sexta-feira, 15 de abril de 2016

O futuro do Brasil em jogo - Nota sobre o processo de impeachment.


Por Lucas Novaes

Estamos nos aproximando de um dos momentos mais decisivos na história "democrática" deste país. A partir desta sexta-feira, dia 15 de abril de 2016, até o domingo da mesma semana, ocorrerá na câmara de deputados o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Esse processo marca uma acirrada disputa entre as forças governistas, favoráveis a gestão atual do Partido dos Trabalhadores, e os oposicionistas, os quais representam massivamente os interesses do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e também de algumas frações de poder político minoritárias, especialmente localizadas à direita do espectro político nacional.

A hegemonia liberal centro-esquerdista que se manifesta eleitoralmente por meio da popularidade do PT (sobretudo, nas eleições presidenciais) foi construída por meio de um discurso de conciliação de classes e de interesses verticalmente opostos. Isso significa que, de certa forma, os interesses da classe trabalhadora foram atendidos: houve a redução das desigualdes sociais, a inclusão de milhões de brasileiros na classe média e a importância dos sindicatos foi legitimada e valorizada. Na contramão das mudanças, o monopólio da grande imprensa não foi questionado e as elites financeiras ainda mandam e desmandam neste país (estes últimos fatos não tanto por responsabilidade exclusiva do PT como pela fraqueza da esquerda nacional como um todo). Apesar disso, mais de 54 milhões de brasileiros foram as urnas em 2014 mostrar seu desejo pela permanência da atual chefe de estado no poder por mais quatro anos. Principal concorrente do governo, Aécio Neves conseguiu 51 milhões de votos com um discurso raso e que beira a absurdidade (alguém lembra do momento em que o tucano disse que manteria e até ampliaria o bolsa-família?). Boa parte (ou a maioria) dos votos conquistados por Aécio foi atingida mais pelo antipetismo do que por qualquer mérito partidário (ironicamente, foi o tucano que tanto falou em meritocracia durante os debates daquele ano. Onde está a meritocracia no apoio a um partido baseado apenas no ódio ao seu rival?)

O fato de que a oposição nunca esteve tão empenhada em derrubar o atual governo quanto neste segundo mandato de Dilma Rousseff mostra que criar uma harmonização entre os interesses do povo e da elite internacional não é mais o suficiente para se manter no poder. O principal objetivo dos defensores do Impeachment é a eliminação de qualquer ponto fora da curva nos interesses do capital financeiro e dos donos do mundo. O Partido dos Trabalhadores, por mais que tenha passado longe do Socialismo ou do Nacionalismo de esquerda durante seus 14 anos de governabilidade, nunca foi bem visto pela maioria da elite econômica e da comunicação. O debate acerca Dilma ter ou não cometido crimes de responsabilidade fiscal é fundamentalmente secundário e insignificante quando comparado ao que está em jogo. O discurso anti-PT baseado na luta contra a corrupção, alem de hipócrita, também é pautado em certo moralismo burguês com a qual não compartilho. A disputa que ocorre no país é de ordem ideológica e assim deve ser polarizada por ambos os lados.

E SE O GOLPE FOR BEM-SUCEDIDO?

O afastamento de Dilma do poder deve ser apenas a primeira de diversas ações da oposição contra a esquerda principal. O próximo passo seria a cassação dos direitos políticos de Luís Inácio "Lula" da Silva ou prisão do mesmo, visando evitar a possibilidade de mais uma amarga derrota a nível nacional em 2018. Todo o partido do ex-presidente poderia ser posto na ilegalidade e seus apoiadores perseguidos ao mesmo tempo em que sofre um verdadeiro linchamento público da grande mídia, em nome da "segurança nacional" e da "manutenção da ordem".

E SE O GOLPE FALHAR?


Caso isso ocorra, a oposição sairá desmoralizada e os petistas ganharão uma sobrevida no poder. Os ataques aos petistas, porém, não devem parar por aí, sendo necessária a "mobilização permanente". Essa será uma oportunidade para o PT colocar em prática a tão sonhada "guinada á esquerda" e voltar aos seus princípios combativos dos anos 1980 e 1990 pois, hoje, sabemos que o esforço do PT em atrair a classe media liberal para si só causou enfraquecimento ideológico ao partido. O Partido dos Trabalhadores disse "sim" ao Liberalismo, mas o Liberalismo o rejeitou por não ser liberal o suficiente.  Essa relação não recíproca onde um dos lados aceita o rebaixamento moral em nome de sua sustentação não é saudável e deve acabar. Se, com o apoio das massas nas ruas, o governo atual conseguir sobreviver ao próximo domingo, terá então a última chance de justificar sua existência.

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