo governo Dilma, a grande mídia corporativa, em conluio com a República de Curitiba, tem desempenhado papel importantíssimo e decisivo, agindo como se fosse um verdadeiro partido político não oficial e promovendo uma verdadeira guerra de informações contra o governo estabelecido em Brasília, chegando ao ponto de nas denúncias e delações da Operação Lava Jato ter feita muita fanfarra em cima das denúncias feitas em cima dos políticos petistas, mas ao mesmo blindou políticos de outros partidos como o PSDB (a exemplo de Aécio Neves) e o DEM.
Isso em grande parte se deve ao fato de que Lula e Dilma nada fizeram nesses anos todos no sentido de criar contrapontos a essa grande mídia. Muito pelo contrário, Lula e companhia limitada fizeram grandes investimentos na mídia de massa (segundo artigo do DCM, cerca de R$ 6 bilhões foram investidos na Rede Globo pelo próprio governo federal entre 2003 a 2013) ao mesmo tempo em que pouca ou nenhuma atenção deu à mídia alternativa, muito menos criaram uma versão tupiniquim da Ley de Medios (lei essa que agora o atual presidente Mauricio Macri de tudo está fazendo para reverter) ou do programa “Alô, Presidente” criado por Hugo Chávez na Venezuela (o mesmo Chávez que em 2007 caçou a concessão da RCTV, espécie de Globo venezuelana). Ou mesmo o que Vargas, em seu segundo mandato (1951 – 1954), fez quando criou o jornal Última Hora. Isso é algo que em um momento como o atual, em que o Partido dos Trabalhadores se encontra sob o escrutínio público levado a cabo pelo conluio judiciário-midiático, muita falta faz. Fazendo uma analogia, isso é como um organismo que não tem os anticorpos necessários para combater eficazmente uma moléstia. E disso a República de Curitiba, diga-se de passagem, muito bem se aproveitou. Se nada for feito para ao menos contrabalancear o poder da mídia de massa, essa continuará a manufaturar ad eternum a opinião das pessoas (em especial dos setores mais abastados) em favor de seus interesses e daqueles aos quais são favoráveis contra governos de cunho mais popular e o povão continuará agindo como uma manada raivosa, histérica e acéfala em manifestações como a do dia 13 de março de 2016 e nos periódicos panelaços que acontecem nos dias de programa eleitoral do partido de Lula, Dilma, José Dirceu, José Genoíno, Mercadante e companhia limitada.
E, diga-se de passagem, essa não foi a primeira vez que a mídia de massa assim descaradamente atuou: foi assim em 1954 contra Getúlio Vargas, em 1964 contra João Goulart, com Leonel Brizola (lembremo-nos do episódio ocorrido em 1994 do direito de resposta à Rede Globo que foi lido por Cid Moreira em rede nacional durante o Jornal Nacional) e com Enéas Carneiro ao longo de suas respectivas carreiras políticas, entre tantos outros exemplos que aqui podem ser listados. Internacionalmente, vemos a presença desse mesmo comportamento da parte da mídia de massa no Chile durante o governo Allende (1970 – 1973), onde a agitação golpista que levou Pinochet ao poder contou com o apoio de uma campanha midiática encabeçada pelo El Mercurio (espécie de equivalente chileno da Globo), como também no malogrado golpe contra Hugo Chávez em 2002, onde as quatro emissoras principais do país suspenderam sua programação habitual e em seu lugar o encheram de anúncios contra o governo, que incitavam à sabotagem da economia. Também era noticiado aos quatro ventos fatos mentirosos contra o presidente, entre eles a insinuação de uma suposta ligação com o Hezbollah e o de que teria renunciado a seu cargo (coisa que ele, mesmo preso por militares, não assinou), assim como a sabotagem a canais governistas. Hoje em dia, a agitação golpista contra a Venezuela bolivariana conta com o apoio de uma campanha midiática internacional que segundo o presidente Nicolás Maduro gira em torno daquilo que ele chama de eixo Madrid-Bogotá-Miami que conspira contra sua pátria. No caso específico russo, o sociólogo e historiador Andreï Fursov diz que há uma guerra midiática global contra a Rússia levada a cabo pela elite capitalista global (dai que vem a má imagem que o país euroasiático tem na cabeça de muitas pessoas). A situação é tal que o presidente boliviano Evo Morales, em entrevista concedida à tv cubana em março desse ano, disse que o atual recuo da esquerda na América Latina se deve em parte ao despreparo da parte dos governos progressistas em enfrentar a guerra midiática (que foi fundamental para que ele fosse vencido no plebiscito sobre a possibilidade de seu terceiro mandato).
Ao mesmo tempo, essa mesma grande mídia apoiou o golpe de 1964 (segundo o artigo de Gilberto Felisberto Vasconcellos na Revista Caros Amigos nº230, um dos motivos do golpe contra Jango foi instituir o monopólio midiático de forma a impedir a educação política do povo) e em seguida o regime dele originário, em 1989 apoiou a candidatura de Fernando Collor de Mello contra Brizola e Lula (e depois que o político alagoano se tornou presidente se desfez dele durante seu processo de impeachment), aplaudiu Fernando Henrique Cardoso e a vergonhosa privataria[1] tucana, entre tantas outras coisas que aqui podem ser listadas. E é essa mesma grande mídia que em nível de política internacional demoniza líderes como Hugo Chávez, Fidel Castro, Evo Morales, Mamhoud Ahmadinejad[2], Bashar al-Assad, Muammar al-Kadaffi, Vladimir Putin, Aleksandr Lukashenko e outros, não raro os chamando de ditadores e adjetivações similares (isso ao mesmo tempo em que fecha os olhos, por exemplo, para os 11 anos de Merkel na Alemanha até agora e os 10 anos de Tony Blair na Inglaterra).
Ante isso, resolvi ler o livro “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, de Lima Barreto, o qual satiriza com a imprensa da época, mostrando seus bastidores e suas panelas internas. O próprio Lima Barreto, diga-se de passagem, trabalhou na imprensa durante alguns anos de sua vida, no jornal o Correio da Manhã, mas devido à publicação de seu primeiro romance e as contundentes críticas nele feitas a Edmundo Bittencourt, o então proprietário do jornal (que no romance recebe o nome de O Globo), ele se tornou persona non grata nos meios jornalísticos cariocas.
Natural do Rio de Janeiro e nascido no dia 13 de maio de 1881, Afonso Henriques de Lima Barreto, mestiço e filho de pai tipógrafo e mãe professora, é considerado como um dos mais importantes escritores brasileiros do século XX. Quando completou seis anos de idade, perdeu sua mãe, e seu pai (que era monarquista) teve que trabalhar muito para sustentar seus quatro filhos. Lima Barreto estudou no Colégio Pedro II durante o curso secundário e fez o curso de Engenharia da Escola Politécnica, o qual abandonou para trabalhar e sustentar a família, já que seu pai foi internado, vitimado pela loucura. Passou a trabalhar como escrevente copista na Secretaria de Guerra (cargo esse do qual se aposentou em 1918), e para aumentar seu orçamento escrevia periodicamente textos para os jornais e revistas cariocas (entre elas Brás Cubas, Fon-Fon e Careta).
Como mostra em suas obras, Lima Barreto (que devido ao fato de ser mestiço sofreu com o problema do racismo e da discriminação) foi o crítico mais ácido do período da Primeira República Brasileira (1889 – 1930), e sua obra é dotada de uma temática social onde se privilegia os pobres, os boêmios e os arruinados. Denuncia as mazelas da época, entre elas a desigualdade social e o racismo sofrido pelos negros e mestiços. Devido a seu estilo despojado e coloquial (o qual influenciou o modernismo anos mais tarde), foi duramente criticado por escritores contemporâneos. E isso certamente pouco ou nada agradou ao establishment literário da época, elitista por excelência e imerso naquilo que Nildo Ouriques chama de “figurino francês”. Ao fim de sua vida, teve problemas relacionados à depressão e foi internado duas vezes na Colônia de Alienados na Praia Vermelha (1914 e 1918), por causa das alucinações decorrentes da embriaguez. Faleceu em 1º de novembro de 1922, aos 41 anos, vítima de colapso cardíaco. Seu corpo foi enterrado no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Apenas postumamente o escritor carioca recebeu o devido reconhecimento que deveria ter tido em vida.

Foto – Busto de Lima Barreto no Rio de Janeiro.
Escrito originalmente por volta de 1905 e publicado pela primeira vez em 1909, “Recordações do Escrivão Isaías Caminha” foi o primeiro romance do escritor carioca, o qual posteriormente publicou também “Triste fim de Policarpo Quaresma” (1911) e “Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá” (1919), além de outros trabalhos como “O homem que sabia javanês” (1911) e “Os Bruzundangas” (1922; publicação póstuma). Para quem for ler o livro, há a presença (dependendo da edição; a que eu tenho foi impressa pela Gráfica Editora Limitada em 1949) de algumas expressões mais usadas no português de Portugal, entre elas “chapéu de chuva” (guarda-chuva), “chusma” (multidão) e “cousa” (coisa). Isso se deve ao fato de o livro ter sido originalmente publicado em Lisboa no ano de 1909. Esse era um expediente muito utilizado pelos escritores da época, o que Lima Barreto acabou fazendo após a falência da revista Floreal (que só teve quatro edições). As mais renomadas editoras, entre elas a Garnier, só publicava obras de autores consagrados ou escritores novatos apresentados por um intelectual ilustre. O que significava ter que bajular algum medalhão da literatura. Além disso, vemos palavras como ele, esse, aquele e outras acentuadas com acento circunflexo, e palavras como rapidamente com acento grave (muito utilizado até hoje no francês e no italiano, assim como para representar o quarto tom na escrita pinyin do mandarim). Devido às várias reformas ortográficas pela qual o idioma português passou (1907, 1911, 1943, 1945 e 1990), esses usos foram abolidos com o passar do tempo.
O romance mostra a história de Isaías Caminha, um garoto interiorano, que após se formar no curso secundário (o colegial de hoje), resolve tentar a vida no Rio de Janeiro para fazer-se doutor. Entretanto, chegando a então capital federal, ele se encontra ante os vários percalços da vida (muitos deles impostos por terceiros) e acaba encontrando emprego em um jornal carioca. Esse romance e os outros de Lima Barreto foram escritos no período chamado de Belle Époque[3] tupiniquim, onde as classes dominantes brasileiras adotavam os modismos vindos da Europa (em especial da França) e ao mesmo tempo olhavam com desprezo o Brasil negro e mestiço ao qual Lima Barreto pertencia (parafraseando Aleksandr Dugin[4], essas elites tinham e até hoje tem uma orientação atlantista, de frente para o mar e de costas para o Brasil profundo e a América Latina). E o próprio Lima Barreto, diga-se de passagem, foi uma das poucas vozes na literatura brasileira da época que destoou desse modo de pensar cosmopolita do mundo Belle Époque, onde os literatos geralmente escreviam para o agrado da elite carioca e com seus olhos voltados para a Europa, em especial Paris. Na época de seu lançamento, o romance foi bem aceito pelo público, mas o mesmo não se verificou com a imprensa da época. Talvez percebendo o que Lima Barreto queria (causar grande polêmica e escândalo), não deu atenção ao livro e a crítica especializou lhe fez poucas menções. Nada muito diferente, por exemplo, da indiferença total e tumular da mídia de massa brasileira atual quanto ao lançamento do livro “A Privataria Tucana”, de Amaury Ribeiro Júnior.
Três passagens do livro me chamaram muito a atenção, dada sua atualidade:
“...A imprensa, que quadrilha! Fiquem vocês sabendo que, se o Barbarroxa ressuscitasse, agora com os nossos velozes cruzadores e formidáveis couraçados, só poderia dar plena expansão à sua atividade se se fizesse jornalista. Nada há tão parecido como o pirata antigo e o jornalista moderno; a mesma fraqueza de meios, servida por uma coragem de salteador; conhecimentos elementares do instrumento de que lançam mão e um olhar seguro, uma adivinhação, um faro para achar a prêsa e uma insensibilidade, uma ausência de senso moral a toda a prova...E assim dominam tudo, aterram, fazem que tôdas as manifestações de nossa vida coletiva dependam do assentimento e da sua aprovação... Todos nós temos que nos submeter a eles, adulá-los, chama-los gênios, embora intimamente os sintamos ignorantes, parvos, imorais e bêstas... Só se é geômetra com o seu placet, só se é calista com a sua confirmação e se o sol nasce é porque êles afirmam tal cousa... E como eles aproveitam esse poder que lhes dá a fatal estupidez das multidões! Fazem de imbecis gênios, de gênios imbecis; trabalham para a seleção das mediocridades, de modo que...” (páginas 131-132).
E por um acaso a imprensa (que o Doutor Enéas comumente chamava de podre e outros adjetivos similares e que Bautista Vidal descreveu como uma máquina terrível que condiciona o pensamento das pessoas e que mente, distorce e vende ideias falsas e destrói a autoestima do povo brasileiro) mudou, passados já 11 décadas de quando Lima Barreto escreveu seu primeiro romance? Pode ter tido algumas mudanças superficiais em relação à virada do século XIX para o XX, mas em sua essência continua a mesma da época de Lima Barreto. Quanto ao fato de a imprensa ajudar a promover imbecis a gênios e gênios a imbecis, vale ressaltar que em entrevista concedida ao Jornal O Diário do Povo em cinco de agosto de 1996, César Lattes disse que o físico inglês Stephen Hawking apenas era famoso na imprensa, não tendo conceituação no meio científico.
“Era a Imprensa, a Onipotente Imprensa, o quarto poder fora da Constituição!” (página 162).
E o que é pior, um quarto poder que, diferente do Poder Moderador dos tempos do Império (1822 – 1889), não se assume enquanto tal e que na prática também é um partido político (o que lhe confere o apelido de PIG [Partido da Imprensa Golpista]). Aliás, vale ressaltar que recentemente Paulo Henrique Amorim lançou um livro intitulado “O Quarto Poder: uma outra história”, falando justamente a respeito da mídia de massa brasileira e sua influência nefasta perante a população. É um poder que, diferente do que muitos ingenuamente pensam, não é nem um pouco neutro e acima dos conflitos de classes sociais. Acima de tudo, a mídia e seus oligopólios representam os interesses das classes dominantes, sendo junto com outros órgãos como o judiciário e os tribunais parte de sua estrutura de poder. Dentro da luta de classes, ela está do lado do andar de cima e não do povo como um todo.
“As vociferações da minha gazeta tinham produzido o necessário resultado. Aquêle repetir diário em longos artigos solenes de que o govêrno era desonesto e desejava oprimir o povo, que aquêle projeto visava enriquecer um sindicato de fabricantes de calçado, que atentava contra a liberdade individual, que se devia correr a chicote tais administradores, tudo isso tinha-se encrostado nos espíritos e a irritação alastrava com a violência de uma epidemia” (página 240).
E isso é o que vimos nos últimos acontecimentos no Brasil: um golpe de estado (e dessa vez não tendo mais militares fardados como seus executores, e sim agentes da policial federal, juízes e promotores reacionários) que antes de tudo foi antecedido por uma guerra de informações promovida pela grande mídia, onde o PT e seus aliados foram transformados em verdadeiros bodes expiatórios da corrupção brasileira (onde eram ocultados ao público a corrupção de outros partidos, assim a eterna ocultação da hemorragia de dinheiro que o país perde todo ano com os pagamentos dos juros e amortizações do serviço das dívidas interna e externa. Ou seja, aquilo que Brizola em vida chamava de perdas internacionais), culpados pela má situação econômica do país (que em parte foi causada pelas ações da República de Curitiba) e que fez sua costumeira lobotomia na cabeça das pessoas. O resultado está aí para todos nós vermos: o povão se comportamento como uma manada histérica, acéfala e irracional nessas manifestações verde-amarelo onde coisas como intervenção militar constitucional para tirar os petistas do Palácio do Planalto eram pedidas e bordões como “minha bandeira jamais será vermelha” repetidos como se fossem mantras. E agora que o Partido dos Trabalhadores foi alijado do poder (ainda que não em definitivo), esses elementos, que ficaram raivosos com a nomeação de Lula como ministro-chefe da Casa Civil, não falam nada sobre o ministério de Michel Temer, repleto de pessoas envolvidas em casos de corrupção.
Por fim, fica aqui minha indicação da leitura desse livro (de prosa envolvente, arrebatadora e de leitura agradável, que mesmo tendo sido escrito há 11 décadas continua atualíssimo) aos leitores do blog Resistência Terceiromundista, assim como meu tributo ao grande Lima Barreto e sua obra imortal.

Foto – Afonso Henriques de Lima Barreto (1881 – 1922).
Fontes:
Afonso Henriques de Lima Barreto. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/biografias/afonso-henriques-de-lima-barreto.htm
Andreï Fursov – As Guerras Informativas (Partes 1 e 2, Legendado) (em russo com legendas em português). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Nw_8JAYqsTs
Caros Amigos. Nº 230. São Paulo: Casa Amarela, 2016. Página 9.
Doutor Enéas – “A imprensa podre me chamou de nazista e fascista”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VE8IGalI_04
Emiliano José analisa o quarto (1º) poder. Disponível em: http://www.conversaafiada.com.br/brasil/emiliano-jose-analisa-o-quarto-1deg-poder
Entrevista com César Lattes em 05/08/1996 no Jornal Diário do Povo. Disponível em: http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/entrevista-cesar-lattes-fala
Especial PRONA – Doutor Enéas – Parte 7/8. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=rDTQEaD-hNg
Macri disuelve a la AFSCA y amenaza con anular Ley de Medios (em espanhol). Disponível em:
Maduro dice hay un eje Madrid-Bogotá-Miami de conspiración contra Venezuela (em español). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=o6_-KbGXK74
Por que o governo coloca tanto dinheiro na Rede Globo? Disponível em: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/sobre-os-gastos-de-publicidade-do-governo/
Privatización y Privatería (em espanhol). Disponível em:
http://www.bppcolor.info/?p=6487


[1] O termo privataria é um neologismo que une as palavras privatização e pirataria. Foi criado pelo jornalista brasileiro Hélio Gaspari e popularizado pelo também jornalista Amaury Ribeiro (autor do livro “A Privataria Tucana”, sobre as falcatruas do processo de privatização no Brasil durante o governo Fernando Henrique Cardoso [1995 – 2002]).
[2] Leia-se “Arrmadinedjad”, pois no persa, assim como no árabe, no inglês, no japonês e outros idiomas, a partícula j tem valor de dj.
[3] Leia-se “Êpoque”, pois no francês, assim como no espanhol, a partícula é tem o mesmo valor do ê no português.
[4] Leia-se “Duguin”, pois no russo, tal qual em idiomas como o alemão, o polonês, o húngaro, o mongol e o japonês, o som da partícula g não muda em função da vogal seguinte como nas línguas latinas e no inglês.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Os 300 da Suécia (ou como trocar o importante pelo irrelevante)


Por Marcus Valério XR

Como negligenciar todo um contexto político cultural quando um certo Movimento de Resistência Nórdica de teor nacionalista faz uma passeata no dia 1° de maio, Dia do Trabalhador, na Suécia, com o emblemático contingente de 300 homens engravatados, cuja ideologia vem fortalecida após uma nova política de restrição de fronteiras para deter a entrada de imigrantes médio orientais?
Simples: focar toda a importância num gestinho simbólico pífio de absoluta irrelevância que nem a própria autora levou a sério! O quase imperceptível protesto da obscura ativista negra Tess Asplund, que sequer irei linkar aqui porque 100% de todas as notícias em português e a maioria esmagadora das em inglês ou espanhol que tocam no assunto o descrevem como 'O Heróico ato de uma mulher negra que "desafiou" um movimento nazista'. De um perspicaz fotógrafo, tentou-se divulgá-la como um ícone histórico de resistência à opressão, apesar de ter durado exatos 4 segundos onde sequer reduziu o passo da marcha, não proferiu palavra alguma e logo foi removida, e protegida, pela polícia, e um companheiro branco que se limitou a "dar o dedo", e sem os quais certamente ela sequer teria tido coragem de se aproximar da manifestação que seguiu adiante ignorando-a por completo.


Este breve vídeo mostra tudo o que há para ser visto atestando a total nulidade do ato, enquanto a maioria dos outros, editados, tentam fazer o ocorrido parecer mais relevante do que é. E mais: a própria autora se mostrou não apenas surpresa com a repercussão da foto, mas até mesmo assustada com a possibilidade de uma hipotética retaliação. Em suas próprias palavras: "Estou em choque. Os nazistas são muito agressivos, então eu estou um pouco 'Que merda, talvez eu não devesse ter feito isso, eu quero paz e sossego.' Esses caras são grandes e loucos.", disse a ativista de 1,60m e 50kg, lutando para manter a calma.1
Ela não deveria se preocupar, ninguém entre os membros do movimento nacionalista em questão parecem ter dado a mínima para ela, que evidentemente não tem nem de longe a "coragem" que a mídia está tentando lhe imputar em seu esforço de obscurecer qualquer informação relevante sobre o ocorrido, limitando-se a não apenas dizer que os manifestantes são 'nazistas', o que seria apenas substantivação, mas a chamá-los de 'nazistas', o que se torna adjetivação da versão aparentemente menos infantil de dizer que algum movimento é 'do mal'.
Quem quiser conhecer alguma coisa sobre o acontecido, onde os manifestantes ostentavam o cartaz "Luta contra os Grandes Financistas e os Traidores do Povo", não pode contar com a web em português. Vai ter que se virar. Mas vou fazer um breve e rápido trabalho do tipo que toda nossa praticamente inútil mídia virtual achou por bem dispensar.

Movimento de Resistência Nórdica é uma organização assumidamente Nacional-Socialista fundada em 1997 que opera na Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia, resultante de dissidências e desmembramento de organizações anteriores, muitas delas com membros criminalizados. Hoje, no entanto, atingiu o estatuto de partido político, já tendo elegido seu primeiro e único representante entre os 290 municípios suecos. Apesar dessa representatividade insignificante, boa parte da ideologia do partido está espelhada no do partido dos Democratas Suecos, de teor conservador, nacionalista e resistente à União Europeia, que já detém nada menos 14% do parlamento sueco e 10% da representação sueca de 20 membros no Parlamento Europeu. 2

Previsivelmente, o Site oficial do MRN o tem tradução para outros idiomas que não o sueco, o que seria de se esperar de um movimento étnico pouco amigável a estrangeiros que não os demais nórdicos, lembrando que seus idiomas, especialmente sueco, norueguês e dinamarquês, são bastante parecidos, sendo em geral inteligíveis entre si.
Neste breve vídeo da manifestação, pode-se ter uma visão melhor da passeata, que brada basicamente pela restrição a entrada de imigrantes não nórdicos, especialmente muçulmanos, pela rejeição ao sionismo, capitalismo financista e liberalismo em geral, lembrando que ao mesmo tempo, nacionalistas também são anticomunistas. Devido à dificuldade de encontrar material que não em idioma nórdico, esse depoimento antissionista de 2012, em espanhol, de um dos membros da organização, pode ser bastante útil para detalhar melhor a mentalidade por trás do movimento.
Trata-se do mesmo grupo envolvido em controversa ocorrência na estação central de trem de Estocolmo. Grupos nacionalistas e conservadores descreveram com um ato pacífico de divulgação e panfletagem com algumas manifestações acaloradas, e a mídia liberal e progressista como um ato de violência contra mulheres e crianças imigrantes. A absoluta ausência de imagens de qualquer agressão num mundo bigbrotheriano repleto de câmeras, bem como a total ausência sequer de fotos de feridos, laudos médicos, boletins policiais ou mesmo depoimentos, fala a favor de um lado.
No link Swedish far-Right mob attacks migrants in central Stockholm in wake of social worker murder há praticamente o único vídeo relevante do caso, onde pode-se ver a segurança ameaçando alguém que não se sabe ser um imigrante ou um dos manifestantes, enquanto as legendas do vídeo dizem, "isso parece aquilo" e "aquilo parece isso". 
Mas agora, deixando de lado especulações e desinformações, vamos aos fatos. 
A imigração em questão interessa aos grandes empresários e ao setor financista, visto implicar em mão de obra barata, o meio mais rápido, direto e fácil de baixar os custos de produção e consequentemente aumentar lucros. As meras "mãos invisíveis do mercado" favoreceriam a movimentação de trabalhadores menos exigentes dispostos a trabalhar mais por menos, para alegria dos liberais. Ainda que "mãos invisíveis" também sejam responsáveis pelas más condições de vida de determinadas regiões do globo, submetidas a séculos de colonização e exploração violenta dos mesmos países que hoje falam em liberdade, e de onde saem essas populações dispostas a pegar de volta um pouco daquilo que as metrópoles, direta ou indiretamente, lhes expropriaram. Isso quando o que se vê não sejam exércitos com armamentos de última geração, incluindo "aviões invisíveis", destruindo a já precária infraestrutura de regiões que se tornam insuportáveis gerando migrações em massa, dentro da qual aproveitadores e manipuladores infiltram toda sorte de espiões, baderneiros e terroristas.
Uma Esquerda decente de legítimo teor trabalhista deveria receber esses imigrantes, fiscalizá-los e sindicalizá-los, descartando, claro, os mal-intencionados, garantindo aos trabalhadores estrangeiros os mesmos direitos trabalhistas e equipará-los à mão de obra nativa. Isso impediria que os imigrantes, pelas precárias condições de vida, formassem guetos no país que os recebe, evitaria desemprego expressivo entre a mão de obra nativa, e desencorajar a migração, trocaria a grande quantidade de trabalhadores imigrantes por maior qualidade dos que em menor quantidade emigrassem.
Mas a Suécia é o expoente mundial no processo corruptor que despojou a Esquerda de toda sua dimensão econômica para transformá-la no pior tipo de neoesquerdismo feminista, LGBTT, racialista, abortista, vitimista e hipócrita até não restar nem mais um pingo da Luta de Classes original e toda ela passar a servir ao mesmo poder econômico que finge combater. E ainda que boa parte disso se deva ao fato da Escandinávia ter atingido tamanho padrão de vida que fica difícil outra coisa que não decair, lembremos que ela foi escolhida como o maior laboratório social mundial para experiências liberais que foram da total desregulação sexual para a mais restritiva afetação puritana típicas da esquizofrenia feminista.3 Visto que a cultura nórdica parece desde sempre receptiva a tais noções como já o apontava o viajante árabe e erudito muçulmano Ahmad ibn Fadlan, no Século X. Bem como na mesma época outro estudante muçulmano, o viajante persa Ahmad ibn Rustah, destacou a grande receptividade dos nórdicos a estrangeiros. 4
Os nacionalistas, incluindo os que ainda insistem no paradoxal conceito de 'nacional-socialismo', que são considerados Extrema-Direita apesar de serem absolutamente hostis ao grande Capital, encarnam o tradicional papel belicoso de defesa étnica e territorial que se é o responsável histórico por toda força de uma população e o fundamento de qualquer civilização, também é, nessa modalidade, obsoleto diante da força dos Estados Nacionais cooptados pelo Capital Transnacional. E esse papel de resistência costuma ser feito sem a sofisticação necessária para afastar o estigma de xenofobia e truculência, mesmo quando não é o caso, minimizando possíveis alianças com abordagens tão corajosas quanto, mas mais articuladas e que sabem focar no verdadeiro inimigo, que não é o pobre trabalhador imigrante, e sim as elites econômicas que a todos exploram.
Resultado: Vitória dos mesmos Grandes Financistas e Traidores do Povo, que controlando o Estado por meio dos partidos, conseguem pela esquerda corrompida e vendida ao interesse elitista mal disfarçado, taxar qualquer reação nativa de nazista, racista, fascista, machista e todos os adjetivos rotulantes cuja principal função é paralisar o pensamento e disparar reações pavlovianas que jamais permitirão a apreensão do possível conteúdo por trás deles. Bem como, pela direita corrompida pelo interesse elitista explícito, cooptar à justificada rejeição ao neoesquerdismo corrupto para engrossar as hostes dos que deveriam defender a tradição mas passam a defender o direito irrestrito do poder econômico em explorar ainda mais os trabalhadores.
Em suma, as elites bancárias e empresariais, em grande parte sionistas, manipulam a tudo pela farsa de uma "luta" entre o Liberalismo Econômico, à direita, e seu irmão de sangue Liberalismo Cultural, à esquerda, que corrói o poder de mobilização dos trabalhadores pela substituição da pauta econômica pelas pautas separatistas de raça, sexualidade e principalmente gênero, que também tem como função principal reduzir as taxas reprodutivas.
Somente o pensamento varonil jovial pode se iludir ao ponto de achar que a defesa de uma nação pode ser feita apenas pelos braços armados masculinos. Se para cada um daqueles 300 houver uma mulher disposta a gerar ao menos 3 descendentes, então eu apostaria que se trata de uma resposta séria e promissora no sentido de preservação étnica de um nicho populacional já bastante reduzido. Mas se estivermos falando de um bando de solteirões ou mesmo maridos cujas esposas trocam a família pela carreira em corporações privadas e estatais a serviço da mesma elite financista supracitada, então tal reação não passa de um espasmo final de desespero de uma cultura moribunda e sem chance de se reerguer.
Pois além de esmagada pela totalidade do poderio econômico, estatal e midiático, ainda estaria sendo vítima da maior de todas as armas de destruição populacional em massa já inventadas, o genocídio lento e silencioso da erradicação populacional por não reprodução.
No máximo, o que resta aos simbólicos 300 é relembrar o papel dos antigos espartanos no desfiladeira das Termópilas (que hoje são tidos como heróis, mas eram mais xenófobos e truculentos do que qualquer nazista jamais sonharia ser) diante do poderio colossal combinado do Grande Capital, do Sionismo Bancário Transnacional, do Estado vendido, e aos muitos milhões de imigrantes, especialmente muçulmanos, que ainda pretendem invadir o país.
Mas esse papel de Leônidas, a grande mídia, controlada pelas mesmíssimas forças supracitadas, já reservou à "brava" ativista negra (devidamente protegida por homens em câmeras e armas) que realizou um gesto de absoluta insignificância a não ser para quem quer distorcer por completo toda a realidade e apresentar o tabuleiro de desiguais forças completamente invertido.

NOTAS:
1. Tradução minha de citação em inglês em “Woman who defied 300 neo-Nazis at Swedish rally speaks of anger”.

2. O Partido dos Democratas Suecos, fundado em 1988, saiu da obscuridade a partir de 2010, quando finalmente conseguiu representatividade para adentrar o parlamento do país, passando a crescer continuamente em reflexo a uma reação popular cada maior às políticas neoesquerdistas dominantes na Suécia. Hoje é o terceiro maior partido do país, com 49 parlamentares eleitos. Já o Parlamento Europeu é composto de 754 membros, 20 sendo suecos dos quais dois são do referido partido. Em conjunto com outros partidos de naipe ideológico similar, o nacionalismo ganha expressiva força na política da União Europeia, inclusive apresentando muitas vezes o que é chamado deeuroscptism, uma forte descrença, crítica ou mesmo rejeição à ideia de União Europeia. Ainda assim são menos numerosos que os Liberais de Esquerda ou de Direta.

3. Embora pouco divulgado, muito se fala na Suécia como uma cobaia para experiências sociais, especialmente feministas, exatamente por sua já histórica tendência a igualdade de gênero. Desde breves artigos como “MARRIAGE AND FAMILY: Swedish social laboratory's disastrous legacy”, a livros como “The Social Laboratory”, “the Middle Way and the Swedish Model: three frames for the image of Sweden”, bem como o artigo sobre o livro “A Brief Story of Swedish Sex: How the nation that give us free love redefined rape and declare war on Julian Assange”.


4. Os artigos da wikipedia sobre Ahmad ibn Fadlan e Ahmad ibn Rustah são bastante informativos. Mas no primeiro caso o texto “Among the Norse Tribes: The Remarkable Account of Ibn Fadlan” é bem mais detalhado. Ahmad Idn Fadlan foi romanceado pelo escritor de Ficção Científica Michael Crichton na obra Os Devoradores de Mortos, que como grande parte das obras deste escritor foi transformada no filme O 13º Guerreiro, no qual foi interpretado por Antonio Banderas.

Texto originalmente publicado em:



terça-feira, 24 de maio de 2016

As imprecisões de Maro Filósofo, parte 2 - A verdadeira história e o real caráter do regime civil-militar (1964 - 1985), parte 2.


Foto – João Goulart ao lado de sua esposa, Maria Thereza, no comício da Central do Brasil.
No dia 21 de abril de 2016, Maro Filósofo postou mais um vídeo relativo ao período do regime civil-militar no Brasil, intitulado “Quem são os verdadeiros torturadores?”. Esse vídeo em questão foi postado no embalo da dedicatória feita por Bolsonaro ao Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra durante a votação do impeachment da presidente Dilma na Câmara dos Deputados. E, tal qual no vídeo analisado na primeira parte, é repetida a mesma análise tacanha e rasteira que resume o período a uma mera disputa de poder entre esquerda e direita, assim como uma série de lacunas, meias-verdades, mentiras e imprecisões a respeito do assunto em questão são ditas no decorrer dos 747 segundos do vídeo. E quais são elas?
Maro começa dizendo que a esquerda brasileira sofre com problemas de recalque, uma frustração histórica cujas raízes remontam ao golpe civil-militar de 1964 e repetindo a ladainha dita no vídeo anterior de que a esquerda queria dar o golpe e que o que os militares fizeram foi um contragolpe. Em seguida, fala sobre os grupos de luta armada que se organizaram em grupos guerrilheiros e se insurgiram contra o governo civil-militar estabelecido em Brasília (o qual, por seu turno, ele disse que veio para salvaguardar a democracia).  Mas o que falar dos militares que desde o ocaso do primeiro governo Vargas (1930 – 1945) vinham fazendo agitações golpistas e que antes de 1964 tentaram sem sucesso tomar o poder em 1954 (frustrada pelo suicídio de Vargas) e 1961 (frustrada pela Campanha da Legalidade liderada por Leonel Brizola)?
Ele disse também que a pálida democracia que hoje temos no Brasil se deve ao fato de que os militares reprimiram as ações desses grupos de esquerda, do contrário as terras tupiniquins teriam se transformado em uma Cuba continental. A primeira afirmação não é de toda errônea, ainda mais levando em consideração que a democracia hoje vigente no Brasil se apoia sobre o mesmo tripé de poder por trás do trono presidencial sobre o qual o regime militar se apoiava: latifúndio, poder econômico baseado na Avenida Paulista e capital multinacional. Como já dito na primeira parte, o que houve em 1985 foi apenas uma mudança de regime político e nada mais. Os militares saíram do poder, mas não os atores civis do golpe que desde 1964 passaram a mandar no Brasil por trás das cortinas do poder.
Por volta de 1:20, ele disse que João Goulart tinha a intenção de implantar o comunismo no Brasil e que a esquerda vive negando esse fato, pois a produção historiográfica brasileira tem um direcionamento ideológico esquerdista por ser feita por gente de esquerda e não de acordo com a verdade histórica (como se obras como “A Verdade Sufocada” do Coronel Brilhante Ustra também não tenham seu direcionamento ideológico, só que com sinal invertido). Entretanto, segundo o youtuber direitista, essas visões de esquerda vêm sendo destruídas devido ao fato de o povo brasileiro estar vendo nos políticos que hoje estão em Brasília a verdadeira face da esquerda.
Primeiramente deve-se dizer que João Goulart almejava, em realidade, implantar as reformas de base, sobre as quais já falamos na primeira parte e que incluíam uma série de pautas até hoje muito necessárias ao país, entre elas a reforma agrária, o controle da emissão dos lucros das multinacionais aqui estabelecidas, reforma urbana e outras. Caso essas reformas fossem levadas adiante, os privilégios da classe dominante nacional e seus sócios estrangeiros aqui estabelecidos iriam cair como um castelo de cartas. E essas, as quais tinham (e até hoje tem) o poder midiático em suas mãos e se valendo de think thanks como o IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) e o IPES (Instituo de Pesquisas e Estudos Sociais), criaram todo um clima de histeria coletiva (onde Jango era taxado de comunista e que ele queria transformar o Brasil em uma nova Cuba) que no fim acabou levando ao golpe de 1964. Na contramão do que Jango estava fazendo na década de 1960, Lula, Dilma e companhia limitada nesses anos todos em momento algum mexeram com os privilégios dessa mesma classe dominante, e isso, junto com a conjuntura econômica internacional favorável, explica as águas mansas dos governos petistas. E, falando em Cuba, há de se ressaltar que a própria Revolução de 1959 que derrubou o regime de Fulgencio[1] Batista inicialmente não intentava implantar um regime de orientação marxista na ilha caribenha. Tinha uma orientação mais nacionalista e reformista, tal qual o governo João Goulart aqui no Brasil. Entretanto, a hostilidade e o boicote econômico dos Estados Unidos contra Cuba fez Fidel Castro se alinhar ao bloco soviético.
Segundo, que esquerda é essa que esse tempo todo governou muito mais para os banqueiros (que nos governos Lula e Dilma tiveram lucros estratosféricos), os barões do agronegócio (vulgo latifundiários) e os empresários da Avenida Paulista que para os camponeses destituídos de terra, os retirantes do sertão nordestino e/ou os moradores das favelas do Rio de Janeiro? Essa questão da corrupção que periodicamente aparece no noticiário é irrelevante para nós (não que não tenha que ser combatida. Pelo contrário). Muito mais relevante é o fato de que o PT, em nome da governabilidade, deixou de fazer nesse todo tempo coisas como, por exemplo, reforma agrária, regulação da mídia, auditoria da dívida pública, diminuição da taxa de juros, reversão da privataria[2] dos anos Collor e FHC e outras tantas pautas (muitas das quais defendidas pelos próprios petistas antes de assumirem o poder). Pode ter certeza que caso Lula, ao invés de ter feito a política de conciliação de classes que fez ao longo de seu governo (política essa que, ante a atual crise econômica mundial, a classe dominante nacional não quer mais saber), resolvesse desde o início tirar da gaveta as reformas de base de Jango e adotado uma política de enfrentamento com o andar de cima já teria tido clima para tirá-lo do poder através de agitação golpista desde os primeiros dias de seu governo.
E terceiro, que resistência essa esquerda pode oferecer a essa onda de reabilitação do regime civil-militar brasileiro promovida por gente como Jair Bolsonaro e Marco Antônio Villa (o mesmo Villa que na mídia de massa é um dos que vociferam a favor do impeachment de Dilma) só batendo na tecla dos torturados e mortos do período e postando fotos de vítimas da repressão em redes sociais como o Facebook e sem tocar na ferida do papel da classe dominante e do capital multinacional aqui estabelecido, assim como a questão da Guerra Fria e o temor dos Estados Unidos de que o exemplo cubano alastrasse para outras partes da América Latina, ainda mais em um país de importância estratégica para Washington, assim como do fato de que Jango com as reformas de base estava fazendo algo que nem mesmo Lula ousou fazer em seus anos de governo (e isso a despeito de sua altíssima popularidade entre a população brasileira)? Com esse discurso tacanho e moralista que não toca na ferida do problema nenhuma resistência efetiva poderá oferecer. É a mesma coisa que condenar a agitação golpista contra Dilma Rousseff sem falar de suas conexões internacionais.
Por volta de 2:30, ele fala que Ustra dizia que a esquerda ainda em 1961 mandava militantes para países como Cuba, União Soviética e China para fazerem treinamento de guerrilha. Grande coisa esses militantes de esquerda em questão fazerem treinamento de guerrilha nos citados países. O que dizer, por exemplo, dos militares de direita que iam aos Estados Unidos fazer treinamentos anti-guerrilha e cursos de tortura na Escola das Américas (hoje Western Hemisphere Institute for Security Cooperation[3])? Inúmeros ditadores e militares golpistas latino-americanos por lá passaram, muitos dos quais condenados por crimes contra a humanidade. Segundo informações da Wikipédia em espanhol, mais de 60 mil militares e policiais de ao redor de 23 países latino-americanos lá se graduaram, entre eles muitos nomes famosos como os argentinos Leopoldo Galtieri e Jorge Rafael Videla, o atual presidente peruano Ollanta Humala, o boliviano Hugo Banzer, os chilenos Miguel Krassnoff e Manuel Contreras (falecido no ano passado) e o panamenho Manuel Noriega.
Mais adiante, por volta de 4:05, ele afirma que Dilma, José Genoíno, José Dirceu e companhia limitada na época em questão não lutavam para que aqui no Brasil se implantasse uma democracia aos moldes ocidentais (ou como ele mesmo diz, pela liberdade), e sim pela implantação de um regime similar ao soviético ou ao cubano (como ele mesmo diz, um regime totalitário e autoritário), e que são eles que chamam de torturadores qualquer um que pense de forma diferente a deles. No meu entendimento, essa questão é irrelevante, ainda mais levando em consideração que a democracia hoje vigente no Ocidente é, a despeito de sua aparência, uma ditadura, só que do poder econômico, o qual manda na política dos países por trás das cortinas do poder e utilizando os políticos como um biombo para esconder seu poder perante a população, se escondendo através de dicotomias (que muitas vezes discordam sobre questões menores, mas que estão de acordo no essencial) como PT e PSDB no Brasil, Democratas e Republicanos nos Estados Unidos, Partido Social Democrata (partido do ex-premiê Gerhard Schroeder) e Democracia Cristã (partido do ex-premiê Helmut Kohl e da atual premiê Angela[4] Merkel) na Alemanha, Movimento por uma União Popular (partido dos ex-presidentes Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy) e Partido Socialista (partido do atual presidente François[5] Hollande) na França e Conservadores (partido do ex-premiê John Major e do atual premiê David Cameron) e Trabalhistas (partido dos ex-premiês Tony Blair e Gordon Brown) na Inglaterra. E uma ditadura, diga-se de passagem, ainda mais insidiosa e perniciosa, pois não se assume enquanto tal e que engana o povo através de toda uma fraseologia que não corresponde à realidade. Quer dizer, em um país como os Estados Unidos, a Inglaterra ou a França sucessivos governos de diferentes partidos se sucedem no poder, mas os que mandam por trás das cortinas são os mesmos de sempre. Esse tipo de democracia o finado escritor português José Saramago classificou em um discurso proferido em 2008 como “sequestrada, condicionada e amputada”. Sequestrada, condicionada e amputada para atender aos interesses daqueles que estão na copa de Yggdrasil[6] do poder do atual sistema vigente no mundo.

Foto – A verdadeira pirâmide de poder no mundo capitalista em que vivemos.
Por volta de 5:20, refere-se ao fato do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (comandante do DOI-CODI entre 1970 a 1974) ser pintado pela esquerda como torturador e como se fosse “a pior pessoa que já pisou no território brasileiro” e se pergunta se ele é o monstro que a esquerda dele pinta e diz que Bolsonaro é pintado da pior forma possível por ser favorável ao regime civil-militar e defender pessoas como o Coronel Brilhante Ustra (cuja obra, “Verdade Sufocada”, teve sua procura enormemente aumentada depois do polêmico pronunciamento de Bolsonaro). Maro diz que Ustra era uma pessoa que combatia o crime na época e que é hora de se fazer justiça à história brasileira. Ou seja, de se revisar a história do período da história brasileira que vai de 1964 a 1985. Essa sua fala, pelo que ela subentende, nos sugere que ele ignora a existência de obras como “O Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”, de Leandro Narloch, e “Ditadura à Brasileira”, de Marco Antônio Villa, que promovem todo um revisionismo em cima do período do regime civil-militar brasileiro.
Por volta de 7:30, ele fala dos crimes e atos terroristas da esquerda armada da época, tais como sequestros, assassinatos, atentados a bomba e assaltos a bancos. Ações essas que ele diz que a esquerda varre para debaixo do tapete. Pelo visto ele desconhece o fato de que na época a direita também aprontou das suas, a exemplo do atentado a bomba do Riocentro, ocorrido em 30 de abril de 1981, onde se realizava o show comemorativo do Dia do Trabalhador. Esse atentado, ao qual inicialmente foi atribuído a grupos de esquerda, foi uma tentativa de setores mais radicais do governo de convencer os setores mais moderados do governo de que era preciso um novo endurecimento do regime, de modo a paralisar a lenta abertura política que estava em andamento. Ou seja, tratou-se de uma operação de falsa bandeira. E isso para não falar que os militares tinham a seu favor todo o aparato de repressão estatal.
E diz que a esquerda não quer fazer um debate frente a frente com os militares para apresentar a verdade dos fatos sobre o período militar pelo fato de querer apresentar apenas a sua versão, e não a verdade dos fatos (como se os militares também não tivessem a sua versão dos fatos em questão, que certamente é conflitante com a versão dos esquerdistas). Isso é algo irrelevante e que em realidade serve a um único propósito: esconder da população o papel da classe dominante que até hoje manda no país em nome do capital multinacional e de suas conexões internacionais. De nada adiantará punir torturador e/ou guerrilheiro na Comissão da Verdade sem que sejam punidos também os sócios civis dos militares, os quais não raro financiavam seções de tortura e operações de combate a grupos da esquerda armada, como foi o caso da OBAN (Operação Bandeirante), que teve entre seus financiadores o Grupo Ultra, a Ford, GM, Camargo Corrêa, Objetivo, Folha, Amador Aguiar (fundador do grupo Bradesco), entre outros.
Por volta de 10:10, ele diz que Bolsonaro paga o preço por sua sinceridade e por não esconder seus pensamentos. O que Bolsonaro fez recentemente com a homenagem ao coronel Ustra em plena seção da Câmara dos Deputados foi algo bem similar (para não dizer idêntico) ao que foi feito no Chile em novembro de 2011 quando o então prefeito da cidade de Providencia, Cristián Labbé[7], fez uma homenagem a um notório torturador da ditadura chilena, Miguel Krassnoff Martchenko, que foi condenado a 144 anos de prisão devido a seus crimes durante a era Pinochet (1973 – 1990). Como resposta, a homenagem feita a Krassnoff gerou uma grande manifestação de repúdio (chamada no Chile de funa) da parte dos detratores de Krassnoff, Labbé e companhia limitada. O fato é que, para muita gente, Ustra (tal como ocorre com Krassnoff no Chile e tantos outros personagens ligados aos regimes militares latino-americanos) é uma pessoa vista de forma muito negativa por parte significativa da sociedade brasileira devido a seu passado de torturas. Óbvio que isso iria causar essa reação toda. Tanto é que Nando Moura, mesmo sendo favorável ao político carioca, disse que ele cometeu um erro político que pode causar muitos danos à sua imagem pública e prejudicar sua candidatura à presidência da República em 2018 ao fazer essa dedicatória ao Coronel Ustra em plena Câmara dos Deputados.

Foto – Miguel Krassnoff Martchenko (1946).
A respeito do caso da homenagem a Krassnoff, o repórter chileno Nibaldo Mosciatti mencionou que há a sensação entre militares processados e condenados por violações aos direitos humanos de que personagens do mundo civil (os quais se beneficiaram e fizeram fortuna graças às atividades de Krassnoff, Contreras e outros e que após a redemocratização do Chile em 1990 se tornaram importantes empresários e políticos) usaram os fardados para alcançar poder e prestígio e se queixa que os segundos estão pagando o pato. Ou seja, sendo os bodes expiatórios, os bois de piranha[8], da história. O mesmo certamente pode ser dito a respeito de Ustra, Paulo Malhães e os demais torturadores da ditadura brasileira. Até porque do que adianta punir o Ustra sem que se puna também os empresários da FIESP (a mesma FIESP que mais recentemente pedia o impeachment da Dilma e que nos torrou a paciência com seus patos amarelos e seu slogan “não vamos pagar o pato”)? Ou no Chile punir o Krassnoff, o Labbé e o Contreras sem que se puna também uma figura como Agustín Edwards (dono do oligopólio midiático El Mercurio, o equivalente chileno da Rede Globo, que apoiou o golpe de 1973 e o regime de Pinochet)? Verdade seja dita: no Brasil, no Chile e nos demais países latino-americanos onde houve golpes civil-militares, os militares foram instrumentos nas mãos das classes dominantes, da mesma forma com que hoje no Brasil o juiz Moro e a República de Curitiba são os cavalinhos de guerra da mesma classe dominante em seu jogo de poder (e por extensão de seus sócios estrangeiros) e os juízes e parlamentares que levaram à destituição de Manuel Zelaya em Honduras e de Fernando Lugo no Paraguai.
Por volta de 10:30, ele se pergunta quem são os verdadeiros torturadores do Brasil: os militares, as forças armadas, Bolsonaro e os conservadores brasileiros de um lado, ou a esquerda (por supostamente manter e fornecer bilhões a regimes como Cuba e Venezuela, países os quais ele acusa de torturarem todo aquele que não concorda com seus respectivos governantes). Os verdadeiros torturadores do Brasil em realidade é sua classe dominante, que desde os tempos coloniais sempre foi sócia (para não dizer testa-de-ferro) do capital multinacional aqui estabelecido e sempre, em nome de seus negócios com o exterior, prefere entregar o país aos estrangeiros que adotar um projeto nacionalista. E essa mesma classe dominante foi o poder por trás do trono tanto dos militares no período de 1964 a 1985 quanto do petucanato[9] nos dias de hoje serve.

Foto – Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932 – 2015).

Fontes:
“As raízes intelectuais do consórcio PTucano”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Cvi_Jxijcw8
Análisis de Nibaldo Mosciatti sobre homenaje a Krassnoff (em espanhol). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lt3FqmP72wo
Atentado do Riocentro. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Atentado_do_Riocentro
Boi de piranha. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Boi_de_piranha
Brasil: crise financeira ou fiscal? Disponível em:
Coluna do Professor Tim sobre o petucanismo – Timtim por TimTim. Disponível em:
Darcy Ribeiro, sobre a elite brasileira. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SX5O-IAyO38
Funa y Destrucción en Club Providencia por Homenaje a Krassnoff (em espanhol). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eIbC5kyDBOM
Homenagem a ex-repressor da ditadura provoca indignação no Chile. Disponível em: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/18015/homenagem+a+ex-repressor+da+ditadura+provoca+indignacao+no+chile.shtml
Golpe de 64, o golpe contra o último legado getulista. Disponível em: http://lntbrasil.blogspot.com.br/2016/01/golpe-de-64-o-golpe-contra-o-ultimo.html
Instituto del Hemisferio Occidental para la Cooperación en Seguridad (em español). Disponível em: https://es.wikipedia.org/wiki/Instituto_del_Hemisferio_Occidental_para_la_Cooperaci%C3%B3n_en_Seguridad
José Saramago – “onde está, então, a democracia?” Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=LbsV_rP6zY0
Modelo petucano. Disponível em:
O Enguiço das ciências sociais – Gilberto Felisberto Vasconcellos. Disponível em:
O voto do Bolsonaro. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DnOioaZp8sI
Operação Bandeirante. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Opera%C3%A7%C3%A3o_Bandeirante
Privatización y Privatería (em espanhol). Disponível em:
Quem são os verdadeiros torturadores? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=iO4wdRC1oDQ


NOTAS:


[1] Leia-se “Fulrrensio”, pois no espanhol a partícula j e o g quando sucedido por e ou i tem o mesmo valor do h no inglês, do ch no alemão e no polonês e do kh no russo, no árabe, no farsi e no mongol: r aspirado.
[2] O termo privataria é um neologismo que une as palavras privatização e pirataria. Foi criado pelo jornalista brasileiro Hélio Gaspari e popularizado pelo também jornalista Amaury Ribeiro (autor do livro “A Privataria Tucana”, sobre as falcatruas do processo de privatização no Brasil durante o governo Fernando Henrique Cardoso [1995 – 2002]).
[3] Instituto de Cooperação de Segurança do Hemisfério Ocidental, na sigla em inglês.
[4] Leia-se “Anguela”, pois no alemão, tal como em idiomas como o russo, o mongol, o polonês e o japonês, o som da partícula g não muda em função da vogal seguinte tal como nas línguas latinas e no inglês.
[5] Leia-se “Fransuá”, pois no francês a partícula ois tem valor de uá.
[6] A árvore do mundo que liga os nove mundos da mitologia nórdico-germânica (Heilheim, Niflheim, Alfheim, Jotunheim [leia-se “Iotunrraim”], Muspelheim, Svartalfheim, Midgard, Vanaheim e Asgard).
[7] Leia-se “Labbê”, pois no espanhol, assim como no francês, a partícula é se pronuncia da mesma forma que o ê no português.
[8] Termo utilizado no interior do Brasil, para designar um expediente utilizado pelos criadores de gado ao atravessar um rio, onde um boi velho e/ou doente era sacrificado às piranhas para que o resto da manada atravessasse o rio incólume.
[9] Petucanato/Petucanismo é um termo cunhado por Gilberto Felisberto Vasconcellos (e depois utilizado por outros como Nildo Ouriques e Adriano Benayon) para se referir a situação política que o Brasil vive desde 1995 com a alternância de poder entre o PT e o PSDB, dois partidos de programa de governo praticamente igual baseados no modelo neoliberal (incluindo privatizações, terceirização e precarização do Estado), com a diferença que o PT têm um política um pouco mais direcionada para o lado social que o PSDB.